DIA 08 - TERÇA - Evangelho- Jo 8,21-30
Quando tiverdes
elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou.
Este Evangelho
mostra como que o preconceito obscurece a inteligência. Os fariseus não
entendiam nada que Jesus falava, ou entendiam errado, sempre contra Jesus.
Pensaram até que ele deu a entender que ia se matar! Esse pecado da
incredulidade radical vai levá-los ao crime mais cruel: matar o Filho de Deus!
Entretanto, Jesus
chama a sua crucifixão de elevação. “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem,
então sabereis que eu sou”. Ele será elevado em dois sentidos: na cruz, ficando
a um metro e maio do chão, e justamente naquele momento ele será elevado a Rei
do Universo, realeza que conquistou com o seu sangue.
Jesus foi-se
revelando aos poucos. Primeiro se revelou como água viva e como luz do mundo.
Aqui ele diz: “Vós sois daqui de baixo, eu sou do alto”; e revela claramente a
sua divindade.
Só neste Evangelho
de hoje Jesus usa duas vezes a expressão “eu sou”. Quando Moisés perguntou a Deus
qual é o seu nome, Deus respondeu que seu nome é “Eu Sou”. Por isso que os
hebreus chamavam a Deus de “Aquele que é”, em hebraico: Javé. Vejamos a
pergunta de Moisés:
“Moisés disse a
Deus: ‘Mas, se eu for aos israelitas e lhes disser: ‘O Deus de vossos pais
enviou-me a vós’, e eles me perguntarem: ‘Qual é o seu nome?’, o que devo
responder? Deus disse a Moisés: ‘Eu sou aquele que sou’. E acrescentou: ‘Assim
responderás aos israelitas: ‘Eu sou’ envia-me a vós” (Ex 3,13-14). Vemos,
então, que, ao se chamar de “eu sou”, Jesus está declarando que é Deus, junto
com o Pai e o Espírito Santo.
Jesus “É”, assim
como Deus Pai “É”, mas não se confunde com Deus Pai, pois ele disse: “O Pai me
enviou”. E fala também: “O testemunho de duas pessoas é digno de fé”.
“Se não acreditais
que eu sou, morrereis nos vossos pecados.” Para nós, o pecado não está somente
em fazer algo errado. É também pecado quando nos fechamos em nossos critérios
humanos e não nos abrimos a outros horizontes, à sabedoria infinita que é Deus.
É aqui que os
homens se dividem entre “aqueles que são lá de cima” e “aqueles que são aqui de
baixo”. Não há linguagem comum entre eles, e Jesus perderia o tempo em ficar
discutindo com eles. A sabedoria divina se manifestará melhor do que com
palavras, quando ele morrer na cruz. “Quando tiverdes elevado o Filho do Homem,
então sabereis que eu sou”.
O mesmo acontece
com a santa Igreja, em relação àqueles que a caluniam: quando ela se identifica
com essa parte da humanidade que é perseguida e marginalizada, então o seu
testemunho causa impacto na humanidade, e a salva.
“Enquanto Jesus
assim falava, muitos acreditaram nele.” São os que procuravam a verdade.
Outros, porém, permaneciam cegos diante dos sinais da identidade messiânica de
Jesus. Ele é sinal de contradição; diante de Jesus, os homens têm de se decidir
por ele ou contra ele. Essa decisão compromete definitivamente o destino da
pessoa. Neste dia da quaresma, Deus nos convida à conversão, antes que seja
demasiado tarde.
“Digo-vos com
lágrimas: há muitos que andam como inimigos da cruz de Cristo. O seu fim é a
perdição; o seu deus é o ventre; as suas glórias, as suas vergonhas. Só aspiram
a coisas terrenas” (Fl 3,18s). Por outro lado, quem olha a cruz com fé e com
espírito de conversão, como os hebreus olhavam para a serpente de bronze, fica
curado do veneno da serpente, alcança a salvação e têm a vida eterna.
Certa vez, um
senhor idoso que morava na roça estava indo para a cidade. Ele em cima de um
burro e o netinho na frente, puxando o animal.
Passaram dois
homens e comentaram entre si: “Um marmanjo desse em cima do burro e a pobre
criança a pé!”
O velho escutou.
Quando os homens desapareceram na curva, ele disse ao menino: “Filho, venha
você aqui e eu vou a pé”.
Logo passaram dois
e comentaram: “Engraçado: o velho doente a pé e o moleque a cavalo!”
Quando viravam a
curva, o velho falou: “Filho, vamos nós dois em cima do burro”. E assim
fizeram.
Dois homens
cruzaram com eles e comentaram entre si: “Dois marmanjos nesse burrinho. Como
não têm dó do pobre animal!
Quando se
distanciaram, o homem disse ao neto: “Filho, vamos nós dois a pé”. Logo
passaram uns viajantes e comentaram: “Aqueles dois não são muito certinhos da
cabeça. Onde já se viu caminhar a pé, puxando um burro, sem ninguém em cima!”
Quando desapareceram,
o homem disse ao neto: “Filho, vamos levar este burro nas costas”. Passaram
dois e comentaram: “Olhe lá três burros; dois carregando um!”
Quando estavam sós,
os dois largaram o animal e o homem disse ao neto: “Filho, não se importe com o
que os outros disserem. Siga a sua opinião”.
A nossa conversão é
algo pessoal, entre nós e Deus, e ninguém tem de por o bico. Vivemos numa
sociedade eclética, mas para Deus a verdade é uma só, e para nós também.
Campanha da
fraternidade. Fomos criados à imagem e semelhança de Deus, que é amor. Assim, a
exemplo da Santíssima Trindade, comunhão perfeita de três Pessoas em um só
Deus, devemos buscar a comunhão com Deus e entre nós. Sem esta comunhão no seu
duplo sentido, não pode haver Cristianismo.
A confiança em Deus
e comunhão com os irmãos conduzem à paz. Paz é conceito básico na Bíblia. A
palavra hebraica Shalom é saudação que comunica uma paz completa, resumo de
tudo de bom que Deus quer oferecer quando faz aliança com o povo. É um termo
que abrange bem estar, felicidade, saúde, segurança, relação amorosa consigo
mesmo, com a natureza. “Aparta-te do mal e faze o bem: Busca a paz e vai atrás
dela” (Sl 34,15). “Como são belos os pés do mensageiro que anuncia a paz!”
Graças à
Encarnação, o Filho de Deus nos tornou também filhos de Deus e até
participantes da natureza divina: “Quando se completou o tempo previsto, Deus
enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sujeito à Lei, para resgatar os
que eram sujeitos à Lei, e todos recebermos a dignidade de filhos. E a prova de
que sois filhos é que Deus enviou aos nossos corações o Espírito do seu Filho,
que clama: ‘Abbá, Pai!’ Portanto, já não és mais escravo, mas filho. E, se és
filho, és também herdeiro. Tudo isso, por graça de Deus” (Gl 4,4-7). Nós
agradecemos isso a Deus Pai, a Jesus e a Maria Santíssima que colaborou muito
de perto nesta nossa elevação.
Quando tiverdes
elevado o Filho do Homem, então sabereis que eu sou.
Padre Queiroz
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