16º DOMINGO DO TEMPO COMUM 19/07/2015
1ª Leitura Jeremias 23, 1-6
Salmo 22/23”Avossa bondade e misericórdia hão de seguir-me por
todos os dias da minha vida”
2ª Leitura Efésios 2, 13-18
Evangelho Marcos 6, 30-34
"A SÓS COM O SENHOR..."
Sempre ouço uma crítica contundente em nossa
Igreja, de que, “no dia em que Jesus voltar, não vai nos encontrar unidos, mas
reunidos”. Há de fato um excesso de reuniões, as vezes sem pauta e nem assunto
determinado, e o que é pior, sem horário para terminar, onde patina-se em
assuntos pessoais, troca-se muitas farpas, seria necessário refletirmos sobre a
qualidade de nossas reuniões, avaliando-se os resultados. Lembro-me da primeira
vez em que fui convocado para uma reunião na igreja, isso já faz tempo, e senti-me
muito importante, hoje o entusiasmo já não é tanto.
Pelo jeito, os apóstolos também gostavam de uma
reunião, haviam sido enviados em missão, e no evangelho de hoje voltam para
Jesus, querendo fazer uma reunião de avaliação, mas ao que parece, o Mestre não
era muito chegado em reunião, pois assim que os apóstolos começaram a expor o
relatório de tudo o que tinham feito, ele os convidou a irem para um lugar á
parte: “Vamos descansar um pouco em um lugar á parte!” – Prestemos atenção
nesse verbo, “descansar”, que tem muitos significados: descontrair, fazer algo
diferente, jogar um pouco de conversa fora, dar boas risadas de coisas
engraçadas que aconteceram na missão, rir dos próprios erros e enganos “Imagine
Senhor, que eu por engano bati na porta de um ateu, e quando comecei a falar em
teu nome, pensei que o home ia ter um “saracotico”!, fico imaginando o grupo
todo caindo na risada com aquele apóstolo distraído, e Jesus exclamando bem
humorado “Mas você é uma anta mesmo !”, e tome mais risada e até o sisudo Pedro
quase se engasga de tanto rir, e me dirão os extremamente conservadores, que
isso não está no evangelho, e nem precisaria.
Modéstia á parte, nossas reuniões de diáconos da
diocese de Sorocaba, são um pouco assim, as vezes o Dirigente tem que dar um
“breque” para acalmar os faladores e piadistas, e não pensem que os mais idosos
não gostam, até eles fazem rodinhas para contar suas anedotas ou coisas
engraçadas do seu ministério. Faz muito bem a alma, ao coração e à nossa
“psique”, esses momentos de pura alegria por estarmos juntos, e graças a Deus,
nossos irmãos maiores no ministério, os sacerdotes, estão resgatando esses
encontros, com a valiosa ajuda da psicanálise, pois não se conhece arma mais
poderosa do que o isolamento, para destruir por completo uma vocação, agente de
pastoral que se isola dos demais, catequistas, ministros, padres e diáconos,
começou a ficar sozinho, está dando “sopa” para a derrota e o fracasso na sua
vocação, daí vêm certas tristezas, angústias e desvios de conduta, por falta de
apoio.
Na correria dos trabalhos pastorais e ministérios,
é preciso parar de vez em quando, e aqui há outro sentido belíssimo nessa
reflexão, pois, descansar com o Senhor, significa abastecer-se, na intimidade
da oração, no mistério da Eucaristia, onde Deus é um frágil pedacinho de pão,
na palma da minha mão, ou ainda como Maria, irmã de Marta, sentar-se
confortavelmente aos pés do Senhor, para ouvir a sua palavra. De que me adianta
não ter tempo para mais nada, nem para mim mesmo, nem para os amigos, nem para
a família, nem para comer, por conta de uma agenda lotadíssima de compromissos,
se vou aos poucos me distanciando daquilo que é essencial?
O ativismo exacerbado das atividades pastorais e
ministeriais, começa a nos fazer sentir que somos Donos do Reino e da igreja,
querendo nos colocar no centro das atenções, quando na verdade apenas
trabalhamos para o Mestre Jesus, é ele quem nos envia, quem nos confia a
missão, é, portanto, ele, que no “intervalo” do jogo, como fazem os técnicos de
futebol, irá nos dar as instruções, fazer as correções necessárias, mostrando-nos
a melhor estratégia para sermos bem-sucedidos na missão.
Não tenho nenhuma dúvida que, sem essa intimidade
dos bastidores, com Nosso Senhor, retirados em um lugar á parte, sem essa
descontração com o grupo todo, que solidifica a amizade e o carinho entre os
membros, qualificando as relações pessoais, corre-se o risco de estressar-se
diante do volume de trabalho a ser feito na comunidade e na evangelização fora
da Igreja, a multidão que temos que servir é muito grande, as pessoas buscam
desesperadamente algo que o cristianismo tem de sobra, que é a esperança,
presente na palavra da qual somos portadores, mas é perigoso esse “corre-corre”
nos tornar insensíveis a dor, ao sofrimento e as necessidades das pessoas,
tornando-nos profissionais da palavra, realizando trabalhos belíssimos e ações
arrojadas, mas não movidos por essa COMPAIXÃO, que Jesus tem pelas pessoas que
o procuram, mas apenas levados por nossos interesses mesquinhos, pela nossa
vaidade, prepotência e arrogância, manifestando de vez em quando o nosso mau
humor e azedume naquilo que fazemos, e de Agentes de Pastoral ou ministros da
igreja, com essa característica, longe de atrair as pessoas, como o Mestre
fazia, as vezes é melhor manter a devida distância, porque nunca se sabe em que
hora que o “Rei ou a Rainha da Cocada”, vai dar o seu terrível “coice”, que
magoa, machuca e gera tantas divisões e intrigas na comunidade, perdendo de
vista a compaixão, vivida por Jesus. (Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa
Senhora Consolata – Votorantim SP –E-mail cruzsm@uol.com.br)
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