27
de Janeiro - Terça - Evangelho - Mc 3,31-35
Marcos, no início de seu evangelho, apresentou a
tensão entre “sinagoga”, da qual Jesus se afasta, e “casa”, que passa a ser o
local de reunião das novas comunidades em torno de Jesus.
Vemos nos textos de Mc 3,31-35 que Jesus se
encontra dentro da casa, seus parentes do lado de fora e a multidão está ao seu
redor ouvindo-o. Estão reunidos os discípulos e discípulas em torno de Jesus,
como também as multidões, que são pessoas do povo, capazes de deixar tudo e
seguí-lo: são os aleijados, coxos, pobres, doentes que estão “como ovelhas sem
pastor (Mc 6,34)”.
Participar da casa é participar do banquete da
vida, da aproximação com o outro como espaço de diálogo e compreensão. Para
poder entrar na casa é preciso romper com o sistema de opressão que há em nossa
sociedade, na medida em que faço do outro instrumento da minha vontade e o
coloco em disputa com os demais. A casa é o lugar apropriado para desenhar a
proposta que Jesus deseja anunciar e promover o sistema de relação social.
“…Um profeta só é desprezado em sua pátria, em
sua parentela e em sua casa” (Mc 6,4) . As pessoas capazes de compreender a
missão de Jesus são aquelas que fazem a experiência d’Ele. Os mais próximos se
afastam diante da missão de Jesus, enquanto os mais distantes se aproximam
d’Ele e de sua missão. Aproximar da missão é encontrar-se dentro da casa e
reconhecer em Jesus a presença do Reino de Deus. É preciso compreender os
gestos e não ter o coração endurecido. Os que estão fora da casa são os
adversários que querem interromper a missão, concordando com uma ideologia que
domina as pessoas e que controla o sistema opressor.
No relato de Marcos 3,20-21 encontramos que o
“estar na casa” é o principal foco e eixo de partida, enquanto que nos
versículos 31-35, o grande eixo é a pergunta: “ quem é minha mãe e meus
irmãos?” Jesus se sente próximo e familiar a todos que se deixam envolver por
seu projeto. O grau de parentesco é como que um título para que se possa fazer
parte da nova comunidade, que requer acima de tudo fidelidade. Enquanto
anteriormente a preocupação da família era a incompreensão da missão de Jesus,
que tinha a família como eixo estrutural, agora Jesus nos diz: “…eis a minha
mãe e meus irmãos. Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e
mãe”(Mc 3,34-35), procurando derrubar a ordem social e provocar ruptura com sua
família de sangue. “Chegaram então sua mãe e seus irmãos e, ficando do lado de
fora…”(Mc 3,31) enquanto que a multidão se encontra sentada em torno do lado de
Jesus “(Mc 3,32).
Jesus se recusa a aceitar quem não aceita sua
missão !!!
Perante uma atitude de vida incoerente, na qual o
projeto de Deus não é assumido e a discriminação se torna mais forte, Jesus faz
um questionamento: “quem é minha mãe e meus irmãos?” ( Mc 3,33). Se eles não
conseguem aceitar a missão de Jesus, Este também não o reconhece como parente.
É preciso ser obediente a Deus, porque no centro está o ser humano e suas
necessidades. Estar sentado à sua volta é estar atento aos seus ensinamentos
“Enquanto caminhavam, Jesus entrou num povoado, e certa mulher, de nome Marta,
o recebeu em sua casa. Sua irmã, chamada Maria, sentou-se aos pés do Senhor, e
ficou escutando a sua palavra. Marta estava ocupada com muitos afazeres.
Aproximou-se e falou: «Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha
com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!» O Senhor, porém, respondeu:
«Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém, uma só
coisa é necessária, Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será
tirada.»”(Lc 10,38-42). É a unidade em Jesus que se deve fazer evidente numa
opção de vida, numa instauração de uma família, como também na vida; viver a
vida com adesão ao projeto de Deus e na construção de um mundo novo, no qual a
esperança nos mova para frente para podermos chegar “…a uma terra fértil e
espaçosa, terra onde corre leite e mel”.
O evangelista Marcos nos deixa claro aqui que o
importante é entrar na casa e conversar, dialogar e participar da vida com o(a)
outro(a). Assim, a comunidade do discipulado será a nova família que queremos
formar.
Portanto, as palavras de Jesus questionando quem
é sua mãe e quem são seus irmãos têm o sentido de revelar que o dom de Deus, nele
presente, não se restringe a laços consangüíneos privilegiados. Jesus substitui
estes laços estabelecidos na tradição pelos laços do amor verdadeiro e sem
fronteiras, que vão muito além dos limites de família ou raça. A verdadeira
família é aquela constituída por pessoas que, fazendo a vontade de Deus,
tornam-se discípulas de Jesus. A família consangüínea, pelo amadurecimento do
amor, abre-se e solidariza-se com os mais excluídos e empobrecidos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário