25/07/2015
S. Tiago, Apóstolo
S.
Tiago, chamado “o Maior”, para se distinguir de outro apóstolo do mesmo nome,
era filho de Zebedeu e de Salomé, e irmão de S. João Evangelista (cf. Mc 15,
40; Mt 27, 56). Com ele, e com Pedro, fez parte do grupo dos primeiros três
discípulos de Jesus, o grupo mais íntimo, que acompanhou o Senhor na
Transfiguração e na Agonia. Figura proeminente da igreja, Tiago foi preso em
Jerusalém, por ordem de Herodes Agripa, sendo o primeiro apóstolo a derramar o
seu sangue, em testemunho da sua fé, nos dias da Páscoa (cf. At 12, 1-3), por
volta do ano 44. O seu culto desenvolveu-se notavelmente em Compostela que,
desde a Idade Média, se tornou um dos centros de peregrinação mais concorridos,
em todo o mundo.
Lectio
Primeira
leitura: Segunda Coríntios 4, 7-15
Irmãos: Nós trazemos
este tesouro em vasos de barro, para que se veja que este extraordinário poder
é de Deus e não é nosso. 8Em
tudo somos atribulados, mas não esmagados; confundidos, mas não desesperados; 9perseguidos, mas não
abandonados; abatidos, mas não aniquilados. 10Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus,
para que também a vida de Jesus seja manifesta no nosso corpo. 11Estando ainda vivos,
estamos continuamente expostos à morte por causa de Jesus, para que a vida de
Jesus seja manifesta também na nossa carne mortal. 12Assim, em nós opera a morte, e em vós a vida. 13Animados do mesmo
espírito de fé, conforme o que está escrito: Acreditei e por isso falei, também
nós acreditamos e por isso falamos, 14sabendo
que aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos há-de ressuscitar com
Jesus, e nos fará comparecer diante dele junto de vós. 15E tudo isto faço por
vós, para que a graça, multiplicando-se na comunidade, faça aumentar a acção de
graças, para a glória de Deus.
A liturgia aplica
literalmente ao apóstolo Tiago o que Paulo diz a partir da sua própria
experiência: “Trazemos sempre no nosso corpo a morte de Jesus” (10ª). Há uma
mensagem que começa em Jesus, passa de Jesus a Paulo, de Paulo a Tiago e assim
sucessivamente, ao longo da história, formando uma corrente de testemunhas, ou
melhor, de “mártires” no sentido próprio do termo. Quem recebe a graça de derramar
o sangue por amor de Cristo e dos irmãos, pode dizer, com verdade, que leva em
si a morte de Cristo. Mas também o pode dizer quem vive serenamente a
radicalidade evangélica no seu dia-a-dia. A Palavra do “mártir” é significativa
e eficaz porque, à eloquência da palavra, junta a do sangue derramado.
Evangelho:
Mateus 20, 20-28
Naquele tempo,
aproximou-se de Jesus a mãe dos filhos de Zebedeu, com os seus filhos, e
prostrou-se diante dele para lhe fazer um pedido. 21«Que queres?» - perguntou-lhe Ele. Ela respondeu:
«Ordena que estes meus dois filhos se sentem um à tua direita e o outro à tua
esquerda, no teu Reino.» 22Jesus
retorquiu: «Não sabeis o que pedis. Podeis beber o cálice que Eu estou para
beber?» Eles responderam: «Podemos.» 23Jesus replicou-lhes: «Na verdade, bebereis o meu
cálice; mas, o sentar-se à minha direita ou à minha esquerda não me pertence a
mim concedê-lo: é para quem meu Pai o tem reservado.» 24Ouvindo isto, os outros
dez ficaram indignados com os dois irmãos. 25Jesus chamou-os e disse-lhes: «Sabeis que os chefes
das nações as governam como seus senhores, e que os grandes exercem sobre elas
o seu poder. 26Não
seja assim entre vós. Pelo contrário, quem entre vós quiser fazer-se grande,
seja o vosso servo; e 27quem
no meio de vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo. 28Também o Filho do Homem
não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para resgatar a
multidão.»
Mateus parece usar de
uma fina ironia ao narrar o episódio que hoje escutamos. Facilmente desculpamos
a mãe, que, como tal, quere o melhor para os filhos. Mas já não somos tão
compreensivos para com os dois irmãos que, sem pensar muito, se declaram prontos
a beber o cálice com Jesus. Mas Jesus, muito ao seu jeito, transformando a
hipótese em profecia, prediz, efetivamente, a morte que Tiago irá padecer por
causa da sua radical fidelidade ao Mestre e ao Evangelho. Ao mesmo tempo,
aproveita para dar uma lição de humildade útil a todos, também outros apóstolos
irritados e desdenhosos.
Meditatio
Partimos, hoje, de uma
afirmação de Jesus que nos permite penetrar no seu coração, conhecer as suas
disposições mais profundas: “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas
para servir e dar a sua vida para resgatar a multidão” (v. 28). Jesus tem
consciência de ser o Filho imolado por amor, para redenção dos irmãos. Vive
conscientemente e decididamente a espiritualidade do Servo de Javé, a
espiritualidade do Cordeiro imolado. E não fica por belas palavras ou ideais
meramente românticos. A sua espiritualidade “vitimal” ou, se preferirmos,
“oblativa” até à imolação concretiza-se no “serviço” vivido no total
despojamento de si mesmo e em plena confiança no Pai. É o Servo de Deus, mas
também o servo “de muitos”, isto é, de todos aqueles que o Pai lhe confiou como
irmãos, oprimidos pelo pecado mas abertos ao dom da libertação. Recebeu das
mãos do Pai o cálice da paixão, e bebeu-o até à última gota, até à morte de cruz,
entregando-se confiadamente nas mãos do Pai.
Os Apóstolos também
“beberam o cálice do Senhor, e tornaram-se amigos de Deus”, como diz a antífona
da comunhão da festa de S. Tiago inspirada em Mt 20, 22-23. Foi esta a glória
dos Apóstolos, e concretamente a de Tiago, que esperava outra bem diferente,
quando decidiu seguir Jesus. Quem está com Jesus só pode aspirar a uma glória
semelhante à d´Ele: a de participar na sua cruz, nos seus sofrimentos, em
profunda união com Ele, em favor de muitos.
Oratio
Senhor Jesus, tu és o
Filho de Deus Pai que vives e manifestas a tua submissão numa total
disponibilidade. Tu és a Palavra que ilumina o nosso caminho: o que dizes vale
para ti e vale para nós, e para todos os que livremente te escolheram como
Senhor e Mestre. Viveste o teu martírio em todos os momentos da tua vida na
terra. Quem te conhece sabe que, para ti, ser servo significa viver tudo por
Deus e tudo pelos irmãos. É a “lei real”, de que fala na sua carta, o teu
apóstolo Tiago. Enche-me do teu Espírito, para toda a minha vida se torne uma
oblação santa e agradável ao Pai, pelos homens. Ámen.
Contemplatio
Tiago e João, Pedro e
André eram muito afetuosos, muito amigos para com Nosso senhor, sobretudo os
três primeiros. Eram os discípulos do Sagrado Coração, os amigos de Jesus. Por
isso, Nosso Senhor os tinha sempre junto de si. Eram os seus íntimos, os seus
confidentes. Muitas vezes os tomava à parte e lhes dava uma confiança que não
dava aos outros. Para a ressurreição da filha de Jairo, a exclusão dos outros é
fortemente assinalada no Evangelho. S. Marcos diz: «Jesus não permitiu a nenhum
dos seus discípulos que o seguisse, exceto Pedro, Tiago e João, irmão de
Tiago». S. Lucas diz: «Não permitiu a ninguém entrar na casa com os pais,
exceto Pedro, Tiago e João» (8, 51). Para a transfiguração, S. Mateus (17, 2) e
S. Marcos (9, 1) dizem-nos: Jesus tomou à parte Pedro, Tiago e João, sozinhos
consigo, e levou-os à montanha para rezar. O privilégio é ainda acentuado. No
repouso do Monte das Oliveiras, diante de Jerusalém, da qual Nosso Senhor
predisse a destruição, tem alguns privilegiados sentados junto de si. E era sem
dúvida normalmente assim. Estes tinham os seus segredos. Interrogavam-no em
segredo, secretamente, diz S. Mateus (24, 4) à parte,separadamente,
diz S. Marcos (13, 3); mas quem eram estes quatro privilegiados? S. Marcos
dá-nos os seus nomes. Era Pedro, Tiago, João e André. Na Ceia, Pedro, João e
Tiago estavam sentados junto de Jesus. Se eu pudesse pelo meu amor e pela minha
fidelidade merecer ser um verdadeiro discípulo do Sagrado Coração! Para o
Getsémani, S. Mateus (26, 36) e S. Marcos (14, 33) dizem-nos: «Jesus deixou os
seus discípulos à entrada do jardim, mas tomou consigo Pedro, Tiago e João». Os
outros não estavam suficientemente formados para suportarem sem escândalo o
espetáculo da agonia, mas estes três fizeram um melhor noviciado, foram tão
dóceis e tão afetuosos! (L. Dehon, OSP 3, p. 311-312).
Actio
Repete muitas vezes e
vive hoje a palavra:
“Beberam o cálice do
Senhor, e tornaram-se amigos de Deus”
(antífona da comunhão
da festa de S. Tiago).
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S.
Tiago, Apóstolo (25 Julho)
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