Comentários Prof.Fernando* (32ºDom.dComum)
Nós, todos os santos e santas, 6 nov. 2016
No Brasil a Igreja Católica passou a festa de “Todos
os Santos”para o 1ºdomingo de nov. A Igreja Ortodoxa celebra esta festa no
domingo após Pentecostes. Em outros países a Igreja católica (assim como as
Igrejas Luterana, a Anglicana e outras Igrejas cristãs) têm a tradição do dia
1ºde novembro. Esta data foi fixada no Ocidente no ano de 835, pois antes era celebrada
por cada Igreja local em dias divesos. Mas desde o sec. 4º a Igreja síria já
consagrava um dia para lembrar todos os mártires (que já eram muitíssimos). No
sec. 7º, conforme o costume de “cristianizar” tradições pagãs, o papa romano
Bonifácio 4º transformou o templo da Roma antiga dedicado a todos os deuses (o
famoso Pánteon) numa igreja consagrada a todos os santos.
·
Nos escritos cristãos mais antigos usava-se o termo
“santos” para indicar os membros das comunidades: os que foram batizados: foram
“santificados” por Cristo. O Livro do Apocalipse, com outro termo (os “marcados com o selo” - cf 7,8) fala de
12mil, número simbólico obviamente, para cada uma das 12 tribos de Israel e
ainda diz: “vi
uma grande multidão que ninguém podia contar, de toda nação, tribo, povo e
língua”. Aí está
o que nós recitamos no Credo, a “comunhão dos santos”. Estamos unidos aos
primeiros discípulos, aos israelitas que Deus acolheu em sua misericórdia, e à
multidão dos que vieram de todas as culturas e nações e que também foram
abrangidos pela Graça, gratuita, do Amor divino.
·
Santos, portanto, não são os portadores de um alto grau de retidão
moral, mas a expressão “todos os santos” deve incluir todo ser humano a quem
Deus fez o dom de sua presença misteriosa. “Todos os santos” são os que foram
“justificados”, “justos”, como diz Paulo, pela ação da Graça ou dom do Espírito
que habita no mais íntimo do coração e é inspiração para o Bem.
·
A Fé consiste em crer no Amor, deixando-se levar pelo “vento” do
Espírito. E o Vento-Espírito sopra para a direção indicada pelo Evangelho das
Bem-aventuranças lido hoje. Elas são as características dessa nova “lógica” da
bondade – tema do anúncio de uma Boa Notícia trazida pelo “Reino”. Um Reino que
não é feito de armas e expansão de domínio nem de territórios, mas da atuação
da presença do divino dentro da vida humana. O crescimento do Reino passa
inevitavelmente pela cruz própria das dificuldades de viver e pela maior delas
que é o Mistério da morte, mas alcança sua plenitude de justiça e eternidade
por causa da ressurreição o maior e definitivo dom concedido ao ser humano.
·
É isso o que nos lembra a carta de João cap.3: consideremos com
que amor nos amou o Pai, para que sejamos chamados filhos de Deus! E nós o
somos de fato. (...) Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se
manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isto se manifestar,
seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é. Esta a diferença entre aqueles que a
devoção popular, igrejas ou religiões apelidaram de “santos” e os outros que
também fazem parte de “todos os santos e santas de Deus”, mas ainda vivem neste
tempo-espaço do universo.
·
Uns formam o “grupo bíblico”, desde Abraão até “o bom ladrão” do
Calvário (quando entrares em teu Reino –
ainda hoje estarás comigo no Paraíso), além das gerações seguintes que, na
história humana, fizeram a experiência das bem-aventuranças. Este grupo é
formado pelos que ultrapassaram a fronteira que leva ao núcleo do divino.
·
O outro grupo é formado também de santos e santas pela Fé, na esperança,
e na prática do bem. Embora – como disse João – já “de fato filhos de Deus”, não possuem ainda os olhos adequados para
ver o que virão a ser, quando se tornarem semelhantes
a Deus, quando, afinal, o puderem ver “como
ele é”.
·
Continuo
pedindo a oração de intercessão de quantos leram este comentário, pelo meu
amigo que, no Rio de Janeiro continua sua peregrinação entre o hospital e a
casa dos filhos que dele cuidam com extremo cuidado. Ele e sua família
experimentam a pobreza da própria vida atacada de fragilidade, trazida pelas
enfermidades. Continuemos a olhar para o milagre, que tem sido trazido pelos
remédios e médicos, pelo cuidado carinhoso dos filhos, e também pela fé.
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