DIA 01 - TERÇA - Evangelho- Jo 5,1-16
No mesmo instante,
o homem ficou curado.
Este Evangelho
narra a cura, feita por Jesus, de um homem doente que estava ao lado da piscina
de Betesda, havia trinta e oito anos. Ali perto, em Epidauro, havia um
santuário pagão, dedicado ao deus da saúde Esculápio, que influenciava na
esperança daqueles doentes que ali ficavam ao lado da piscina, esperando a
cura, que nunca vinha. Esse homem curado por Jesus é um símbolo das pessoas
enganadas pela sociedade consumista e alienadora.
Jesus vai até o
doente, cura-o e manda que ele mesmo carregue a sua cama. A diferença entre
Jesus e os donos da piscina é que eles prometiam para o futuro, Jesus liberta
agora. Para eles, a pessoa não podia libertar-se sozinha, Jesus manda que o
curado se liberte com as próprias forças, carregando a sua cama.
Mas, no caminho,
outro problema: os judeus queriam impedi-lo de carregar a própria cama, por ser
sábado. Intimidam-no. Duas pessoas foram ao encontro daquele doente: Jesus, que
o liberta, e o judeu, que quer impedir essa libertação.
Jesus se preocupava
com a vida das pessoas. Para ele, o importante é defender e promover a vida,
mesmo que para isso seja necessário desobedecer a alguma lei ou autoridade. Os
judeus, ao contrário, estavam preocupados com as leis, pouco se interessando
pela vida humana.
Na sociedade atual,
acontece algo parecido: todos querem ter um “lugar ao sol”. Mas é difícil,
porque cada vez que um levanta a cabeça, vêm as pauladas, tentando afundá-lo
novamente, a fim de que não concorra a este “lugar ao sol”. Na hora da eleição,
sempre surgem novas artimanhas, a fim de enganar o povo.
Uma das grandes
armas que os opressores usam para alienar o povo é o paternalismo. O
paternalista não promove o necessitado, pelo contrário, ele se projeta às
custas do necessitado, que continua cada vez mais necessitado. Os mantenedores
da piscina de Betesda eram paternalistas..
O pobre tem a
tendência de destacar as próprias limitações e incapacidades, e de exaltar as
qualidades do “pai” que o ajuda. O pobre faz isso a fim de ganhar mais favores
do “pai”. Ele diz: “Nós somos fracos, ele (o paternalista) é forte, é quase um
“deus” para nós”. Isso impede a libertação dos dependentes, pois esta
libertação consiste justamente no contrário: destacar as próprias forças,
competências e virtudes.
O assistencialismo
é a ferramenta que o paternalista usa para se projetar diante dos pobres. O
assistencialismo amarra as mãos dos “assistidos”. Não confunda com a
assistência prestada pelas obras assistenciais. Esta une as duas coisas: a
ajuda e a promoção. Muitas vezes, antes de ensinar a pescar, temos de dar um
pouco de peixe.
“Senhor, não tenho
ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando,
outro entra na minha frente. Jesus disse: Levanta-te, pega a tua cama e anda.”
Apareceu alguém que tomou sobre si as dores daquele doente, e o libertou.
Custou caro, pois o gesto, unidos com outros semelhantes, lhe trouxe a morte.
“Em tudo vos
mostrei que, trabalhando desse modo, se deve ajudar aos mais fracos, recordando
as palavras do Senhor Jesus que disse: há mais felicidade em dar do que em
receber” (At 20,35).
Na Missa, a
consagração do pão e do vinho separados, tornando-se o corpo e o sangue de
Cristo, nos lembra a sua morte. Morreu para que tenhamos vida, e para que, como
seus continuadores, nos empenhemos na libertação de todas as alienações.
Agora, na quaresma,
Cristo nos faz a mesma pergunta que fez ao homem doente: “Queres ficar são?
Queres curar-te do teu pecado e comodismo? Queres deixar a tua maca de inválido
e começar a caminhar com as próprias pernas, sem in na onda da mídia? Queres
mergulhar na piscina da Água Viva, matando a tua sede de felicidade e de
libertação total? A turma do “deixa disso” vai aparecer, pois viviam às custas
da tua invalidez, mas não lhes dês ouvidos, pois o que te espera é a filiação
divina e a fraternidade eclesial”.
Certa vez, um
alpinista estava escalando uma montanha e se perdeu. Amarrou-se bem em sua
corda de segurança e começou a subir e descer pedras. Mas a noite chegou, uma
noite totalmente escura, sem lua nem estrelas, e ele não encontrou o caminho.
Numa hora, coitado,
escorregou-se e caiu vários metros, ficando dependurado na corda e balançando
no ar. Uma voz interior lhe dizia: “Pula! Solte-se dessa corda!” Mas ele teve
medo e continuou ali, dependurado na corda, balançando pra lá e pra cá.
No outro dia, os
bombeiros o encontraram morto e congelado pelo intenso frio, suspenso na corda,
a apenas dois metros do chão!
Faltou-lhe uma
oração e uma reflexão com calma a procura de saídas, por exemplo, jogar um
objeto para ouvir o barulho e medir a distância.
Deus nos enriqueceu
com mil recursos, e nos assiste vinte e quatro horas por dia. Com ele não
existe barreira sem brecha, problema sem solução.
Quando estiver em
situação parecida, não vamos agarrar-nos mais ainda na nossa corda, nas nossas
limitadas seguranças, mas jogar-nos na total e ilimitada segurança que é Deus.
Você continua ainda segurando firme na sua corda? Que pena!
Campanha da
fraternidade. Há três tipos de violência: a física, a simbólica e a estrutural.
A violência física nós conhecemos. A simbólica é a que se faz pela mídia, a
qual explora fatos sem dar espaço para análise; é também a coação, a
humilhação, a intimidação, a mentira, a ameaça, a negação de informações, a
privação dos bens necessários à subsistência... Muita gente não pratica a
violência física mas pratica a simbólica! A violência simbólica leva à
violência física.
A violência
estrutural, que também leva à violência física, é a negação da cidadania ou da
igualdade, de forma sistemática. “Todas as pessoas são iguais, porém algumas
são mais iguais que as outras”. Por exemplo, hospitais cheios de leitos vazios,
médicos e enfermeiros ociosos e o povo em volta precisando tratamento médico e
não tendo acesso.
Existe violência na
família: Educação inadequada e de forma incorreta, separação ou brigas dos
pais, pedofilia, maus tratos ou descaso dos idosos, aborto que é pior que matar
uma criança inocente andando na rua, pois a criança já viu a luz do dia e pode
se defender, ao passo que o feto não.
Maria Santíssima
foi escolhida como Mãe do Messias. Esta era a maior dignidade de uma mulher
judia, na sua época. Mesmo assim, ela se considerava serva. Santa Maria, rogai
por nós!
No mesmo instante,
o homem ficou curado.
Padre Queiroz
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