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sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Amai os vossos inimigos - Claretianos

 Domingo, 23 de fevereiro de 2014
7º Domingo do Tempo Comum
São Policarpo, bispo e mártir (Memória facultativa).
Outros Santos do Dia: Alexandre Akimetes (abade), Boisil de Melrose (abade), Dositeu de Gaza (monge), Félix de Bréscia (bispo), Florêncio de Sevilha (leigo), Lázaro, o Pintor (monge de Constantinopla), Marta de Astorga (virgem, mártir), Meraldo de Vendôme (abade), Milburga de Wenlock (abadessa), Milo de Benevento (bispo), Ordônio de Sahagún (monge, bispo), Romana de Todi (virgem), Sereno de Billom (mártir), Willigis de Mainz (bispo), Zebino da Síria (eremita). 
Primeira leituraLevítico 19,1-2.17-18
Amarás a teu próximo como a ti mesmo
Salmo responsorialSalmo 102(103),1-2.3-4.8.10.12-13 (R. 1a8a)
Bendize ó minh’alma, ao Senhor, pois ele é bondoso e compassivo! 
Segunda leituraCorintios 3,16-23
Tudo é vosso. Mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus.
EvangelhoMateus 5,38-48
Amai os vossos inimigos
Todos somos chamados por Deus a ser santos, a ser perfeitos, como o Pai celeste é perfeito.caminho para chegar à plena santidade é o amor: amar a Deus e aos irmãos, amar os que sofrem, amar a si mesmo, a família, amar a natureza, o cosmos. As três leituras de hoje abordam o tema da “santidade pelo amor”.
A primeira leitura, um fragmento do código de santidade do livro do Levítico, apresenta uma imagem de santidade, mediada pela responsabilidade com o próximo, isto é, o caminho para chegar a Deus e conseguir a santidade começa com o respeito para com a vida e a dignidade do outro. Este critério é o centro da Lei e dos Profetas, o eixo que determina  nossa verdadeira relação com Deus, o elemento fundamental da fé, seja através da abertura aos demais como certamente somos partícipes da promessa de salvação dada por Deus a seu povo.
Paulo, na primeira carta aos Coríntios, considera o ser humano como templo de Deus na historia humana. Este templo do qual Paulo fala é a comunidade cristã de Corinto, onde a palavra anunciada foi escutada e surtiu efeito. A intenção de Paulo é advertir seus ouvintes dos perigos que ameaçam o tempo presente. Esses perigos se encarnam naquelas pessoas que pretendem anular a mensagem de Cristo crucificado, através de discursos provenientes da sabedoria humana, discursos que rejeitam o vínculo e a identificação de Deus com a debilidade humana e a solidariedade de Deus com os marginalizados da sociedade.
A mensagem de Paulo é surpreendentemente importante, pois compreende que o verdadeiro templo onde Deus habita são as pessoas, a vida da humanidade: homens e mulheres de todo o mundo, sem distinção de raça, cultura ou religião; assim para Paulo a presença viva de Deus não se reduz a uma construção, a paredes ou a um “lugar” específico de culto.
As pessoas são o lugar verdadeiro onde Deus se manifesta e expressa, especialmente naqueles homens e mulheres, que, sendo santuários vivos de Deus, foram profanados pela pobreza,pela violência e pela injustiça social. 
Mateus apresenta o amor como elemento fundamental do projeto cristão. Este amor proposto por Jesus supera o mandamento antigo (Lv 19,18) que permite implicitamente o ódio ao inimigo. Supera-o porque é um amor que não se limita a um grupo reservado de pessoas, aos do meu grupo, ou aos da própria etnia, ou aos compatriotas, ou aos que me amam, mas alcança os inimigos, aos que poderiam não merecer meu amor, ou inclusive poderiam merecer meu desamor.
É um amor para todos, um amor universal, expressão própria do amor de Deus que é infinito, que não faz distinção entre bons e maus. Ser perfeito, como Deus Pai é perfeito significa viver uma experiência de amor sem limites, é poder construir uma sociedade diferenciada, não fundada na lei antiga de Talião (“olho por olho, dente por dente”, que já era uma maneira primitiva de limitar o mal da vingança), mas a justiça, a misericórdia, a solidariedade, todos esses valores estão abrangidos no que se denomina Amor.
Como seres simbióticos que somos, não podemos viver nossa vida isoladamente; para construir o nosso ser precisamos da convivência, da companhia, do diálogo. A dimensão moral precisa ser a bordada. Não podemos conviver sem alimentar e suavizar continuamente os imites de nossas relações. Não há sociedade humana sem moral, sem direito, sem lei sem normas de convivência. Por sua parte a dimensão religiosa não pode deixar de ser incluída como essencial.  
No Primeiro Testamento vemos que a maior parte dos mandamentos são negativos, marcando o que não se pode fazer, os limites que não devem ser transpostos. É um primeiro estagio da moral. O evangelho dá um salto para frente. Pode parecer despreocupação, tanto pelos limites, quanto pelo “poço sem fundo” a que deve chegar a perfeição do amor a ser alcançada, a qual não se consegue simplesmente evitando o mal, mas praticando o bem.
Com o evangelho na mão, não estaríamos conseguindo o bem moral supremo, a santidade, simplesmente omitindo o mal, porque poderíamos estar pecando “por omissão em relação ao bem”. E, como diz Santo Tomás de Aquino, o mandamento do amor é, de algum modo, inatingível na sua totalidade, pois nunca podemos dar conta plena dele, pois sempre se pode amar com mais entrega, com mais generosidade e mais radicalidade. É típica do evangelho a proposta do amor aos inimigos, o amor humanamente mais inatingível e racionalmente mais dificilmente justificável. 
Mesmo que a proposta desta liturgia da palavra seja de uma santidade alcançada pelo amor, quase como que por um acesso privilegiado ou quase único, teríamos que adicionar  alguns acréscimos. A santidade cristã não é alcançada somente pelo amor prático, pela prática moral ou ética. É certo que na historia das religiões o cristianismo se tornou famoso como a religião que mais organizou a prática do amor, e pelo fato de que sua presença vai acompanhada sempre das “obras de caridade” (hospitais, escolas, centros de promoção humana, leprosários, atenção aos pobres, aos excluídos…) que lhe são características.
Porém, bastará o amor? E a dimensão espiritual? A espiritualidade, a contemplação, a mística… onde ficam? Obviamente, não estamos ante uma alternativa amor-caridade-espiritualidade-mística, e os grandes santos da caridade foram também grandes místicos. 
Não se trata de uma alternativa (um coisa ou outra), mas de uma conjunção necessária: as duas coisas. As duas se complementam perfeitamente. De fato, o santo também é um “contemplativus incaritate”, vive a contemplação no exercício da caridade. A  Espiritualidade da libertação cunhou a famosa fórmula: “contemplativus in liberatione”…  como uma perfeita harmonia entre ação e contemplação, prática moral e mística. Na realidade, quando se vive a mística, a moral brota espontaneamente.
Sem dúvida, o cristão é desafiado a mudar seu modo de buscar a moral, que não deve ser tanto um acesso direto, “moralizante”, insistindo nos preceitos e ameaças ou castigos, quanto em um acesso indireto, pela via da mística, da experiência mística, que não deixa de ser a experiência  mesma do amor. O Concilio Vaticano II, cujo cinquentenário de realização se aproxima, abriu um  panorama até então inusitado, o da “universal chamada à santidade”, uma santidade que anteriormente muitos cristãos consideravam reservada aos “profissionais” da santidade (os monges, os religiosos, o clero), porém não para o comum dos fieis.
Oração: Ó Deus, a quem reconhecemos presente em Jesus, impulsionando para frente o sentimento moral da Humanidade, com sua proposta de amor maior, o amor que dá a vida pelos amigos, o amor que ama inclusive os inimigos, ajuda-nos a viver a fundo este amor, e que essa vivencia seja uma experiência mística, que nos garanta o mesmo Amor. Nós te pedimos, inspirados por Jesus, nosso irmão maior. Amém.


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