6 de Janeiro- Terça - Evangelho - Mc 6,34-44
Dai-lhes vós mesmos de comer.
Este Evangelho, da multiplicação dos pães, mostra que tanto os
discípulos como Jesus sentiram compaixão do povo que estava com fome. Mas a
maneira de resolver o problema foi diferente. Os discípulos queriam despedir
logo o povo para que procurassem alimentos, porque não viam outra solução.
Jesus quis que os próprios discípulos lhes dessem de comer, confiando na ajuda
de Deus Pai.
A cena deixa claras duas maneiras de ver a religião. Os discípulos,
ao pedirem a Jesus que despedisse o povo porque estavam com fome, mostraram que
para eles essa parte de providenciar alimentos não faz parte da religião. Já
para Jesus faz parte sim, e com Deus temos condições de resolver. Quantas
Comunidades de hoje, através das instituições sociais, provam que com Deus
realmente é possível. A caridade nos leva a amar as pessoas, mas amá-las
inteiras, com corpo, alma e espírito. Por isso que muitas Comunidades se
interessam pela política, pelo transporte, pela moradia, pela educação das
crianças etc.
O sonho de um mundo melhor nos leva, não a deixar para os outros,
mas a fazer a nossa parte, mesmo que tenhamos poucas condições. O pouco com
Deus é muito e o muito sem Deus não é nada.
“Jesus mandou que todos se sentassem... formando grupos.” A
organização gera a partilha e, quando partilhamos, Deus faz o milagre da
multiplicação. Isso aconteceu ontem, acontece hoje e acontecerá sempre. Onde há
amor, ninguém passa necessidade.
“Nosso Deus é o verdadeiro. Ele nos dá o pão da sua palavra e o pão
que alimenta o corpo” (Dt 8,3). Veja que esse modo de ver a religião, como
dedicação ao homem integral, não é coisa nova, sempre foi assim. Quando uma
Comunidade se dedica ao homem integral, isso gera alegria e louvor a Deus, como
aconteceu com os hebreus, quando veio o maná.
“Quantos pães tendes?... Jesus pegou os cinco pães e dois peixes,
ergueu os olhos para o céu, pronunciou a bênção...” Nem nós sozinhos, nem Deus
sozinho, mas nós e Deus juntos. Nós fazemos a nossa parte, damos o pouco que
temos, e Deus abençoa. Faça a sua parte que da minha ajudarei.
Se tivermos fé, espírito de partilha, união e organização, e não
jogarmos fora as sobras, ninguém passará fome nem qualquer outra necessidade.
As Comunidades cristãs são o meio que Jesus deixou para isto acontecer.
Alimento é coisa sagrada. Não podemos esbanjar, jogar fora. O que
sobra para um falta para outro. Por isso, é preciso recolher com cuidado tudo o
que sobra.
Assim como os cinco pães e dois peixes foram divididos e todos
comeram, a nossa partilha também é multiplicada, em benefício de todos,
inclusive de nós mesmos. E além de termos a recompensa de Deus, tanto nesta vida
como na outra. “Vinde, benditos de meu Pai, recebei em herança o Reino...” (Mt
25,34).
A multiplicação dos pães tem vários sentidos simbólicos. A grande
multidão de cinco mil homens representa a humanidade com a sua fome de
libertação messiânica. O milagre da multiplicação aponta para a Eucaristia, o
Pão partilhado, saciando o novo Povo de Deus e prenunciando o banquete
definitivo do Reino, já inaugurado.
A fome no mundo é patente. Três quartos da humanidade está
subnutrida, e a maior parte é vítima da fome, doença, falta de moradia e de
trabalho. As riquezas são concentradas pelos ricos, fazendo deles cada vez mais
ricos, enquanto os pobres continuam cada vez mais pobres. Nós podemos, com o
nosso esforço e união, mudar esse quadro.
Certa vez, na antiguidade, um navio estava atravessando o mar com
centenas de pessoas. Aconteceu uma grande tempestade e o navio perdeu a
direção. Acabaram chegando a uma ilha desconhecida e totalmente desabitada.
Logo que chegaram à ilha, três homens começaram a explorá-la. Viram
que ela tinha duas partes bem distintas: o centro, com terra boa e coberta com
matas e muita água doce, e a periferia constituída da pedreiras.
Mais que depressa, os três homens cercaram a parte boa da ilha e se
declararam donos. Construíram ali três mansões. As outras pessoas tiveram de
ficar na periferia. Logo começaram a passar fome. Então os três proprietários
propuseram: quem trabalhar para eles ganhava comida. E assim, todos os outros
se tornaram seus empregados.
Os três escolheram os homens fortes e corajosos e deram-lhes
bastante comida e armas, declarando-os a polícia da ilha. Aos outros deram
menos comida, para não terem força e se revoltarem.
Escolheram os mais inteligentes e fizeram deles professores. Mas
deviam ensinar conforme a cartilha dos três. Escolheram também os mais piedosos
e com eles fundaram uma religião, chamada “A religião do verdadeiro deus”.
Ensinavam que a miséria e a fome são agradáveis a deus e que todos deviam
obedecer aos três, cujos retratos as famílias deviam colocar nas paredes de
suas casas. Outras imagens eram proibidas.
Entretanto, apareceu um profeta e começou a ensinar que todos somos
iguais e que aquela religião era falsa. Os três chefes chamaram a sua polícia e
mataram o profeta. Entretanto, as suas idéias ficaram em muitas cabeças e estas
pessoas continuaram a doutrina do profeta, criando dentro da ilha um novo povo
e um novo modo de viver, no qual as pessoas são iguais e os alimentos são
distribuídos para todos.
Peçamos a Maria Santíssima que nos ajude a sermos profetas do
verdadeiro Deus. Que sejamos cada vez mais unidos, solidários e organizados, a
fim de que todos tenham vida e vida plena.
Dai-lhes vós mesmos de comer.
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