22- Terça - Evangelho - Lc 8,19-21
“Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a mensagem de Deus e a praticam”. Ao declarar que todo aquele que faz a vontade de Deus é a sua família, Jesus não estava renunciando à sua família segundo a carne. Como filho mais velho, ele continuou a cuidar do bem estar da sua mãe. Isto foi comprovado quando, ao dar a sua vida na cruz, ele passou essa responsabilidade ao discípulo a quem ele amava. Simplesmente Jesus define claramente que o parentesco de ordem humana, seja a mãe, os irmãos ou irmãs que ele tinha, não tem qualquer significado no Reino de Deus.
O relacionamento mais próximo
do Senhor Jesus é com o seu Pai, que está nos céus, o próprio Deus Pai. O único
“parentesco” permanente que Ele pode ter é de ordem espiritual – e é com
aqueles que fazem a vontade de Deus. A estes, Ele chama de meus irmãos.
Deixando de lado os laços
sanguíneos, representado pelo parentesco segundo a carne com sua mãe e seus
irmãos, o Senhor Jesus passará agora a ampliar o seu ministério a todos aqueles
que o receberem, sem distinção entre judeus e gentios. Não se dará mais
exclusividade a Israel, devido à sua incredulidade e rejeição.
O relacionamento segundo a
carne passa a ser inteiramente superado por afinidades espirituais. A
obediência a Deus é agora o fator predominante e definitivo para estabelecer
tais afinidades, sem outra distinção qualquer.
O mesmo se aplica a todo aquele
que recebe Cristo como o seu Senhor e Salvador. Ele disse: Se alguém vem a mim
e ama o seu pai, sua mãe, sua mulher, seus filhos, seus irmãos e irmãs, e até
sua própria vida mais do que a mim, não pode ser meu discípulo. Nosso
relacionamento espiritual com Cristo produz um vínculo maior do que nosso
parentesco de sangue.
Um aspecto muito importante que
deve ser esclarecido é sobre os irmãos de Jesus. Há dias uma das assíduas
comentadoras da homilia diária perguntava sobre este aspecto. Os irmãos de
Jesus, como fica claro pelo próprio texto bíblico, eram filhos de Alfeu e sua
esposa, e não de José e Maria. Em diversos lugares o Evangelho fala desses
‘irmãos’. Assim, S. Marcos e S. Lucas referem que ‘estando Jesus a falar,
disse-lhe alguém: eis que estão lá fora tua mãe e teus irmãos que querem
ver-te” (Mt 12, 46-47; Mc 3, 31-32; Lc 8, 19-20; e também em Jo 7, 1-10).
Toda a pessoa que pergunte
sobre os irmãos de Jesus somente revela a sua ignorância da própria Bíblia. Até
porque as línguas hebraica e aramaica não possuem palavras que traduzam o nosso
‘primo’ ou ‘prima’, e serve-se da palavra ‘irmão’ ou ‘irmã’.
Lê-se em Gênesis que ‘Taré era
pai de Abraão e de Harão, e que Harão gerou a Lot (Gn 11, 27) que, por
conseguinte, vinha a ser sobrinho de Abraão. Contudo, no mesmo Gênesis, mais
adiante, chama a Lot ‘irmão de Abraão': “Disse Abraão a Lot: nós somos irmãos”
(Gn 13, 8). Jacó se declara irmão de Labão, quando, na verdade, era filho de
Rebeca, irmã de Labão (Gn 29, 12-15).
No Novo Testamento, fica
claríssimo que os ‘irmãos de Jesus’ não eram filhos de Nossa Senhora. Os supostos
‘irmãos de Jesus’ são indicados por S. Marcos: “Não é este o carpinteiro, filho
de Maria e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão e não estão aqui
conosco suas irmãs?” Tiago e Judas, conforme afirma S. Lucas, eram filhos de
Alfeu e Cléofas: ‘Chamou Tiago, filho de Alfeu… e Judas, irmão de Tiago” (Lc 6,
15-16). E ainda: “Chamou Judas, irmão de Tiago” (Lc 6, 16). Quanto a ‘José’, S.
Mateus diz que é irmão de Tiago: “Entre os quais estava… Maria, mãe de Tiago e
de José (Mt 27, 56). Em S. Mateus se lê: “Estavam ali (no Calvário), a observar
de longe…., Maria Mágdala, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de
Zebedeu”. Essa Maria, mãe de Tiago e José, não é a esposa de S. José, mas de
Cléofas, conforme S. João (19, 25). Era também a irmã de Nossa Senhora, como se
lê em S. João (19, 25): “Estavam junto à Cruz de Jesus sua mãe, a irmã de sua
mãe, Maria (esposa) de Cléofas, e Maria Madalena”. Simão, irmão dos três
outros, ‘Tiago, José e Judas’ são verdadeiramente irmãos entre si, filhos do
mesmo pai e da mesma mãe. Alfeu ou Cléofas é o pai deles.
Da mesma forma, se Nossa
Senhora tivesse outros filhos, ela não teria ficado aos cuidados de S. João
Evangelista, que não era da família, mas com seu filho mais velho, segundo
ordenava a Lei de Moisés. Eis um dilema sem saída para os protestantes, pois os
‘irmãos de Jesus’ são filhos de Maria de Cléofas e Alfeu.
Também decorre uma pergunta:
Por que nunca os Evangelhos chamam os ‘irmãos de Jesus’ de ‘filhos de Maria’ ou
de ‘José’, como fazem em relação à Nosso Senhor? E por que, durante toda a vida
da Sagrada Família, apenas conta-se três membros: Jesus, Maria e José?
Portanto, a própria Sagrada
Escritura demonstra que os supostos ‘irmãos’ de Jesus são seus primos e não
seus irmãos carnais. Sua afirmação de que o trecho de S. Mateus tem duas
passagens, uma referindo-se à filiação carnal e a segunda à filiação espiritual
fica sem sentido, visto que não conferem com o texto bíblico. Até porque o
parentesco de sangue não é sequer mencionado pelos seus irmãos nas cartas que
escreveram e que se encontram no Novo Testamento, indicando que não davam valor
a isso. Ao invés disso, eles se dizem servos de Jesus Cristo.
Pai, que minha condição de
membro da grande família do Reino se expresse no meu modo de proceder. Pela
disposição a amar, quero dar provas de ser teu filho.
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