Pe. Antonio Queiroz
Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão.
Este Evangelho narra a vocação de S. Mateus, que aqui é chamado de Levi.
A sua profissão – cobrador de impostos – era considerada impura, pelo fato de
tocar em moeda estrangeira. Por isso, todos os cobradores de impostos eram
considerados pecadores. Jesus não tinha esse preconceito.
No grande banquete oferecido por Mateus, além de cobradores de impostos
havia pecadores de verdade, e Jesus estava feliz no meio deles. Diante do
protesto, ele explicou: “Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para
a conversão”. A frase não exclui ninguém do chamado de Jesus. É apenas um
convite aos que se consideram justos para a conversão, pois “o justo cai sete
vezes por dia”.
“Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão
doentes.” Os fariseus não entenderam essa frase pronunciada também para eles,
os doentes terminais do orgulho, auto-suficiência e hipocrisia.
“Deus é rico em misericórdia. Por causa do grande amor com que nos amou,
quando estávamos mortos por causa das nossas faltas, ele nos deu a vida com
Cristo. É por graça que vós sois salvos” (Ef 2,4-5.7-9). “Deus retira o pobre
do monte de lixo...” (Cântico de Ana – 1Sm 2). “Derruba os poderosos de seus
tronos e eleva os humildes” (Magnificat).
Quando Davi cometeu um grande pecado, mandando matar Urias para se casar
com a sua esposa Betsabéia, Deus o perdoou completamente. Tanto que escolheu
Salomão, o segundo filho dele com Betsabéia (2Sm 12,24), para continuar a
geração do Povo de Deus.
“O Senhor é bondade e retidão. Ele aponta o caminho aos pecadores” (Sl
25,8). Esse amor de Deus pelos pecadores nos encanta, seduz e nos dá esperança,
pois quem não é pecador? “Tu me seduziste, Senhor, e eu me deixei seduzir” (Jr
20). Deus não nos trata conforme nossos erros (Sl 103,8-14).
“Aquele que não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor” (1Jo 4,8).
Nós temos amor, Deus é amor. “Nós conhecemos e cremos no amor que Deus tem para
conosco. Deus é amor, e quem permanece no amor permanece em Deus e Deus
permanece nele” (1Jo 4,16).
Esse grande amor de Jesus pelos pecadores é mostrado também no seu
acolhimento à mulher adúltera, ao Zaqueu, à Samaritana, a S. Paulo... Ele não
podia ver ninguém longe de Deus, que já se aproximava para o cativar.
Jesus perdoou até os que o mataram, e rezou por eles: “Pai,
perdoai-lhes, eles não sabem o que fazem!” E ele nos pede para fazermos a mesma
coisa: “Não julgueis...” (Mt 7,1-7).
A misericórdia, que é o amor aos pecadores e aos que sofrem, é uma das
Bem-aventuranças: “Felizes os misericordiosos...” (Mt 5,7).
S. Paulo nos pede: “Irmãos, tende em vós os mesmos sentimentos de Cristo
Jesus...” (Fl 2,6). Assim, as Comunidades cristãs são chamadas a continuar o
amor misericordioso de Deus Pai, manifestado em Jesus. A Comunidade é
compreensiva para com todos, é agente de inclusão dos pecadores.
Diante de pessoas que praticam ações más, mesmo que sejam os piores
crimes, devemos pensar: a misericórdia de Deus é maior que o erro dessa pessoa.
E assim, amá-la, acolhê-la e ajudá-la a se levantar. A Igreja acolhe o pecador,
não o pecado que ele cometeu, por isso o ajuda a vencer o pecado.
“Quero misericórdia e não sacrifício” (Mt 9,13). Jesus criticava
incansavelmente o culto vazio e hipócrita dos que se crêem em ordem com Deus
por cumprir determinados ritos cultuais, como sacrifícios, dízimos e jejuns,
enquanto esquecem a disponibilidade perante Deus, o amor fraterno e a
reconciliação fraterna.
Faz parte do amor misericordioso usar o dinheiro não apenas em benefício
de si mesmo e da família, mas dos que precisam para viver dignamente. É a
economia a serviço da vida. Muitos adoram e servem ao dinheiro, como se ele
fosse um deus. Cabe uma pergunta: quem é Deus em nossa vida? Em que lugar Ele
está entre os valores que buscamos? Que esta Campanha da Fraternidade nos
prepare melhor para a Páscoa.
Certa vez, numa sala de aula, uma menina perguntou à professora: “O que
é amor?” A professora sentiu que não só aquela criança, mas toda a classe
merecia uma resposta à altura. Como já estava na hora do recreio, ela pediu que
cada aluno desse uma volta pelo pátio da escola e trouxesse o que mais
despertasse nele o sentimento de amor.
As crianças saíram muito interessadas. Quando terminou o recreio,
voltaram e começaram a apresentar os objetos que trouxeram. Uma trouxe uma
flor, outra trouxe uma borboleta, outra criança pediu emprestado a uma
funcionária a sua aliança e trouxe...
Terminada a apresentação, a professora notou que uma menina estava toda
envergonhada, porque não havia trazido nada. Então, dirigiu-se à aluna e
perguntou: “Meu bem, por que você não trouxe nada?” A garotinha, timidamente,
respondeu: “Desculpe, professora, eu vi a flor, mas não quis apanhá-la. Preferi
que ela continuasse enfeitando o jardim da escola. Vi a borboleta, leve e
colorida, mas eu nunca teria coragem de segurar um animalzinho tão bonito. Isso
pode machucá-la. Vi também um ninho com filhotes de sabiá, mas nem mexi; se eu
soubesse o que eles comem, até levaria alimento para eles”.
Emocionada, a professora explicou para as crianças: “Esta aluna fez a
melhor escolha: Não trouxe objetos, mas trouxe para nós, em seu coração, o
perfume do amor”. E deu à menina a nota máxima.
O respeito e a proteção da vida é o que mais desperta em nós o
sentimento de amor.
Na oração Salve Rainha, nós chamamos Maria Santíssima de Mãe de
misericórdia. Ela é também o refúgio dos pecadores. Mãe de misericórdia, rogai
por nós!
Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão.
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