28 de Janeiro - Quarta
- Evangelho - Mc 4,1-20
O semeador saiu a semear.
Neste Evangelho, Jesus nos conta a parábola do semeador. O texto
tem quatro partes: 1ª) Uma introdução do evangelista, dizendo que Jesus estava
ensinando na praia, acorreu uma multidão tão grande que ele teve de subir em um
barco. 2ª) A proclamação da parábola. 3ª) Respondendo a uma pergunta, Jesus
explica por que fala em parábolas. 4ª) Explicação da parábola do semeador.
A parábola explica por que agora, dois mil e dez anos após a vinda
de Jesus, o mundo ainda está tão distante do seu Evangelho: guerras,
violências, drogas, roubos, abortos, famílias desestruturadas... Isso apesar de
a Bíblia ser o livro mais editado do mundo, e nos últimos tempos ser lida e
explicada em todos os meios de comunicação. Explica também por que as
Comunidades cristãs encontram tanta dificuldade em sua missão evangelizadora:
grupos que se desfazem membros que desaparecem...
Mas a parábola, apesar de colocar em primeiro lugar fracassos do
semeador, é positiva e compensatória, devido ao acolhimento de muitos e aos
frutos que produzem. Cabe a nós ver o nosso trabalho evangelizador e
missionário no seu conjunto e não nos fixarmos nos fracassos. Sempre há um
resultado bom e compensador.
A semente é a Palavra, que visa construir o Reino de Deus. É
interessante que a semente é sempre boa. A diferença está no tipo de terreno em
que é semeada, que são os nossos corações. Por isso que no Pai Nosso rezamos:
“Venha a nós o vosso Reino”. Em outras palavras, estamos rezando: “Que
acolhamos o vosso Reino”.
Os judeus imaginavam que Deus ia usar toda a sua força para a
implantação imediata do seu Reino. Mas Deus prefere o humilde e lento
crescimento de uma semente, sem triunfalismo. Este é o caminho da Igreja,
marcado por altos e baixos, vitórias e derrotas, alegrias e sofrimentos,
fracassos e êxitos.
Muitos não a levam a sério a Palavra que ouvem. “Entra por um
ouvido e sai pelo outro”. É a terra de beira de estrada, onde satanás logo vê a
semente e a devora.
Outros começam a seguir, mas não perseveram. É o terreno das
pedras, onde a semente nasce, mas não chega a produzir fruto. Nós comemos o
alimento pela boca, engolimos, ele cai no estômago e lá é digerido. Com a
Palavra de Deus acontece algo parecido: nós a ouvimos ou lemos, ela vai para o
nosso coração, onde a acolhemos com amor. Daí vai para a nossa inteligência,
onde a atualizamos, e em seguida sai pelas nossas mãos, pés, palavras e ações
Há os que ouvem a Palavra de Deus, mas não querem deixar sua vida
errada. É a semente crescendo no meio de espinhos. Ela pode até produzir
frutos, mas serão frutos de baixa qualidade que nem compensa colher. Eu creio
que aqui Jesus nos pega a todos.
E há, finalmente, aqueles e aquelas que acolhem a Palavra e
produzem frutos. A Palavra de Deus tem uma enorme força transformadora. O que
faz a diferença é a forma como a ouvimos.
Façamos uma pergunta a nós mesmos: Que tipo de terreno sou eu?
Talvez responder agora seria cômodo. Vamos escolher um momento adequado,
colocar-nos em oração, meditar sobre a pergunta analisando os diversos tipos de
terreno, e aí sim vamos responder com toda sinceridade.
Certa vez, um rapaz, que quando criança tinha sido adotado por uma
família que morava bem distante, voltou pela primeira vez para visitar sua
família de sangue. Os parentes, muito alegres, disseram-lhe que a sua avó
sempre falava nele e tinha muita vontade de vê-lo, mas não gostava dos pobres.
O moço então teve uma idéia:
Vestiu-se de mendigo e foi à casa dela. Apertou a campainha, ela
veio e ele lhe pediu um copo d’água. Ela deu, esticando a mão de longe.
Disse-lhe que podia lavar o copo, e fechou o portão.
No outro dia, ele voltou à casa dela, só que agora vestido ao
contrário: Como um jovem muito rico, e lhe fez o mesmo pedido: um copo d’água.
Ela o recebeu com alegria, convidou-o a entrar, e além da água, lhe trouxe café
com bolo. Ele aceitou, mas lhe contou quem era. Contou também que, no dia
anterior, aquele mendigo era ele. A senhora o abraçou chorando de emoção e lhe
disse que seu maior sonho era rever o neto querido.
Esse terreno, o coração daquela senhora, tem um espinho, o
preconceito contra os pobres, que impede o crescimento da Palavra de Deus.
Maria Santíssima produziu cem por um. Foi sua prima Isabel que
disse isso, quando a recebeu em casa: “Feliz de você que acreditou, porque tudo
o que o Senhor lhe disse será cumprido”. Que ela, Santa Isabel e todos os
santos nos ajudem!
O semeador saiu a semear.
Padre Queiroz
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