DIA 04 - SEXTA - Evangelho - Mc
10,28-31
O texto evangélico de hoje continua o tema de ontem. Em nome dos seus
companheiros, o apóstolo Pedro quer tirar consequências pessoais da declaração
de Jesus a respeito do Seu seguimento mediante o total desapego dos bens: “Já
vês que nós deixamos tudo e seguimos-te”. Segundo Mateus, acrescenta: “O que é
que vamos receber?” Em resposta a tal pergunta, Cristo promete para o
presente uma recompensa centuplicada e para o futuro a vida eterna.
Mas é preciso entender as palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo: “Em
verdade vos digo, que quem deixar casa, irmãos ou irmãs, mãe ou pai, filhos ou
terras por minha causa ou pela causa do Evangelho, receberá agora, neste mundo,
cem vezes mais [...] com perseguição; e no mundo futuro, a vida eterna”. Esse
cêntuplo temporal é mais qualitativo que quantitativo. Após a renúncia aos
afetos familiares e aos seus bens materiais, o discípulo encontrará na
comunidade do Reino de Deus, na comunidade dos irmãos na fé, relações pessoais
e até apoio material muito mais gratificante que as pequenas pertenças as quais
renunciou. Até cem vezes mais; hipérbole que acentua a desproporção generosa da
recompensa.
A pequena
frase “com perseguições” é exclusiva de Marcos. Seria um toque de radicalismo –
talvez uma adição posterior -, alusivo à experiência temporária das
perseguições que o Messias anunciou aos Seus. Por outro lado, esta perseguição
a tanta bonança prometida é uma advertência de que, pelo seguimento de
Cristo, o discípulo está longe de ter todos os problemas resolvidos. Embarcar
com Ele na aventura do Reino supõe estar disposto a enfrentar as tempestades
que acompanham toda a travessia durante a vida.
De uma ou outra forma, a cruz é consubstancial ao seguimento de Cristo
pelo caminho do Reino de Deus, como Jesus disse repedidas vezes. Mas
também é segura a vida eterna no futuro como culminância de uma libertação já
iniciada mediante o desprendimento e a pobreza. Deste modo o discípulo cristão
não é caminho obscuro para a morte, mas para a vida; não é pobreza solitária,
mas fecundidade humana e ganho presente e futuro. Os discípulos, que agora
estão na categoria dos últimos, passarão um dia a ser os primeiros.
Padre Pacheco
Comunidade
Canção Nova
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