DIA 22 SÁBADO - Evangelho - Mt 16,13-19
Na narrativa de Mateus encontramos duas de suas características
dominantes. Ele acentua a dimensão messiânica de Jesus e já apresenta sinais da
instituição eclesial nascente. Escreve na década de 80, quando os discípulos de
Jesus oriundos do judaísmo estavam sendo expulsos das sinagogas que até então
frequentavam. Ele pretende convencer estes discípulos de que em Jesus se
realizam suas esperanças messiânicas moldadas sob a antiga tradição de Israel.
Daí o acentuado caráter messiânico atribuído a Jesus por Mateus. Os cristãos,
afastados das sinagogas, começam a estruturar-se em uma instituição religiosa
própria, na qual a figura de referência é Pedro, já martirizado em Roma. Pedro
é apresentado como o fundamento da Igreja e detentor das chaves do Reino dos Céus. Ó Deus, hoje nos concedeis a alegria de festejar S. Pedro e S.Paulo…
apóstolos que nos deram as primícias da fé. Estamos aqui como Igreja a
reconhecer a unidade de fé que viveram na diversidade de missão. Por isso os
celebramos juntos. Sua fé em Jesus foi força que encontraram para suas vidas e
para sua missão. O Espírito moldou seus corações de tal modo que puderam, como
diz Paulo, dizer: “Para mim, viver é Cristo” (Fl 1,21). Pedro faz a primeira
expressão de fé do discípulo: “Tu és o Messias, o Filho de Deus Vivo” (Mt
16.16). Eu tenho a tentação de ver Pedro mais ligado à tradição e Paulo como um
tipo mais avançado e rebelde. Os dois eram parecidos. Vemos Pedro romper com a
tradição judaica e entrar em casa de pagãos consciente de que não devia chamar de
impuro o que Deus declarara puro (At 10,15). Pedro abre as portas do paganismo
ao Evangelho, no Concílio de Jerusalém, tachando a tradição judaica de um jugo
impossível de suportar (At.15,10). Era uma grande libertação que fazia dentro
de si mesmo pela ação do Espírito. Essa posição liberou a Igreja. Esse ato dá
liberdade total a Paulo para evangelizar os pagãos (v.12). Paulo tão forte na
liberdade, mantém tradições judaicas como cortar cabelos para cumprir um voto
(At 18,18) e, por causa dos judeus, circuncidar Timóteo que tinha pai grego (At
16,3). A fé professada por Pedro se dá em um momento crucial da vida de Jesus,
e O anima a seguir rumo à Paixão. Pedro recebe uma bem-aventurança: “Feliz és
tu Simão, pois não foi um ser humano que te revelou isso, mas meu Pai que está
nos céus”. Tem o dom de ser pedra de alicerce sobre a qual Jesus constrói a
Igreja e lhe dá o poder de ligar e desligar (Mt 16,17-19). Paulo reconhece a
ação do Espírito: “Combati o bom combate, completei a corrida, guardei a fé”
(2Tm 4,7).
Deram a vida pela Igreja e por Cristo. Rezamos no prefácio: “Unidos pela
coroa do martírio, recebem igual veneração”. Eles têm consciência durante sua
vida de que a perseguição que sofrem é por causa do Evangelho. Herodes
desencadeou a perseguição sobre a Igreja; Matou Tiago e prendeu Pedro para
apresentá-lo ao povo e ser morto. Ele foi libertado da prisão por um anjo (At
12,1-11). Paulo tem consciência do fim: “Já estou para ser derramado em
sacrifício; aproxima-se o momento de minha partida” (2Tm 4,8). Os dois têm a
experiência de que são protegidos pelo Senhor: “O Senhor esteve a meu lado e me
deu forças” (v. 17); Pedro reconhece: “Agora sei que o Senhor enviou seu anjo
para me libertar do poder de Herodes e de tudo o que o povo judeu esperava” (v.11).
O ensinamento desta festa à Igreja é a abertura à tradição e ao
acolhimento da novidade para ser fiel. A Igreja tem que se voltar sempre para o
dinamismo destes dois homens que deram a vida pelo evangelho. Eles nos ensinam.
Não podemos ficar na superficialidade e celebrar sem refletir o que os fez
grandes. Eles não só são colunas da fé, mas também dão rumos para seu futuro.
Vivemos tempos nos quais há tendências de voltar à tradição pela tradição e à
novidade pela novidade. Mas devemos partir da fé que professamos em cada
celebração.
A Igreja celebra Pedro e Paulo no mesmo dia porque trabalharam na
unidade da fé e na diversidade de modalidades. Sua força apostólica está na fé
em Jesus. Pedro e Paulo não se diferem pelo apego à tradição ou inovação, mas pelo
campo. Ambos têm a tradição que preserva e a inovação que assume caminhos
novos. Ambos vivem da fé.
Unidos pelo martírio recebem igual veneração. Sofrem por causa do
Evangelho. Herodes prende Pedro e Paulo está preso em Roma com a consciência de
ter combatido o bom combate e guardado e fé. Ambos sabem que o Senhor esteve
sempre com eles.
O ensinamento desta festa é a abertura à tradição e o acolhimento da
novidade para ser fiel. Eles são colunas da Igreja, mas também dão rumos. Há
tendência de voltar à tradição pela tradição ou ir à novidade pela novidade.
Como Pe. Vitor Coelho dizia: a Igreja não é de bronze, pois enferruja. É uma
árvore que cresce porque tem ramos novos e permanece porque tem tronco.
Celebrando S. Pedro e S. Paulo nós celebramos a ação de Deus em Jesus
para implantar o seu Reino no mundo. Ele usou duas luvas de briga: uma
grosseira, Pedro, e outra mais caprichada, Paulo. Por que essa diferença?
Os dois implantaram a Igreja de Deus em dois mundos diferentes, mundo
judeu e mundo pagão. Missão diferente, mas o mesmo fim. Diferente é o modo de
compreender a fé. Isso enriquece. O judaísmo tende ao ritualismo; o paganismo
tende a um modo mais livre de vida. A Igreja se enriquece com esses dois modos
de entender.
Eles se fundam na fé. Pedro e Paulo vivem Jesus. Mesmo passando na boca
do leão, foram salvos e preservados. Deram a vida por Jesus. Eles falavam
grosso e tinham o que dizer sobre Deus. Eu e você, o que temos feito no que
toca a nossa fé em Deus?
Pai consolida minha fé, a exemplo do apóstolo Pedro que, em meio às
provações, soube dar, com o seu martírio, testemunho consumado de adesão a
Jesus.
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