17 de Janeiro de 2015 -
Sábado - Evangelho - Mc 2,13-17
Padre Queiroz
Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores.
Este Evangelho nos trás três coisas:
1) A vocação de Levi, que é o Apóstolo e evangelista S. Mateus.
2) Escândalo e crítica dos doutores da Lei por Jesus comer junto
com pessoas de má fama.
3) A resposta explicativa de Jesus.
Os doutores da Lei eram como os nossos atuais catequistas. Eles
seguiam as tradições farisaicas e sempre criticavam Jesus, porque ele não as
seguia. Eles se julgavam os donos da fé do povo, e não servos, como devia ser.
Jesus foi ousado, porque convidou para ser Apóstolo um pecador público, no
pensar dos doutores da Lei e dos fariseus.
O cobrador de impostos era, entre os judeus, uma pessoa banida
religiosa e socialmente, por colaborar com um governo estrangeiro e por ter as
mãos manchadas com o dinheiro sujo, fruto do suborno, da extorsão e da usura.
Como viviam em “estado de pecado”, eram considerados excluídos da salvação de
Deus e sem possibilidade de conversão.
Além dos cobradores de impostos, também as prostitutas, os bandidos
e os leprosos eram considerados pecadores públicos e banidos da sociedade
judaica. Era justamente no meio dessa turma que Jesus vivia. E ele explica: não
veio para chamar os justos, mas sim os pecadores. Mas esta atitude de Jesus
batia de frente com o pensar da elite religiosa e social do seu país. “Por que
ele come com cobradores de impostos e pecadores?”
Jesus ouviu a reclamação feita aos discípulos e deu a resposta
clara, que é um dos princípios básicos da religião que ele veio fundar: “Não
são as pessoas sadias que precisam de médico, mas sim as doentes”. A Comunidade
cristã não pode tornar-se um grupo fechado em si mesmo. É preciso abrir as
janelas para ver os que mais precisam da graça de Cristo, e depois abrir as
portas para ir ao encontro deles. Pois “Eu não vim para chamar justos, mas sim
pecadores”.
A palavra “justos” aqui tem um sentido irônico. São aqueles que se
julgam perfeitos, e por isso se negam a fazer qualquer mudança de
comportamento. Uma pessoa assim não abre o coração para a Palavra de Deus, pois
Deus não tem mais nada a dizer a ela, já chegou ao topo da montanha da vida
cristã. São pessoas que “engolem um camelo e pensam que é um mosquito”.
Como é bom reconhecer os próprios pecados, e em seguida acreditar
na misericórdia de Deus, que ama os pecadores! “O justo cai sete vezes por
dia”. O que acontece conosco é que não temos o costume de, à noite, procurar
descobrir os pecados que cometemos durante o dia, por pequenos que sejam, e nos
arrepender deles. Todo pecado é pecado, independente do tamanho, se é grande ou
pequeno.
Cristo desce até o mundo dos pecadores, não para ficar ali, mas
para subir com eles na libertação do pecador, mostrando que Deus o ama, e ama
muito.
Para entrarmos no Reino de Deus, fundado por Jesus, precisamos ser
como Deus Pai, que manda o sol e a chuva sobre todos, maus e bons, juntos e
injustos. Precisamos libertar-nos dos preconceitos de classe, de cor, de raça
ou de qualquer outro. Que deixemos de dividir o povo entre bons e maus, entre
os que podemos cumprimentar e os que não podemos, entre os que devemos amar e
os que não devemos. Que aprendamos que todo ser humano, no fundo, é bom, porque
foi criado por Deus. E é esse “fundo bom” que devemos olhar em primeiro lugar
nas pessoas.
Como é bom ser misericordioso, isto é, amar uma pessoa que vive de
forma errada! Não amamos o erro, mas a pessoa. Afinal, nós também somos
pecadores. Um dia Jesus reclamou daqueles que vêem um cisco no olho do irmão, e
não vêem a trave no próprio olho. Se olharmos sinceramente para nós mesmos, com
certeza seremos mais misericordiosos para com os que erram.
Certa vez, um menino visitava sua tia, e esta o repreendeu por
contar uma mentira. A tia o advertiu: “Você sabe o que acontece com meninos que
dizem mentiras?” “Não, tia. O que acontece?”, ele perguntou.
“Bem”, disse ela, “existe um homem que mora na lua, de cor
esverdeada, que tem só um olho, que desce no meio da noite e voa de volta para
a lua levando os meninos que dizem mentiras. Lá eles são espancados com varas
pelo resto de sua vida. Você ainda dirá mentiras?”
Aí está o grande erro daquela tia: querer motivar alguém a não
dizer mentiras, através de uma mentira, e daquelas cabeludas!
Se quisermos condenar os pecadores, caímos no mesmo erro, porque
também somos pecadores.
Maria Santíssima não exclui nenhum de nós, seus filhos e filhas,
porque essa é uma virtude própria da mãe. Pelo contrário, os que levam vida
errada são os que mais estão presentes nas orações e preocupações da mãe. Que
nossa Mãe Maria nos ajude a imitar o seu Filho
Eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores.
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