Dias virão em que o noivo lhes será tirado, e então jejuarão.
Dias virão em que o noivo lhes será tirado, e então jejuarão.
Este Evangelho nos conta que um dia os discípulos de João Batista
procuraram Jesus e lhe perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos
o jejum, mas os teus discípulos não?” Jesus respondeu, que jejuara quarenta
dias no deserto, comparando a sua presença física na terra com uma festa de
casamento. Explica que não fica bem, numa festa de casamento, os amigos do
noivo jejuarem, enquanto o noivo está com eles.
Jesus está se referindo à comparação que os profetas fazem entre a
aliança de Deus com o seu povo e o casamento. Veja o que diz o profeta Oséias:
“Naquele dia, ela (a família do Povo de Deus) passará a chamar-me de “meu
marido” e não mais de “meu Baal”... Afastarei desta terra o arco, a espada e a
guerra, e todos poderão dormir em segurança. Eu me caso contigo para sempre,
casamos conforme a justiça e o direito, com amor e carinho” (Os 1,18-20).
Aplicando a profecia a si mesmo, Jesus se declara Deus, pois o casamento é
entre Deus e o povo. A sua presença na terra foi a festa do casamento “para sempre”,
isto é, uma aliança eterna.
O jejum praticado pelos judeus tinha um sentido de preparação para a
chegada do Messias e do Reino de Deus. Como que os discípulos de Jesus iam
praticar esse jejum, se o Messias já estava com eles?
Mas “dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim,
eles jejuarão”. O noivo é Jesus. Ele será tirado do meio dos discípulos pela
sua morte violenta. Então os discípulos jejuarão em sentido figurado, isto é,
sofrerão tristeza e desolação, dificuldades e perseguições, por lhe serem fiéis
na missão recebida.
Hoje em dia, a Igreja suavizou sensivelmente a lei do jejum, por
exemplo, o jejum quaresmal que era tão duro e prolongado. Mas continua em pé o
jejum do domínio das nossas más inclinações. Existem sete vícios capitais que
são os geradores dos pecados: Soberba, avareza, erotismo, inveja, gula, ira e
preguiça. O grande jejum para o cristão consiste também em perdoar ou pedir
perdão, voltar a conversar depois de um atrito, conviver com pessoas
difíceis... Nós só conseguimos praticar tudo isso, se nos exercitarmos,
inclusive com o jejum no seu sentido estrito, que é dominar o apetite.
Existe ainda outro tipo de jejum muito importante: O jejum dos olhos. Há
cenas que nos fazem mal, incitam-nos à violência, ao ódio, à desordem, à
luxúria... Quantos filmes e revistas nos conduzem a isso! “Vigiai e orai para
não cairdes em tentação”, disse Jesus. Vigiar é, entre outras coisas, praticar
o jejum dos olhos.
Muitos líderes cristãos dão aos jovens um conselho muito simples, mas
eficaz: “Você sentiu sede? Não beba logo a água, mas espere cinco minutos.
Recebeu uma carta? Não abra logo, mas espere cinco minutos...” É um ótimo
treinamento do domínio sobre os impulsos do nosso corpo, ferido pelo pecado. Os
instintos são cegos, tanto podem levar-nos para o bem como para o mal.
Existe ainda o jejum do espírito. É controlar a língua, o afeto, o
humor, a disposição para o trabalho, o domínio das emoções, saber dar um abraço
quando sentimos vontade de fazer o contrário, saber engolir seco e não dizer
nada, quando a nossa vontade seria fazer o contrário. As pessoas são capazes de
fazer grandes sacrifícios pelo seu amado ou amada. Os que amam a Deus devem
fazer o mesmo por ele. Por isso que os santos diziam que para eles a cruz era
doce como o mel.
Na primeira Leitura, Isaías fala como é o jejum que agrada a Deus:
“Acaso o jejum que prefiro não é outro? Quebrar as cadeias injustas, desligar
as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo
de sujeição?... Então brilhará tua luz como a aurora.”
A exploração econômica é uma bofetada em Deus, pois prejudica os irmãos,
especialmente os mais pobres. “Vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro” (Mt
6,24). Esse é o lema da Campanha da Fraternidade. Para o cristão, o dinheiro
está a serviço da vida, não para escravizá-la. Seria o maior absurdo alguém
explorar o irmão e se considerar em ordem com Deus porque faz abstinência de
carne. Ou alguém fazer gastos inúteis, comprando coisas supérfluas, furtando-se
à ajuda aos necessitados.
Certa vez, um garoto de dez anos, chamado Jorge, voltava da escola,
quando um homem se aproximou dele e perguntou se poderia ajudá-lo na escolha de
um presente de aniversário para o seu pai, dizendo ser amigo dele. A criança
entrou no carro do homem e foram. Entretanto, homem tinha ressentimento contra
o pai de Jorge, porque, quando ele era enfermeiro do seu tio, foi despedido por
causa de bebida. Mas o garoto não o conhecia.
O homem levou o pequeno para uma área isolada, onde o perfurou várias
vezes no peito com uma chave de fenda, depois lhe deu um tiro na cabeça e o
deixou lá, para morrer. Felizmente, a bala havia passado por trás dos seus
olhos, não danificando o cérebro. Depois que retomou a consciência, Jorge ficou
sentado na beira do asfalto, onde foi socorrido por um motorista que passava.
Duas semanas depois, Jorge descreveu para um desenhista da polícia o
rosto do agressor. O próprio tio o reconheceu. Entretanto, o menino, devido ao
trauma, não conseguiu identificar se era aquele mesmo, ou não. Por isso ele não
foi preso.
O ataque deixou Jorge cego de um olho. Mas, sem nenhum outro problema
grave, voltou para a escola e deu continuidade à sua vida. Formou-se, casou-se
e tiveram dois filhos.
Um dia, um policial lhe telefonou para informar que o antigo enfermeiro,
agora com setenta e sete anos, havia confessado o crime. Sem família, ele
estava em um asilo e Jorge foi visitá-lo. Ele se desculpou pelo que havia feito
e Jorge disse que o havia perdoado. Depois disso, visitou-o muitas vezes. Apresentou-lhe
sua esposa e filhos, a fim de lhe dar uma sensação de família. Ele ficava feliz
quando Jorge aparecia, porque o tirava da solidão e era um grande alívio para
ele, após vinte e dois anos de arrependimento.
Mais do que tragédia, Jorge via no fato um milagre, sentia-se abençoado
por Deus. Apesar de muitos não entenderem como que Jorge pôde perdoar aquele
homem, ele mesmo via o perdão como a única saída para fazê-lo feliz. Se tivesse
escolhido o ódio, ou passar a vida procurando vingança, não seria o homem feliz
e realizado que é hoje.
O perdão também é uma penitência, que faz bem aos dois lados: a quem
perdoa e a quem é perdoado.
O amor de mãe é o mais belo retrato do amor de Deus por nós. “Acaso uma
mulher esquece o seu neném, ou o amor ao filho de suas entranhas? Mesmo que
alguma se esqueça, eu de ti jamais me esquecerei!" (Is 49,15). Maria
Santíssima, Mãe de Jesus e nossa, enfrentou situações difíceis, como a fuga
para o Egito, a morte do Filho na cruz... Sinal de que ela se exercitava no
auto domínio, a fim de promover a vida. Santa Maria, rogai por nós!
Dias virão em que o noivo lhes será tirado, e então jejuarão.
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