29/09/2015
S. Miguel, S.
Gabriel e S. Rafael, Arcanjos
No
século V, já se celebrava em Roma, a 29 de Setembro, o aniversário da dedicação
de uma basílica em honra do Arcanjo S. Miguel. Depois da reforma litúrgica
recomendada pelo Concílio Vaticano II, acrescentou-se a memória de outros
Arcanjos e de “todas as potências incorpóreas”.
Honrando os Arcanjos,
exaltemos o poder de Deus, Criador do mundo visível e invisível, pois – como
diz o Prefácio da Missa de hoje – “resulta em glória para Vós a honra que
prestamos a eles como criaturas dignas de Vós; e a sua inefável beleza, Vós
mostrais como sois grande e digno de ser amado sobre todas as coisas”. S.
Miguel é um dos padroeiros da Congregação dos Sacerdotes do Coração de Jesus,
Dehonianos.
Lectio
Primeira
leitura: Daniel 7, 9-10.13s.
Eu estava a olhar,
quando foram preparados uns tronos, e um Ancião sentou-se. Branco como a neve
era o seu vestuário, e os cabelos da cabeça eram como de lã pura; o trono era
feito de chamas, com rodas de fogo flamejante. 10Corria um rio de fogo que jorrava da parte da frente
dele. Mil milhares o serviam, dez mil miríades lhe assistiam.O tribunal
reuniu-se em sessão e foram abertos os livros. 11Eu olhava. Por causa do ruído das palavras
arrogantes que o chifre proferia, esse animal foi morto e o seu corpo desfeito
e atirado às chamas do fogo.12Quanto
aos outros animais, também lhes foi tirado o poderio; no entanto, a duração da
sua vida foi-lhes fixada a um tempo e uma data.13Contemplando sempre a visão nocturna, vi aproximar-se,
sobre as nuvens do céu, um ser semelhante a um filho de homem. Avançou até ao
Ancião, diante do qual o conduziram. 14Foram-lhe dadas as soberanias, a glória e a realeza. Todos
os povos, todas as nações e as gentes de todas as línguas o serviram. O seu
império é um império eterno que não passará jamais, e o seu reino nunca será
destruído.
A perícopa que
escutamos hoje é tirada do chamado Apocalipse de Daniel (Capítulos 7-12). Ao
profeta é concedida a visão dos eventos futuros (vv. 1-8) e, sobretudo, a
participação no juízo de Deus sobre eles e sobre toda a história (vv. 9s.).
Para além das aparências, os poderosos deste mundo não são nada; o Senhor é o
único e verdadeiro rei (v. 9s.). Serve-O uma imensa corte de anjos que também O
assiste na realização do seu desígnio. O profeta pode mesmo entrever esse
desígnio: aparece-lhe um “Homem” de origem divina a quem Deus confia a
soberania universal, um poder eterno e o seu próprio reino que as forças do mal
jamais poderão destruir (v. 14). O «Filho do homem» é, pois, o centro e
o fim do projeto de Deus acerca da história. Mas a sua realização – agora
antecipada na profecia - acontecerá no tempo estabelecido e com a cooperação
dos anjos.
Evangelho
João 1, 47-51
Naquele
tempo, Jesus viu Natanael, que vinha ao seu encontro, e disse dele: «Aí
vem um verdadeiro israelita, em quem não há fingimento.»48Disse-lhe Natanael: «Donde me
conheces?» Respondeu-lhe Jesus: «Antes de Filipe te chamar, Eu vi-te quando
estavas debaixo da figueira!» 49Respondeu
Natanael: «Rabi, Tu és o Filho de Deus! Tu és o Rei de Israel!» 50Retorquiu-lhe Jesus: «Tu
crês por Eu te ter dito: ‘Vi-te debaixo da figueira’? Hás-de ver coisas maiores
do que estas!» 51E
acrescentou: «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o Céu aberto e os anjos
de Deus subindo e descendo por meio do Filho do Homem.
Há uma visão da
realidade que vai além da imediata perceção. É o que nos revela Jesus no texto
que escutamos hoje: «Vem e vê», dissera Filipe a Natanael. E Jesus, ao
ver Natanael aproximar-se, exclama: «Vi (à letra) um
israelita…». O seu ver é um conhecimento profundo do homem e da sua
história. É deste ser visto/conhecido que nasce a abertura à fé e a
disponibilidade para o seguimento (v. 49). Só então Jesus pode prometer ao
discípulo a entrada numa visão da realidade semelhante à que Ele mesmo tem: «Maiores
coisas do que estas hás-de ver!» … «Em verdade, em verdade vos digo: vereis o
Céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo pelo Filho do Homem.» (vv.
50s.). O discípulo poderá compreender a imensa profundidade do mistério de
Cristo que abrange o cosmos e dá sentido à história, e a cujo serviço cooperam
miríades de anjos.
O mundo transcendente
de Deus – o céu – está agora aberto: em Jesus, Filho do homem, Deus desce ao
meio dos homens e os homens podem subir até Deus. Os anjos são ministros deste
«admirável comércio», desta inesperada comunhão.
Meditatio
Os anjos são seres
misteriosos. O profeta Daniel também fala deles misteriosamente no texto que
hoje escutamos na primeira leitura. Nós costumamos representá-los como homens
de rosto suave e doce. Mas, na Sagrada Escritura, aparecem, muitas vezes como
seres terríveis, que incutem temor, porque são manifestação do poder e da
santidade de Deus, e nos ajudam a adorá-lo dignamente. Na visão de Daniel, o
mais importante não são os Anjos, mas o “ser semelhante a um filho de homem”
(v. 13), que é introduzido até ao trono de Deus, e a quem são “dadas
soberania, glória e realeza” (v. 14), e a quem “as gentes de todas as
línguas” servem (v. 14).
O evangelho também nos
mostra os Anjos subirem e descerem ao serviço do Filho do homem.
Os Anjos estão,
portanto, ao serviço do Filho do homem, isto é, de Jesus de Nazaré. A nossa
adoração é, pois, dirigida a Deus e ao Filho de Deus.
Todos nós entramos num
projeto sonhado por Deus. Mergulhados num cosmos animado por invisíveis
presenças que, tal como nós, participam no projeto de Deus, somos construtores
de uma história que tem Cristo no centro e no fim. A caminhada avança na luta,
com conflito implacável com as forças do mal que, todavia, jamais poderão
destruir o reino que Deus confiou ao Filho do homem. O combate durará até ao
fim dos tempos, tendo à frente, na primeira linha, os santos anjos de Deus: os
arcanjos, guiados por Miguel, e todas as criaturas espirituais fiéis ao Senhor.
Esta realidade que os
nossos olhos não sabem ver foi-nos revelada para que, pela fé, esperança e
caridade, combatamos o bom combate e apressemos a realização do reino de Deus.
Se oferecermos o nosso humilde contributo, receberemos um olhar interior puro.
Então contemplaremos a Misericórdia que abriu os céus e veio morar entre nós
para nos abrir o caminho para o Pai onde, com os anjos, partilharemos a sua
intimidade. Ele revelou-nos o mistério do homem para que, com os anjos,
aprendemos a ir ao encontro dos irmãos. Introduziu-nos no seu Reino, para que,
tornados voz de todas as criaturas, cantemos eternamente, com o coro angélico,
a glória de Deus.
Oratio
Ó santo arcanjo
Miguel, tão amigo do Coração de Jesus e tão amado por Ele, ajudai-me a fazê-lo
reinar na sociedade e nas almas. Protegei particularmente os amigos e os
apóstolos do Sagrado Coração. Terei gosto em vos invocar muitas vezes durante o
dia, com Maria, José e S. João, para que me leveis ao Coração de Jesus. (Leão
Dehon OSP 4, p. 298s.).
Anjo glorioso, S.
Gabriel, ensinai-me a bem servir a Jesus e a Maria. O que amais, são os homens
de desejo, assim o dissestes a Daniel. Pedi por mim a Jesus e a Maria, para
que eu seja um homem de desejo. Unir-me-ei particularmente a vós para dizer
a Ave Maria, e saudar o Coração de Jesus na sua Incarnação.
(Leão Dehon OSP 3, p. 303).
Arcanjo S. Rafael,
vinde em nossa ajuda nas horas de medo e nas horas de doença. Tomai-nos pela
mão e conduzi-nos pelo caminho certo e seguro da salvação.
Contemplatio
O anjo Gabriel veio a
Nazaré e cumpriu o mistério que tomou o nome da Anunciação. Saudou Maria com
estas palavras celestes que nós chamamos a saudação angélica: Eu vos saúdo, ó
cheia de graça, o Senhor está convosco, bendita sois entre todas as mulheres.
S. Gabriel é o anjo de
Jesus e de Maria, o seu mensageiro, o seu camareiro. É o anjo da redenção, o
anjo do Sagrado Coração… Ensinou-nos a bela saudação a Maria, que repetimos
tantas vezes por dia. Unamo-nos muitas vezes a ele. Digamos com ele a saudação
angélica… Anunciando a incarnação, foi o primeiro a saudar o Sagrado Coração de
Jesus no seio de Maria. (Leão Dehon, OSP 3, p. 302s.)
S. Miguel é o anjo de
Jesus, o anjo da Igreja, e deve ser o anjo do Coração de Jesus, o
porta-estandarte do Sagrado Coração… (Leão Dehon, OSP 4, p 298).
Actio
Repete muitas vezes e
vive hoje a palavra:
«Quem como Deus?»
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S. Miguel, S. Gabriel
e S. Rafael, Arcanjos (29 Setembro)
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