26- Sábado
- Evangelho - Lc 9,43b-45
O
Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles tinham medo de fazer
perguntas sobre o assunto.
Este
Evangelho narra que, em meio à euforia do povo pelo que Jesus fazia, ele disse
aos discípulos: “O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”.
Jesus
se auto-aplica o título messiânico de “Filho do Homem” (Dn 7,13), que ele
relaciona com a figura do servo sofredor do Senhor. “Mas os discípulos não
compreenderam e tinham medo de perguntar.” Tal era a distância entre essa
afirmação e a expectativa dos discípulos em relação ao Messias, que nem
entendiam essa linguagem de união entre Messias e sofrimento. Jesus fez tudo
para evitar o “escândalo de cruz”, mas não houve jeito. Só em Pentecostes os
discípulos entenderam.
Entretanto,
o fato de ter medo mostra que os discípulos ficavam inseguros ou “perdidos”
quando Jesus falava isso. É a atitude de quem chega perto do mistério, mas não
consegue entrar nele.
Por
incrível que pareça, esse choque de mentalidades entre o pensamento do mundo e
o de Cristo continua até hoje. Quantos ensinamentos de Jesus são totalmente
ignorados pelo mundo pecador. As pessoas conhecem, mas fazem de conta que não
conhecem. Isso em relação ao casamento, à partilha dos bens, ao modo de se
comportar diante de uma agressão etc. O fato de surgirem seitas em toda parte,
criando um “evangelho” diferente do de Jesus, é outra atitude paradoxal do
homem moderno. Todas as seitas são diferentes uma da outra e todas se entendem
como a única verdade de Cristo! Todas têm o seu fundador e data de fundação, e
pensam que foram fundadas por Jesus Cristo!
O
discípulo de Jesus não busca aplausos. Pelo contrário, fica preocupado quando o
mundo pecador o elogia muito, pois a proposta cristã entra em choque com o
mundo.
Quando
nós não entendermos algumas palavras de Jesus, vamos nos lembrar que ele é o
próprio Deus encarnado, portanto é fidedigno. Podemos obedecer os seus
ensinamentos “como se víssemos o invisível”.
O
melhor é não ter medo de fazer perguntas, quando não entendemos alguma coisa da
nossa fé. É trocando conhecimentos e experiências que perseveramos e cresçamos
na vida cristã.
“Caminheiro,
você sabe, não existe caminho. Passo a passo, pouco a pouco, o caminho se faz.”
Ser discípulo de Jesus é caminhar com ele. É no caminho que se aprende,
inclusive nas quedas. É pena que, na hora da cruz, muitos desistem, e outros
procuram atalhos, com o objetivo de evitar a cruz!
Não
é aqui na terra que recebemos retorno pelo bem que fazemos. O discípulo de
Jesus continua pobre, aflito e com fome e sede de justiça. Mas ele ou ela
confia em Deus e vai em frente, vencendo todos os obstáculos.
No
batismo, nós nos tornamos discípulos e discípulas e missionários de Jesus
Cristo. Ali começamos a nossa caminhada, procurando imitar Jesus em tudo.
“Quero conhecer o Cristo e tornar-me semelhante a ele em tudo, até no
sofrimento” (Fl 3,10-11). “Já não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em
mim” (Gl 2,20).
Assim
como Jesus vivia em Comunidade com os Apóstolos, nós queremos viver sempre em
Comunidade. A vida em Comunidade é, muitas vezes, uma cruz, mas nem por isso
vamos abandoná-la. “Todos os que abraçavam a fé viviam unidos e possuíam tudo
em comum” (At 2,44). A vida em Comunidade é, ao mesmo tempo, difícil e bela.
Ela é uma cruz, mas uma doce cruz.
O
que Jesus mais detesta é o discípulo convencido, que pensa já ter chegado à
perfeição cristã. Essas pessoas são as primeiras a ver o cisco no olho do
irmão, sem reparar na trave do próprio olho.
“Tenho
nojo, detesto as vossas celebrações. Quem pediu para pisardes nos meus átrios?
Mãos sujas de sangue!... No dia do juízo, Sodoma e Gomorra terão sorte melhor
que vós!” (Is 1,10-17).
A
melhor atitude do discípulo é jogar-se nas mãos de Deus como uma criança se
joga nos braços da mãe. Cuidar apenas do momento presente, deixando para Deus o
futuro e o passado. Ele nos protege em tudo, inclusive nos indicando o que
devemos falar numa hora difícil. Não perderemos um só fio de cabelo.
Certa
vez, um rapaz universitário, filho único, estava em sua cidade, de férias. Um
dia, ele estava na praça, viu uma briga e foi apartar. Com isso, infelizmente
foi atingido por uma faca e morreu. O assassino foi preso em flagrante. No
julgamento, o moço pegou vários anos de prisão.
Mas
o pai da vítima, que estava presente, pediu a palavra e disse: “Senhoras e
senhores, nós, eu e minha esposa que está aqui ao meu lado, tínhamos um filho
só, o qual amávamos muito. Sua morte deixou em nossa casa uma grande lacuna.
Nós dois gostaríamos de adotar alguém que preenchesse esse vazio e suavizasse a
nossa dor. Resolvemos adotar como filho o próprio rapaz que acaba de ser
julgado. Que ele possa pagar a sua pena morando em nossa casa. É o que
pedimos”.
Todos
os presentes ficaram emocionados diante de tal atitude. Os jurados, unanimemente,
e o juiz, acolheram o pedido, e o casal acolheu, como filho, o assassino do seu
próprio filho!
Dá
até para imaginar o que esses pais pensaram: “Esse rapaz fez isso num momento
de bobeira. No fundo, ele é bom. Quem sabe agora, morando conosco, ele se
emenda”. Acontece que esse tipo de raciocínio vale para qualquer assassino,
qualquer criminoso. Para alguns, a gente vai dizer: “Sim, foi um crime
premeditado. Mas olhe o passado dele. No fundo, ele é bom. O que falta é ser
amado, para que aprenda a amar”. A misericórdia caminha por aí. Ela não é
ingênua, é real e verdadeira.
A
atitude desse casal foi parecida com a de Jesus. Vivendo no meio dessa
sociedade pecadora, os três, Jesus e o casal, tiveram um amor universal. Não
excluíram ninguém do seu amor, nem mesmo pessoas que lhes fizeram um grande
mal. O nosso perdão deve ser completo e de coração.
Na
vida pública de Jesus, quando ele era aclamado, Maria certamente estava ali por
perto, mas não aparecia. Quando Jesus foi humilhado na cruz, ela esta estava em
destaque, de pé, sofrendo junto com ele as humilhações, mas sem odiar ninguém.
Virgem Mãe das Dores, rogai por nós!
O
Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens. Eles tinham medo de fazer
perguntas sobre o assunto.
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