19 de Janeiro - Segunda
- Evangelho - Mc 2,18-22
Este Evangelho começa com uma pergunta feita a Jesus, por que os
seus discípulos não jejuam, e a resposta dele: “Os convidados de um casamento
poderiam, por acaso, fazer jejum, enquanto o noivo está com eles?” Em seguida,
Jesus esclarece ainda mais, através de duas comparações: do remendo de pano
novo em roupa velha, e do vinho novo colocado em odres velhos.
Para os judeus, o jejum era prática fundamental da religião, ao
ponto de os mais piedosos jejuarem até duas vezes por semana, a fim de acelerar
a chegada do Messias e do Reino de Deus. Já os discípulos de Jesus pouco
jejuavam; mais ou menos como fazemos hoje.
Jesus explica o motivo da diferença: durante uma festa de
casamento, os amigos dos noivos evidentemente não jejuam, enquanto os noivos
estão com eles. Jesus é o noivo, no casamento de Deus com a humanidade, com o
novo Povo de Deus. Jesus usa a imagem veterotestamentária dos esponsais de Deus
com o povo. E se coloca como Deus, como realmente é.
“Mas vai chegar o tempo em que o noivo será tirado do meio deles; aí,
então, eles vão jejuar.” Isto é, sofrerão perseguições e dificuldades, tristeza
e desolação.
E Jesus esclarece com as duas comparações, curtas e claras: ninguém
põe remendo de pano novo numa roupa velha, porque a peça nova repuxa e rasga a
roupa, deixando a rasgão ainda maior. Igualmente, ninguém põe vinho novo em
odres velhos, porque o vinho novo ainda está em processo de fermentação e
estoura os odres velhos que são mais fracos.
As parábolas sublinham a incompatibilidade da nova situação
religiosa criada por Jesus, com as velhas instituições e prescrições da
religião judaica, representadas, aqui, na prática do jejum. Jesus não veio
mudar só a “casca” do velho estilo religioso, veio mudar profunda e
radicalmente. Não é possível “costurar” a religião judaica com a cristã; a
única saída é deixar de lado a religião judaica e abraçar de corpo e alma a Boa
Nova de Jesus.
De fato, Cristo não se empenhou em reformar a sinagoga e o velho
culto. Antes, fundou o novo Povo de Deus, que é a Santa Igreja. Isto é bem esclarecido
por Jesus em Mt 5,20-6,18: “Ouvistes o que foi dito aos antigos... Eu porém vos
digo...” A religião de Jesus está fundamentada mais no coração da pessoa do que
na obediência às leis exteriores. A sua lei é o amor, a fraternidade, a
justiça, a fé... virtudes que cada um de nós concretiza no dia-a-dia da vida. O
nove Templo é a sua pessoa e a Comunidade cristã. “Acaso não sabeis que sois
templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós?” (1Cor 3,16). Frente aos
sacrifícios de animais da antiga aliança, surge o novo sacrifício de si mesmo,
realizado na cruz e atualizado constantemente na Eucaristia e na vida dos
cristãos.
Temos de nos deixar transformar pelo Espírito, que nos transforma
em vinho novo, para alegria de Deus e vida do mundo.
“Todo mundo sabe que sois uma carta de Cristo, redigida por nosso
intermédio, escrita não com tinta, mas com o Espírito de Deus vivo, gravado não
em tábuas de pedra, mas em tábuas que são corações humanos” (2Cor 2,3).
S. Bernardo era um monge que viveu na França, no Séc. XII. Sua mãe
faleceu cedo, ficando o pai com sete filhos.
Quando Bernardo era adolescente, foi para o convento. Logo os
irmãos começaram a ir também.
Por fim, sobrou o pai e o mais novo, chamado Nivaldo. Um dia, o pai
disse para o Nivaldo: “Filho, eu estou com vontade de ir também para o
convento. Por isso, eu deixo de presente para você todos os nossos bens: esta
casa com tudo o que está dentro dela, as nossas terras... tudo. Concorda?”
Nivaldo respondeu: “Bonito, hein pai! Vocês escolhem o céu e deixam
a terra para mim? Querias! Eu também vou. O senhor pode dar fim em tudo isso”.
De fato, Nivaldo tinha razão, porque o Céu é mais importante que a terra.
“Aí, então, eles vão jejuar.” O nosso jejum principal é a prática
das virtudes cristãs, inclusive o desapego dos bens da terra, como Nivaldo.
Como Jesus disse para Marta: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas
agitada com muitas coisas. No entanto, uma só é necessária. Maria escolheu a
melhor parte e esta não lhe será tirada” (Lc 10,41-42).
Que Maria Santíssima nos ajude a abandonar o homem velho e nos
deixar embriagar pelo vinho novo que é a Boa Nova de Jesus.
O noivo está com eles.
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