1ª Leitura 1Jo 4, 19- 5,4
Salmo 71 (72) “Preciosa será
sua vida ante os olhos do Senhor”
Evangelho Lucas 4, 14-22
“A
PALAVRA ENCARNADA”
Ao visitar Nazaré,
cidade onde havia se criado, Jesus foi participar de uma celebração na sua
comunidade, onde sempre fazia uma leitura e depois ajudava o povo a refletir,
como fazem hoje nossos ministros leigos, que celebram a Palavra.
Podemos até imaginar a
alegria do chefe da sinagoga quando viu Jesus chegar, ele era muito querido na
comunidade, não só por ser uma pessoa simples, mas porque falava muito bem e
demonstrava uma sabedoria superior aos sacerdotes, escribas e fariseus, sua
catequese era bem prática e logo cativava. Por isso, ao vê-lo entrar na
comunidade, o chefe da sinagoga foi logo pedindo para que ele fizesse uma
leitura, porque parece que, como acontece me nossas comunidades, naquele dia o
leitor escalado não apareceu.
Jesus escolheu o livro
do profeta Isaias que era o seu preferido, porque já o havia lido várias vezes
e tinha a nítida impressão de que o texto falava dele.
Conforme Lucas que
escreveu este evangelho de maneira ordenada e após muito estudo, por este tempo
Jesus estava iniciando o seu ministério, já havia sido batizado e enfrentara
com muita coragem o diabo, que no deserto tentou desviá-lo da sua missão.
A verdade é que Jesus
tinha uma grande vontade de sair pelo mundo, ajudando as pessoas e falando de
uma coisa que sentia em seu coração, foi com certeza por isso que naquele dia
voltou à comunidade, e quando já no ambão, começou a ler o profeta Isaias, na
passagem onde diz “O Espírito do senhor está sobre mim, porque ele me consagrou
com a unção para levar a Boa notícia aos pobres, anunciar a libertação aos
cativos e aos cegos e anunciar um ano de graças do Senhor”, seu coração começou
a bater mais forte, percebeu que Deus não apenas falava para ele, mas falava
dele, da sua vida, da sua história e da sua missão. Ele já havia sentido muito
forte a presença desse Espírito de Deus no dia do seu batismo, e no confronto
com o diabo no deserto, sentiu toda a força que o espírito lhe dava.
Nessa celebração as
coisas ficaram muitas claras para ele: a libertação com que tanto sonhava junto
com seu povo, ia muito além de uma libertação política, a palavra tinha a força
de libertar o homem também e principalmente do mal que havia no coração, e que
impedia de amar a Deus e aos irmãos. A opressão e a escravidão do seu povo era
conseqüência de todo esse mal que havia dentro de cada homem, não só dos
opressores. Precisava dizer isso aos pobres, aos cegos e oprimidos, que um
tempo novo estava começando, com essa verdade que o Pai revelara através do
profeta.
Todos olhavam
fixamente para ele à espera da homilia, o mesmo espírito que o havia ungido
acabara de transformá-lo na palavra Viva de Deus e por isso, sentando-se como
faziam os grandes Mestres, disse: “Hoje se cumpriu essa passagem que acabastes
de ouvir”
Também nós cristãos
freqüentamos a celebração da palavra em nossas comunidades onde as leituras,
mais do que falar para nós falam de nós, pois a história de Jesus é a nossa
história, também nós recebemos a graça de Deus em nosso batismo, também nós
recebemos a unção do Espírito Santo, não para termos ataques de histeria e
entrarmos em transe, mas para termos a mesma coragem de Jesus para cumprir a
nossa missão, anunciar a boa notícia aos pobres, oferecer a palavra libertadora
a quem está cego e cativo, e falar de um tempo novo onde Deus manifesta todo o
seu amor ao homem que o busca.
Para que haja essa
interação entre nós e a palavra, é necessário que nossas celebrações sejam bem
participadas e preparadas, de maneira bem organizada pensando em todos os
detalhes e aí podemos apreender com o escriba Esdras que na primeira leitura
nos oferece um ótimo roteiro para celebração da palavra de Deus, onde a
assembléia, tocada pela palavra, corresponde com gestos que manifestam o que
está no coração, diferente da liturgia do “oba-oba”, muito usada para se atrair
multidões, e que ás vezes, com tantos gestos e movimentos, acaba ficando vazia
justamente por não ser uma manifestação espontânea do que se tem no coração
tocado pela palavra de Deus.
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