17º DOMINGO DO TEMPO COMUM 26/07/2015
1ª Leitura 2Reis 4,42-44
Salmo 144/145”Basta abrirdes as mãos, para saciar com benevolência
todos os viventes”
2ª Leitura Efésios 4, 1-6
Evangelho João 6, 1-15
"JESUS, O PÃO DOS POBRES"
Convoquei meu grupo de “teólogos” para refletir
esse evangelho da multiplicação dos pães, pois com o evangelista João, todo
cuidado é pouco, já que o seu escrito é rebuscado e nem sempre o ensinamento é
o que parece. O “Mota”, que é aposentado na área administrativa e auxilia a
nossa secretaria, abriu um enorme sorriso quando viu o texto “Está na cara que
Jesus faz uma dura crítica ao capitalismo, é preciso repartir o pouco que se
tem, para matar a fome de todos, sempre soube que esse Jesus é dos nossos…”
concluiu Mota, que defende de unhas e dentes o socialismo, e briga quando se
fala sobre a CEBs. Neste momento, o João Ernesto que trabalha de encarregado em
uma grande empresa, balançou a cabeça e respondeu “Olhe, se for prá discutir
nessa visão, eu desisto, o Mota pensa que só ele sabe de tudo”. Calma
pessoal... Não vamos censurar o Mota, pois esse evangelho realmente nos faz a
olhar questão da fome, e se não tocarmos nesse ponto, estaremos sendo omissos -
comentei, tentando apaziguar os ânimos dos debatedores que começaram bastante
exaltados.
Em uma visão bem simples, parece que o evangelho
ensina que Jesus estando por perto, ninguém vai passar fome. “Ué, mas não é
isso? Tinha só cinco pães e dois peixes, não ia dar nem pro cheiro, daí Jesus
deu a bênção e mandou servir, todos comeram a vontade e ainda sobrou...” –
exclamou Maneco, ao que Dona Maria, a doméstica, aparteou “Gente, isso me
lembra um ditado popular, o pouco com Deus é muito, mas o muito sem Deus é
nada”.
“Vocês ficam brabos quando eu falo em CEBs, mas é
um trabalho onde se valoriza muito a partilha e a comunhão de vida, exatamente
como Jesus ensinou. ” – Retrucou Mota com mais calma, sem intenção de disparar
farpas.
“Eu sei Mota, todos aqui sabem disso, mas é que
você fala como se a CEBs representasse a salvação do mundo, e isso não é
verdade” respondeu Roseli, nossa catequista, que continuou “A CEBs é uma
eclesiologia, uma maneira de ver as coisas, mas não é a única, no cristianismo
existe uma essência que é o eixo de tudo, perguntemos, por exemplo, qual a
missão de Jesus entre nós, será que foi para resolver o problema da fome que
ele veio? E se foi, por que não resolveu? ”
Roseli é muito inteligente e sabe como provocar o
grupo, um rei que tivesse o poder de multiplicar os alimentos e saciar a fome
de uma multidão, estava de bom tamanho para aquele povo, aliás, no final do
evangelho é exatamente isso que quiseram fazer, mas Jesus “pulou fora”. A Salvação
que ele oferece não se restringe a deixar o homem com a “barriga cheia”,
saciado da fome material. É muito mais que isso!
“Mas a vida plena que ele veio nos dar, como diz
em João, supõe o homem em sua totalidade, inclusive com suas necessidades
vitais onde a fome é uma delas” - argumentou Mota. “Está certo, mas temos
outras necessidades que não se encontram por aí em supermercados, como os
alimentos.”. - retrucou Roseli.
“Esse João é um danado, escreveu uma coisa, mas
no fundo está querendo dizer outra” – comentou o Maneco em sua simplicidade,
acertando na “mosca”. Os milagres narrados por João são “iscas” para nos
convencer de algo que está por trás de cada um deles.
O homem sempre terá necessidade de algo que lhe é
essencial, e que somente Jesus de Nazaré poderá lhe oferecer .Todos os
problemas humanos, consequentes do pecado, poderão de fato ser resolvidos, se o
homem se dispuser a receber a Salvação que Jesus oferece, então é exatamente
nesse sentido que está o ensinamento da multiplicação dos pães e peixes, Jesus
apresenta o problema, Filipe alega que não têm recursos para resolvê-lo, o
irmão de Simão Pedro diz que há um recurso, mas que ele é insuficiente em
relação as necessidades da multidão. Na vida em comunidade acabamos sendo
influenciados pela sociedade consumista que se move a partir do valor
econômico, onde sempre é preciso ter “muito” para poder ser feliz, se esse
conceito fosse verdadeiro, apenas uma minoria da população, considerada rica,
seria feliz, mas sabemos que ao contrário, há pessoas pobres, muito felizes com
a v ida que têm, enquanto por outro lado, há ricos infelizes, que as vezes
recorrem até ao suicídio, insatisfeitos com o que são e têm. Isso mostra o
quanto tal premissa é enganosa e falsa.
O acúmulo de bens financeiros e patrimoniais nas
mãos de poucos, é no fundo uma tremenda ilusão, primeiro porque alimentam a
mentira de que, com o dinheiro e a riqueza a gente tem tudo, e em segundo,
porque da noite para o dia toda essa fortuna pode ir água abaixo se mal
administrada, basta ver os grandes impérios econômicos que ruíram, e no demais,
no final da vida, o rico irá descobrir que a morte o espera, para separá-lo
eternamente de todos os seus bens, daí toda a sua riqueza de nada valerá.
Já os que são saciados pelo amor de Deus, manifestado
na salvação que Jesus traz, podem esperar muito mais, os doze cestos que
sobraram prenunciam a vida plena do novo povo de Deus, que se tornará perene
-no exato momento em que, ao término da existência terrena, tudo parece ser um
trágico fim. Sou então obrigado a concordar com a Dona Maria, que nos dizia lá
no início da reflexão “O pouco com Deus é muito, e ainda sobra para a vida nova
que Jesus nos deu, mas o “muito” que esta vida nos oferece, é nada, se a
humanidade teimar em menosprezar a Salvação, da qual somente Jesus, o Filho de
Deus, é portador. (Diácono José da Cruz – Paróquia Nossa Senhora Consolata –
Votorantim SP – E-mail cruzsm@uol.com.br)
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