DIA 23 DOMINGO - Evangelho - Mt 5,38-48
Estamos diante da lei do Talião:
“Ouvistes o que foi dito: olho por olho, dente por dente”, embora, à primeira
vista, esta lei pareça alimentar um sentimento de vingança, ela justamente
deseja frear um ímpeto de vingança individual. Vivemos numa época caracterizada pela
ilegalidade, mal que tem invadido nossa sociedade a um grau imprevisto e sem
precedentes. Os que fazem da lei a sua profissão estão sendo convocados para
repensar o propósito desse conjunto de regras na sociedade. Em nossos dias o
indivíduo exige o direito de agir como bem entender, manifestando pouca ou
nenhuma consideração ao efeito de seus atos sobre o outro.
Encontramos esse princípio em todo o
Novo Testamento. Vejamos o que Paulo diz: “O amor seja sem hipocrisia. Detestai
o mal, apegando-vos ao bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor
fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Romanos 12,9-10). O justo
manifesta amor, que é atencioso e altruísta. Como se revela esse sentimento?
São Paulo declarou: “Abençoai aos que
vos perseguem, abençoai, e não amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram,
e chorai com os que choram”. “Não vos vingueis a vós mesmos, amados [não vos
apegueis a vossos direitos, não demandeis pelo que vos é devido], mas dai lugar
à ira; porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o
Senhor”. Se for cometido algum erro, o entregue ao Senhor. Não se vingue, não
busque seus próprios direitos. “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer;
se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas
sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.
O apóstolo dos gentios mostrou-nos o que
Nosso Senhor afirmou no capítulo 5 de Mateus: A pessoa tem direitos. Seus
direitos foram violados. Ela pode exigir indenização. Mas o justo deixa esse
problema com Deus, e demonstra amor e perdão até mesmo aos seus inimigos. Isso
é justiça em ação.
Paulo menciona de novo este mesmo
princípio em I Coríntios 6. Aqui ele luta com o problema de um crente recorrer
ao tribunal contra outro crente para cobrar o que de direito lhe pertence.
Certo homem insistia em seus próprios direitos, e o apóstolo criticou o
descrédito que esse testemunho trazia ao mundo incrédulo: “Por que não sofreis
antes a injustiça? Por que não sofreis antes o dano?” O apóstolo nos ensinou
que o sinal do homem piedoso é abrir mão de seus direitos para que possa
manifestar o amor altruísta de Cristo.
O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”, diz o apóstolo Paulo em Romanos 13,10.
O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”, diz o apóstolo Paulo em Romanos 13,10.
A lei nos dá direitos, mas também nos dá
a liberdade de renunciar a eles, e assim manifestar a justiça de Cristo. Temos
nossos direitos, e a Palavra de Deus os protege. Temos, também, a liberdade de
renunciar a eles para demonstrar o amor de Cristo. Não é a demanda por seus
direitos que caracteriza o justo, mas sim o desistir deles, em prol de um bem
maior. Esse homem agrada a Deus.
Jesus, no Evangelho de hoje, com
palavras, vai progressivamente nos conduzindo a ultrapassar essa lei.
Fazendo-nos reconhecer o valor do não revidar: oferecer a outra face; deixar
também o manto; caminhar com ele dois mil passos. Cristo apresenta uma
referência baseada não na lei da justiça judaica, isto é, o que é devido a cada
um, mas na lei da graça e do amor. “Ouvistes o que foi dito: ‘Olho por olho e
dente por dente!’ Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis quem é malvado! Pelo
contrário, se alguém te dá uma tapa na face direita, oferece-lhe também à
esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a tua túnica, dá-lhe
também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro, caminha dois com
ele! Dá a quem te pedir e não vires às costas a quem te pede emprestado”.
Desta maneira, Ele nos leva ao
mandamento da caridade, não só para melhor compreendê-lo, mas também como
concretamente vivê-lo. O Senhor nos ordena a dar a todos tudo o que eles nos
pedem: que todos sejam cumulados, por nossa generosidade, de tudo o que lhes
falta.
Façamos tudo ao nosso alcance de modo
que eles não sofram nem de sede, nem de fome, nem da falta de vestes. E então,
seremos considerados dignos de obter os bens que nos faltam e que pedimos a
Deus, pois o costume de dar nos merecerá obtê-los. Ademais, há mais alegria em
dar do que em receber.
É urgente que aos nossos ouvidos soem as
palavras de Jesus: vencer o mal com o bem, e tornar concreto em nosso agir o
mandamento do amor fraterno.
Peçamos ao Senhor que encha nossos
corações com as graças do Seu Espírito Santo; com amor, alegria, paz,
paciência, bondade e humildade. E nos ensine a amar os que nos odeiam; a rezar
pelos que nos perseguem. E com o Seu auxílio, a renunciar aos prazeres deste
mundo e a desejar uma nova terra e novos céus.
Pai, não permita que a violência tome
conta do meu coração; antes, torna-me capaz de responder, com gestos de amor, a
quem me faz o mal.
Padre Bantu Mendonça
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