15 de Janeiro de
2015 - Quinta - Evangelho - Mc 1,40-45
A lepra desapareceu e o homem ficou curado.
Este Evangelho narra a cena da cura de um leproso. Ele “chegou
perto de Jesus, e de joelhos pediu: Se queres, tens o poder de curar-me”. A fé
é condição para recebermos as graças de Deus.
“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão, tocou nele, e disse: Eu
quero: fica curado!” O sentido literal da palavra compaixão é “sofrer junto”.
Ela leva a pessoa a, de dó, sofrer o mesmo que o outro está sofrendo. Só isso
já é um alívio para o outro, porque sente que há alguém unido na dor. Daí para
frente, os dois juntos, com os recursos que têm, procuram sair do problema. É
bem mais fácil lutarmos contra uma dificuldade, junto com alguém, do que
sozinho. E mais: “Onde dois ou mais estiverem unidos em meu nome” – disse Jesus
– “eu estou no meio deles” (Mt 18-20).
“Jesus não podia mais entrar publicamente numa cidade: ficava fora,
em lugares desertos.” Houve uma troca de posições: o homem saiu do deserto e
Jesus foi para lá. A compaixão muitas vezes leva a isso. Mas o amor faz a
pessoa feliz, mesmo vivendo no deserto.
Sob o nome de lepra incluíam-se diversas doenças da pele, além da
lepra como tal. Todos esses casos eram considerados doença incurável e
contagiosa; portanto, o doente devia afastar-se das pessoas e viver sozinho, em
um lugar isolado. Se alguém tocasse nele, ficava também impuro, tendo de ir
morar junto com ele lá no deserto (Lv 5,5-6; 13,45s).
O “leproso” era um ferido por Deus, e por isso ficava excluídos
também da sinagoga e do convívio com o povo eleito, passando a levar uma vida
miserável.
Jesus amou tanto aquele doente, que enfrentou todo esse rigor da
Lei. Foi como se ele dissesse ao leproso: a sua dor é a minha dor; o seu
problema é o meu problema.
“Por toda parte, Jesus andou fazendo o bem” (At 10,38). O cristão
verdadeiro sente compaixão das pessoas que sofrem, e se une com elas, sem medo
de “se sujar” ou de as coisas complicarem para si. Isso é solidariedade, que nasce
da compaixão.
Jesus nunca ficava neutro entre uma pessoa certa e outra errada, um
opressor e um oprimido, mas sempre assume o lado da verdade, da vida, do
excluído e dos mandamentos de Deus. Por isso que os cristãos, seguidores de
Jesus, facilmente “se queimam” ou “se estrepam”.
“Vai, mostra-te ao sacerdote e oferece, pela tua purificação, o que
Moisés ordenou, como prova para eles!” A prova era dupla: de que o homem está
curado, portanto pode voltar ao convívio social, e que foi Jesus que o curou,
isto é, reintegrou na sociedade uma pessoa que os sacerdotes excluíam, através
de suas leis sobre puro e impuro. Aqueles sacerdotes se preocupavam em proteger
o resto da sociedade, mas não se preocupavam em reintegrar nela os pobres
doentes ou pecadores que haviam sido excluídos.
A nossa sociedade atual é parecida. Ela cria uma série de medidas
para se proteger, por exemplo, contra a AIDS, mas não enfrenta a raiz do
problema, que é o liberalismo total no uso do sexo. Ela cria FEBEM para se
proteger contra o menor infrator, mas pouco se preocupa em recuperá-lo e
reintegrá-lo na sociedade.
A pior medida é apelar para as armas, nas guerras e em conflitos
pessoais. Como é triste matar uma pessoa humana, e causar lágrimas nos
familiares, até o fim da vida! Falta-nos, muitas vezes, paciência na solução
dos conflitos.
Hoje, há milhões de pessoas marginalizadas: pela fome, pela
pobreza, pelo analfabetismo, pelo desemprego, pelas doenças... Cabe-nos uma
pergunta: o que a nossa Comunidade está fazendo por eles? Nós nos preocupamos
mais em colocar seguranças na porta da igreja, ou em recuperar essas pessoas?
Colocar segurança na porta da igreja é uma atitude egoísta que só pensa no
nosso lado, em nos proteger. Ela é válida, mas recuperar os marginalizados é
muito mais importante e mais cristão.
“Não contes nada disso a ninguém!” Porque Jesus estava interessado
em projetar não a si mesmo, mas a Comunidade cristã que ele estava criando.
Ela, a Igreja, é a força de Deus no meio do povo. As pessoas sempre procuram
alguém para se apoiar; Jesus quer o contrário: que a Comunidade cristã se apóie
em Cristo e na sua união. Reino de Deus é povo organizado, e unido com Deus e
entre si.
“Ele foi e começou a contar.” A própria vida do ex-leproso já era
por si um testemunho em favor de Jesus. É impossível esconder a luz,
especialmente quando essa luz não quer chamar a atenção sobre si mesma.
Evangelizar é falar bem de Jesus e de sua Igreja. Contar, espalhar os
benefícios que eles nos fazem
Deus nem sempre nos cura e nos livra de todas as doenças. Ninguém
fica eternamente na terra. Mas, se tivermos fé, Deus nos dá a paz na doença e
nos ajuda e transforma em bem as próprias doenças que sofremos.
Os antigos tinham uma figura mitológica chamada oportunidade. Era
uma figura que passava sempre correndo, e só podia ser agarrada pelos cabelos.
Mas, ao contrário de nós, ela tinha os cabelos na frente da cabeça, e, quando
corria, os cabelos esticavam para frente, não para trás.
Assim, aqueles que quisessem agarrá-la, deviam dar conta da sua
passagem por determinado lugar e ficar ali esperando, a fim de agarrá-la pela
frente, pois, se ela passasse, acabou, ninguém conseguia pegá-la.
Aquele leproso aproveitou a oportunidade, porque, vivendo em um
povo que via a sua doença como sem cura, procurou a Jesus: “Se queres, tens o
poder de curar-me”. Que nós também aproveitemos todas as oportunidades boas,
inclusive as que nos são oferecidas pela fé.
Pedimos a Maria Santíssima que nos ajude a imitar o seu Filho
Jesus, que “passou pela vida fazendo o bem”.
A lepra desapareceu e o homem ficou curado.
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