DIA 03- QUINTA - Evangelho - Mc
10,17-27
VÁ E VENDA TUDO O QUE TEM E DÊ AOS POBRES Mc 10,17-30-Canção Nova
Um jovem rico, piedoso e observante dos mandamentos
encontrou-se com Jesus. Chamou-o “Mestre” e desejava
possuir a vida eterna. Para conseguir essa meta observava os mandamentos com
perfeição. Jesus o olhou com amor e, então, pronunciou o convite exigente: “Só uma coisa te falta: vai, vende tudo o que tens e dá aos pobres,
e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me”!
A tristeza entrou no coração desse jovem rico. A riqueza o
impediu de seguir Jesus, porque é difícil para os ricos entrar no Reino de
Deus!
Impressiona-nos o fato de que este jovem era perfeito no
cumprimento dos mandamentos de Deus e, além disso, merecera o olhar amoroso de
Jesus porque buscava com decisão progredir no caminho de Deus. Mas o
cumprimento dos mandamentos convivia nele com a riqueza, transformada em ídolo
que lhe dava segurança. Jesus lhe ofereceu a possibilidade de ser livre, para
que o Reino de Deus ocupasse todos os espaços de sua vida. Ele preferiu a
segurança de seus bens. Para não perder o pouco que possuía, perdeu o tesouro
infinito da vida com o Senhor.
O discípulo de Jesus dá valor ao que o
mundo despreza. Para possuir a sabedoria e viver de modo prudente, considera os
cetros e os tronos, a riqueza, as pedras preciosas, a prata e o ouro do mundo,
a saúde e a beleza, como um punhado de areia (cf Sb 7,7-11). Ele faz como
fizeram os apóstolos que deixaram tudo para seguir Jesus e, por isso, receberam
“cem vezes mais”: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe,
pai, filhos, campos, por causa de mim e do evangelho, receberá cem vezes mais
agora, durante esta vida – casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com
perseguições – e, no mundo futuro, a vida eterna“.
Estando às próprias palavras de Jesus, compreendemos que Ele
pede as mesmas condições para todos os que querem seguí-lo. Tais condições não
são diferentes para os que se consagram a Deus no celibato, para os que são
chamados ao sacerdócio ministerial, ao diaconato permanente ou à vida de
casados. Ao propô-las Jesus se dirigiu às “grandes multidões”, como nos atesta
o evangelista Lucas.
As observâncias religiosas não são o essencial no projeto de
Deus. A opção fundamental, necessária, é o desapego das riquezas e a superação
das injustiças que decorrem das estruturas sócio-econômicas de acumulação das
riquezas. Em contraste com este rico, segue-se o testemunho de Pedro,
representando a comunidade de discípulos, que, com sabedoria, professa sua fé
neste seguimento, declarando seu desapego de tudo.
É a força da Palavra de Deus, “mais penetrante que qualquer
espada de dois gumes”, que é capaz de extirpar a ambição das riquezas, gerando
o amor ao próximo. É o caminho do seguimento de Jesus na construção do mundo
novo de justiça e paz.
Evidencia-se a proposta da rejeição desta estrutura social,
dividida entre privilegiados e excluídos, com a inversão entre os “primeiros” e
os “últimos”. É um projeto que contraria a acumulação capitalista privada
resultante da exploração do trabalho dos pequenos empobrecidos. Este projeto,
assumido por causa de Jesus e do Evangelho, suscitará a perseguição dos
poderosos beneficiários do projeto de acumulação financeira em um mercado
global.
O projeto de Jesus, em andamento,
significa a inserção na vida eterna do “mundo futuro”. É a concretização do
sonho de um mundo novo, na paz da comunhão com a natureza, com o próximo e com
Deus. E o caminho seguro do seguimento de Jesus está na prática diária da
Palavra de Deus. A Carta aos Hebreus hoje nos lembra: “A Palavra de Deus é viva, eficaz e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes. Penetra até dividir alma e espírito, articulações e
medulas. Ela julga os pensamentos e as intenções do coração. E não há criatura
que possa ocultar-se diante dela. Tudo está nu e descoberto aos seus olhos, e é
a ela que devemos prestar contas” (Hb 4,12-13).
Vivendo assim entenderemos também que a
prática perfeita dos mandamentos do Senhor tem um valor profundo, se a nossa
vida é colocada inteiramente nas mãos do Senhor e não na segurança de nossas
próprias riquezas. Se queremos ver o mundo mudar a sua avaliação das coisas,
não podemos deixar de responder ao apelo de Jesus no evangelho de hoje: “vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim você
terá riquezas no céu”!
Senhor Jesus, reforça minha liberdade interior de forma que
nada, neste mundo, me impeça de cumprir a vontade do Pai.
Padre Bantu Mendonça
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