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de Janeiro - DOMINGO - Evangelho - Mc 1,14-20
Marcos situa rapidamente o contexto em que
aparece o programa de Jesus, sintetizado pela primeira declaração do Mestre
nesse evangelho. Temos uma vaga indicação de tempo (“Depois que João Batista
foi preso”) e de lugar (“Jesus foi para a Galiléia”. O mensageiro de Jesus foi
preso. Marcos dirá mais adiante quais os motivos da prisão do Batista e as
razões que o levaram à morte (cf. 6,17ss). Esse dado é importante. O mensageiro
de Jesus mexeu com os interesses e privilégios dos poderosos. O que irá acontecer
com Jesus? Aos poucos o evangelho mostrará que Jesus, “o forte” (1,7), não se
deixa amedrontar pelos poderosos, vencendo os mecanismos que geram morte para o
povo. A Galiléia é o lugar social onde Jesus inicia sua atividade. Essa região
era sinônimo de marginalidade, lugar de gente sem valor e impura. É no meio
dessa gente e a partir dela que Jesus anuncia seu programa de vida: “O tempo já
se cumpriu e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e creiam no evangelho”.
Depois que ressuscitou, o Mestre convida os discípulos a descobri-lo vivo na
Galiléia, sinal de que a prática de Jesus em nada difere da dos que o desejam
seguir. O programa de Jesus (v. 15) consta de três
momentos. Em primeiro lugar, ele anuncia que “o tempo já se cumpriu”. A espera
da libertação chegou ao fim. Deus está presente em Jesus, atuando seu projeto
de liberdade e vida. O caminho de Deus e o caminho dos marginalizados são uma
coisa só. O desejo expresso em Is 63,19 (“Quem dera rasgasses o céu para
descer!”) se cumpriu, pois com Jesus o céu se rasgou (cf. Mc 1,10) e o Deus
invisível se tornou gente no meio dos empobrecidos. Fez-se pobre como eles.
Em segundo lugar, Jesus anuncia que “o Reino
de Deus está próximo”. Deus tomou a decisão de reinar. Por que o Reino de Deus
está próximo? Porque a realeza de Deus vai tomando corpo através dos atos
libertadores que Jesus realiza ao longo do evangelho. Está sempre próximo
também mediante a prática dos seus discípulos, aos quais confiou a continuação
daquilo que anunciou e fez. O Reino é uma realidade dinâmica. Refazendo a
prática de Jesus no tempo, as pessoas e as comunidades vão abrindo espaços para
que o Reino se torne realidade.
Em terceiro lugar, Jesus diz: “Convertam-se e
creiam no evangelho!” Conversão é sinônimo de adesão à prática de Jesus. A
libertação esperada, o céu rasgado, de nada adiantariam se as pessoas que
anseiam pela libertação continuassem amarradas aos esquemas que mantêm uma
sociedade desigual e discriminadora. O Evangelho de Marcos é apenas o início da
Boa Notícia da libertação trazida por Jesus (cf. 1,1). Ela se tornará realidade
mediante o compromisso das pessoas e comunidades que dizem sim ao Mestre.
Os versículos do 16 a 20 mostram o sim de
algumas pessoas à Boa Notícia trazida por Jesus. A vocação de Simão e André, Tiago
e João (bem como a de Levi em 2,13-14) é apenas um sinal do que acontece com
todas as pessoas que, em qualquer tempo e lugar, sentem necessidade de mudança
na sociedade. Marcos não se preocupou em detalhar a vocação de todos os
discípulos (e nisso foi imitado pelos evangelistas que vieram depois dele). O
que acontece com alguns deles serve de medida para os demais.
Jesus escolhe pessoas simples e as chama a
partir da realidade do dia-a-dia. Simão e André, Tiago e João são trabalhadores
que ganham a vida pescando. (Levi está sentado na coletoria de impostos, cf.
2,14.) Não importa se o que fazem é honesto ou desonesto. O apelo é igual para
todos, e a resposta é imediata: “Eles deixaram imediatamente as redes e
seguiram a Jesus… Eles deixaram seu pai Zebedeu na barca com os empregados e
partiram, seguindo a Jesus… Levi se levantou e o seguiu” .
O apelo feito a Simão e André vale para todos
os discípulos: “Sigam-me, e eu farei de vocês pescadores de homens”. A frase de
Jesus recorda Jeremias 16,16: Enviarei numerosos pescadores para pescá-los. Aí
se fala do julgamento de Javé sobre a sociedade idólatra. A frase recorda
também o chamado de Eliseu (cf. 1Rs 19,19-21). Ser “pescador de homens”,
portanto, é ser profeta do Reino à semelhança de Jeremias e Eliseu. Não é
possível seguir a Jesus sem um mínimo daquele espírito profético inconformado
com a situação vivida pelo povo. Os que não se conformam e lutam para mudar as
situações, provocam o julgamento de Deus na história. São essas as pessoas que
Jesus procura e chama.
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