XXVI DOMINGO DO TEMPO COMUM 27/09/2015
1ª Leitura Números 11, 25-29
Salmo 18/19 “A Lei do senhor Deus é perfeita, alegria ao coração”
2ª Leitura Tiago 5, 1-6
Evangelho Marcos 9, 38-43.45.47-48
"NÃO O PROIBAIS!"
Sempre tive um espírito ecumênico, desde a minha infância nos anos
60, quando os ânimos eram muito acirrados entre nós católicos e os cristãos de
outras Igrejas. Meu saudoso Pai, de quem eu herdei o legado da fé e das
virtudes do evangelho, era de linha tradicional e na casa de esquina em que morávamos
na Vila Albertina, quando os irmãos evangélicos nas tardes de domingo vinham
fazer suas reuniões com pregações e hinos, ele nos levava para os fundos do
quintal para que não corrêssemos o risco de nos desviar da fé católica.
Certa ocasião, fui em um culto festivo da Igreja Presbiteriana e
descobri que lá também falavam de Jesus e do seu santo evangelho, e a partir
daí, na minha cabeça comecei a questionar: por que nós os chamávamos de “irmãos
separados”? De 1995 a 2003, coordenei a Dimensão Ecumênica Diocesana a pedido
do Bispo D. José e incentivado pelo Padre João Alfredo. Participei do grupo do
falecido D. Amauri – que coordenou esta dimensão no Regional Sul 1 da CNBB. Com
ele muito aprendi e em nossos encontros anuais em Itaici, que reunia trezentas pessoas
de treze Denominações religiosas diferentes, vivíamos um verdadeiro céu de
comunhão e alegria, amadurecendo assim o meu ideal ecumênico.
Os cristãos mais tradicionalistas, tanto católicos como evangélicos
muitas vezes não vêem com bons olhos o ecumenismo. Os mais fanáticos e radicais
inventam mil e um argumentos para não se “misturarem” com quem não aceita e não
professa as verdades da sua igreja, preferindo ver na pessoa do outro um
inimigo da fé. Quanta falta de caridade e quanta ignorância!
Fechados em suas velharias religiosas não conseguem perceber que a
graça e a Salvação que Jesus nos trouxe, está acima de qualquer doutrina ou
instituição humana. Anunciam um Jesus, que com sua morte e ressurreição fez do
Judeu e do pagão um só homem, entretanto vivem divididos por causa da
intolerância e da crença em um céu particular e exclusivo, que receberão das
mãos do próprio Deus como “prêmio” pela sua virtude e fidelidade. Esbarrei e
convivi com pessoas assim na minha igreja e nas demais que andei visitando,
aliás, há duas coisas que fazem esses cristãos torcerem o nariz: falar sobre
ecumenismo e política! Esse fanatismo religioso já vem do grupo dos discípulos,
que no evangelho desse domingo demonstram indignação ao verem um homem que
pregava e realizava curas em nome de Jesus e o proíbem severamente de continuar
e depois, orgulhosos pelo “feito”, vão informar a Jesus que lhes censura “Quem
não está contra nós, está a nosso favor!”.
Do mesmo modo, na primeira leitura, Josué demonstra-se indignado ao
tomar conhecimento de que dois homens, Eldad e Medad, cujos nomes constavam na
lista, mas que não foram para a reunião da tenda, estavam no acampamento
profetizando porque tinham recebido o espírito que Deus havia derramado sobre
os anciãos. Fez a denúncia a Moisés, que em resposta manifesta o seu desejo de
que todo o povo de Israel profetizasse movido pelo Espírito de Deus, que nunca
foi e jamais será monopólio de ninguém.
Qualquer gesto de aceitação da Boa Nova, ainda que seja apenas um
copo de água fria, não ficará sem recompensa – afirma Jesus, mas dos seus
seguidores ele exige uma atitude radical a favor do bem, da vida e da comunhão
entre as pessoas. As sementes do Reino de Deus foram espalhadas por Cristo em
todas as nações da terra e, portanto, em todas as culturas e línguas temos a
prática do bem. Vivemos em um mundo onde as pessoas se fecham e constroem
barreiras ou abismos em seu redor, para que ninguém se aproxime.
É nesse sentido que podemos escandalizar e levar ao pecado um
desses pequenos, se ao invés de construir pontes, nós cavamos abismos e
levantamos muros da indiferença, da rejeição e do desprezo, até mesmo em nossas
comunidades. Mãos, pés e olhos são essenciais na comunicação com os irmãos, os
pés podem aproximar-se ou tomar distância, as mãos podem se estender em um
gesto de abertura e acolhimento ou fazer um gesto agressivo, os olhos podem
olhar para o outro com um espírito de comunhão ou então de desprezo e frieza.
No pecado da divisão entre os cristãos, todos têm parcela de culpa.
A tentação de olhar para a história e buscar um culpado é sempre
muito forte, mas o passado não nos importa, e sim o que podemos fazer hoje para
eliminar muros e levantar pequenas pontes que unem, pois de cavadores de
abismos e construtores de muros, o mundo já anda infectado. Buscamos o mesmo
Deus, que se manifestou em Jesus e queremos o mesmo céu, que começa a ser
construído aqui, não com divisões, mas na comunhão! Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora
Consolata – Votorantim SP- E-mail cruzsm@uol.com.br )
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