I
DOMINGO DA QUARESMA 09/03/2014
1ª
Leitura Gênesis2,7-9;3, 1-7
Salmo
50(51),3ª “Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade”
Romanos
5, 12-19
Evangelho
Mateus 4, 1-11
Neste primeiro
domingo da quaresma, Deus nos chama ao deserto com Jesus, para uma conversa de
pé de ouvido, a liturgia se reveste de roxo, que é a cor da paixão, não é
tristeza, luto e desconsolo, como muitos pensam, é como se Deus, o amado de
nossa vida, quisesse que ao longo de quarenta dias, prestássemos mais atenção
nele, no seu jeito diferente de nos amar, roxo seria isso: um olhar para
dentro, enquanto se olha para o céu, podendo evocar o poeta “De tudo ao meu
amor serei atento...”, quaresma é tempo de deixar-se remodelar, permitindo que
Deus refaça a nossa vida.
Quando presido o Sacramento
do matrimonio percebo que os casais têm dificuldade de se olhar nos olhos, na
hora do consentimento, e não é só com quem está casando que isso acontece, um
amigo confidenciou-me que sentiu um certo “desconforto” ao olhar nos olhos da
esposa, na renovação do matrimonio, em uma missa de encontro de casais. Olhar
nos olhos nos causa medo, porque é enigmático e misterioso, não se tem medo de
olhar o corpo, que se torna facilmente objeto de desejo, em uma sociedade tão
erotizada, mas quando se olha nos olhos, estamos diante da alma do outro, há
comunhão de corpo mas não há comunhão de alma. A relação entre namorados,
noivos, e até entre marido e mulher, fica na maioria das vezes banalizada,
alguns conseguem emigrar do erótico para o Eros, e há outros, que na graça de
Deus, confiada pelo Sacramento do matrimonio, conseguem chegar no Ágape, que é
o amor em toda sua plenitude, o Eros é o meio, e não o fim, é um caminho que
tem de ser percorrido do começo ao fim da vida conjugal e que só será obstruído
pela morte.
Nossa relação com
Deus ás vezes também é assim, um tanto quanto banal, pois temos medo de
contemplar o seu mistério. Na capela do Santíssimo, lugar sagrado em nossas
comunidades, onde Aquele que é o Amor Absoluto se esconde em um pedaço de pão, sentimo-nos
embaraçados e procuramos sempre dizer algo, fazer um pedido, recitar uma
fórmula de louvor e adoração, daí somos capazes de ficar horas ali falando ,
porque este “Falar” nos dá a ilusão de que penetramos no mistério de Deus e
podemos dominá-lo. Invertemos o jogo e queremos seduzir a Deus, diferente do
profeta, relutamos em ser por ele seduzidos e dominados.
Deserto é lugar
teológico do “namoro”, onde movidos pelo mesmo Espírito que conduziu Jesus,
vamos ter nosso encontro pessoal com Deus, o esposo apaixonado que quer olhar
nos nossos olhos, sussurrar em nossos ouvidos e nos envolver com a sua ternura,
para sentirmos de novo o encanto do primeiro amor, como na visão do profeta
Oséias “Eis que eu mesmo a seduzirei e a conduzi-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei
ao coração”. Deserto é lugar de fazer a experiência da esposa jovem, que
manifesta a sua alegria ao colocar toda sua confiança no amado, e descobrir,
como no Cântico dos cânticos, que somente Deus é a sua Segurança – “Quem é esta
que sobe do deserto apoiada em seu Amado?”
É o Povo da antiga aliança, é o povo da nova aliança, é a Santa Igreja, somos eu e você, a razão do amor divino, que nos trouxe, com a encarnação de Jesus, a possibilidade real de experimentarmos em nossa vida a salvação. Deserto é, portanto lugar do encontro onde o amor se revela, é a mesma experiência do povo do Êxodo, que se repete em Jesus Cristo, porém, ao contrário do povo da antiga aliança, não mais se deixará enganar pela tentação, propostas sedutoras dos amantes, para fazê-lo perder o paraíso de delícias, onde o homem convivia com os animais selvagens, servido pelos anjos de Deus, evocando a proteção Divina do Eterno Amado sob o objeto do seu amor.
É o Povo da antiga aliança, é o povo da nova aliança, é a Santa Igreja, somos eu e você, a razão do amor divino, que nos trouxe, com a encarnação de Jesus, a possibilidade real de experimentarmos em nossa vida a salvação. Deserto é, portanto lugar do encontro onde o amor se revela, é a mesma experiência do povo do Êxodo, que se repete em Jesus Cristo, porém, ao contrário do povo da antiga aliança, não mais se deixará enganar pela tentação, propostas sedutoras dos amantes, para fazê-lo perder o paraíso de delícias, onde o homem convivia com os animais selvagens, servido pelos anjos de Deus, evocando a proteção Divina do Eterno Amado sob o objeto do seu amor.
Revistamo-nos do
roxo da paixão e não da tristeza, quaresma é dar um tempo para aquelas coisas
que em nossa vida são secundárias, para nos ocuparmos com um Deus apaixonado,
que suspira quando vamos ao seu encontro enquanto Igreja, na dimensão
celebrativa. Quaresma é quarenta dias de amor, como um casal que retoma a lua
de mel, após longa caminhada na vida conjugal, foi no deserto que Deus celebrou
a aliança com seu povo, estabelecendo com ele uma relação única, “Eu serei o
seu Deus e vós sereis o meu povo”, evocando o cerne da união conjugal – e os
dois serão uma só carne.
É esse amor que
salvará o mundo, verdade ignorada pelos que prenderam João Batista tentando
sufocar um Amor que não se deixa aprisionar, e em Jesus irrompe ainda mais
forte, no meio da humanidade, para levar o homem de volta ao paraíso! Nada irá
deter a força desse amor, nem a miséria dos homens ou os pecados da igreja, o
AMOR triunfará definitivamente! Pois o tempo se completou, o Reino está
próximo. Converter e crer no evangelho, é uma forma contínua de corresponder a
esse amor misterioso de Deus que em Jesus busca a todos os homens, sem
distinção ou acepção de qualquer pessoa. Converter-se é dar um solene “basta”
aos falsos amores de “amantes” mentirosos, que nos enganam, oferecendo-nos um
falso paraíso, arrastando-nos à tristeza da morte do pecado, deixando-nos
longe...bem longe Daquele que é o nosso único e verdadeiro Amor...(1º Domingo
da quaresma)
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
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