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Novembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXXI Semana - Quinta-feira
Lectio
Primeira leitura: Filipenses 3, 3-8ª
3Irmãos: 3Nós é que somos pela circuncisão: nós, os que prestamos culto pelo
Espírito de Deus, nos gloriamos em Cristo Jesus e não confiamos na carne -
4ainda que eu tenha razões para, também eu, pôr a confiança precisamente nos
méritos humanos. Se qualquer outro julga poder confiar nesses méritos, eu posso
muito mais: 5circuncidado ao oitavo dia, sou da raça de Israel, da tribo de
Benjamim, um hebreu descendente de hebreus; no que toca à Lei, fui fariseu; 6no
que toca ao zelo, perseguidor da Igreja; no que toca à justiça - a que se
procura na lei - irrepreensível. 7Mas, tudo quanto para mim era ganho, isso
mesmo considerei perda por causa de Cristo. 8Sim, considero que tudo isso foi
mesmo uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus,
meu Senhor: por causa dele, tudo perdi e considero esterco, a fim de ganhar a
Cristo.
Paulo inicia a parte exortativa da carta aos filipenses com um resumo
autobiográfico para tentar mover aqueles que se fecham ao apelo evangélico e
procuram denegrir a sua pessoa e a sua missão. Assim se compreende o carácter
polémico desta página.
O Apóstolo aproveita a ocasião para apresentar a todos, e não só aos
filipenses, a sua origem hebraica, a sua vocação apostólica e a sua fidelidade
à mesma. Paulo faz-nos compreender que, para compreendermos as suas cartas, é
preciso ter em conta o evento do caminho de Damasco, que marca a sua conversão
e o começo da sua missão. O encontro com Cristo revolucionou completamente o
seu modo de ver as coisas e os seus critérios de avaliação dos acontecimentos e
das pessoas. Acima de tudo e de todos, para ele, está Cristo Senhor em quem
havemos de acreditar, que envia em missão e que, sobretudo, temos de amar.
Paulo di-lo com uma frase muito significativa: «considero mesmo que tudo isso
foi uma perda, por causa da maravilha que é o conhecimento de Cristo Jesus, meu
Senhor» (v. 8).
Este é o único lugar, nas cartas paulinas, onde aparece o pronome possessivo
«meu» junto ao título cristológico «Senhor». O pronome indica, não só que Paulo
se encontrou com Cristo ressuscitado, mas também a grande intimidade que
alcançou com Ele.
Evangelho: Lucas 15, 1-10
Naquele tempo, 1Aproximavam-se dele todos os cobradores de impostos e pecadores
para o ouvirem. 2Mas os fariseus e os doutores da Lei murmuravam entre si,
dizendo: «Este acolhe os pecadores e come com eles.» 3Jesus propôs-lhes, então,
esta parábola:
4«Qual é o homem dentre vós que, possuindo cem ovelhas e tendo perdido uma
delas, não deixa as noventa e nove no deserto e vai à procura da que se tinha
perdido, até a encontrar? 5Ao encontrá-la, põe-na alegremente aos ombros 6e, ao
chegar a casa, convoca os amigos e vizinhos e diz-lhes: 'Alegrai-vos comigo,
porque encontrei a minha ovelha perdida.' 7Digo-vos Eu: Haverá mais alegria no
Céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não
necessitam de conversão.» 8«Ou qual é a mulher que, tendo dez dracmas, se perde
uma, não acende a candeia, não varre a casa e não procura cuidadosamente até a
encontrar? 9E, ao encontrá-la, convoca as amigas e vizinhas e diz: 'Alegrai-vos
comigo, porque encontrei a dracma perdida.' 10Digo-vos: Assim há alegria entre
os anjos de Deus por um só pecador que se converte.»
Estamos no coração do evangelho de Lucas. É no capítulo 15 que o segundo
evangelista concentra a mensagem principal da sua obra: o evangelho da
misericórdia. Ao mesmo tempo, Lucas aproxima-se o mais possível do Jesus
histórico, que veio anunciar e incarnar, no meio de nós, o amor misericordioso
do Pai.
Lucas começa por apresentar o contexto histórico (vv. 1-3) em que Jesus contou
as três parábolas. Os publicanos e pecadores vinham «para o ouvirem» (v. 1). Os
fariseus e os escribas «murmuravam» contra ele. As parábolas da ovelha perdida
e da dracma perdida - com a do pai misericordioso, que Jesus apresenta como
ícone de Deus-Pai - devem ser interpretadas à luz desse contexto histórico,
pois iluminam a situação daquilo ou de quem estava perdido e a alegria de quem
pôde encontrar o que estava perdido.
A alegria do homem serve para falar da alegria de Deus. Lucas sublinha três
vezes essa alegria do Pai, que tanto amou o mundo que lhe deu o seu Filho,
tirando desse dom a máxima alegria para Si.
Meditatio
A primeira leitura dá-nos matéria para uma reflexão sofre a pobreza espiritual
como atitude diante das nossas qualidades e dos bens materiais. Esta pobreza
aproxima-nos de Deus. Pelo contrário, a riqueza espiritual separa-nos de Deus e
dos outros, porque nos faz sentir auto-suficientes. Confiamos nas coisas que
temos, confiamos nas nossas qualidades, e pensamos que não precisamos de Deus
nem dos outros. Por vezes até somos levados a julgar-nos superiores aos demais.
Todos estes bens, espirituais ou materiais, que nos levam à auto-suficiência e
ao orgulho, são chamados «carne» por Paulo. O Apóstolo tinha motivos para se
julgar auto-suficiente e ser orgulhoso. Mas preferiu tornar-se mendigo da
salvação para a receber de Cristo, como quem depende da sua misericórdia e não
se julga melhor que os outros.
Cristo é o dom gratuito de Deus, dom que ninguém merece, dom gratuito, que nos
foi dado unicamente pela misericórdia divina.
Esta pobreza espiritual é fonte de alegria, porque nos permite conhecer a
Cristo e fazer dele o valor supremo da nossa vida, tal como Paulo. O
conhecimento de Cristo dá-nos alegria, não uma alegria exterior e efémera, mas
uma alegria profunda e duradoira, que cresce na medida em que é partilhada com
os outros. Paulo partilha a sua alegria com os filipenses. Trata-se de uma
alegria semelhante àquela que sente o Pai do céu, quando um pecador se
converte; trata-se da alegria do Bom Pastor, pronto a dar a vida pela salvação
de um só pecador; mas também se trata da alegria que nos vem de sabermos que
temos no céu um Pai misericordioso, de termos em Cristo um mediador compassivo
e amoroso, e de sabermos que temos na terra alguém que dele recebeu o
ministério de perdoar os nossos pecados, para que aprendamos a ser
compreensivos e misericordiosos com os nossos irmãos.
Cada um de nós, na vida comunitária ou no ministério, há-de ter sempre diante
dos olhos Cristo pobre, manso e humilde de coração, para não sucumbir aos
desejos de riqueza, de auto-suficiência, de domínio, para estar livre de
preconceitos, de simpatias e antipatias e de tantas paixões que tão facilmente
se desenvolvem no coração humano, se não estiver cheio do Espírito de Deus.
São muitos os frutos da «carne» que podem tornar pesada a vida da comunidade
religiosa, e pôr entraves na acção pastoral. Quantos obstáculos à liberdade de
amar e à alegria vêm na nossa auto-suficiência e do nosso orgulho! Quantos
"conflitos" (Cst
. 65), quantos "limites" (Cst. 66)! Como precisamos dos frutos do
Espírito: caridade que é cordialidade, alegria, paz, paciência, bondade,
benevolência, mansidão, fidelidade a Cristo, deixar-nos dominar e conduzir, não
pelo nosso eu, mas pelo Espírito de Deus!
Oratio
Senhor Jesus Cristo, Verbo de Deus feito homem! Ao incarnar, de rico que eras,
fizeste-te pobre, para que nos tornássemos ricos com a tua pobreza. Na
Eucaristia, de forte que eras fizeste-te fraco, para que nos tornássemos fortes
com a tua fraqueza!
Queremos, hoje, mais uma vez escutar a bem-aventurança que, um dia,
proclamaste: «Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus»,
o Reino do amor, da paz e da alegria.
Faz-nos pobres em espírito, humildes e simples, como Maria, a Bem-aventurada por
excelência. Faz-nos pobres, pequenos e simples, como aqueles pelos quais
exultastes «no Espírito Santo». Que a pobreza em espírito, a humildade sejam o
segredo da nossa alegria, a base da nossa fé, da nossa adesão total a Deus e ao
Seu amor. E então, cada dia, como teus humildes servos, e servos dos nossos
irmãos, diremos com tua Mãe: «Eis a serva... faça-se... A minha alma glorifica
o Senhor». E, como a Virgem exultaremos de alegria em Deus-Pai, pelas grandes
coisas que, olhando à nossa pobreza, irás fazer em nós e por meio de nós. Amen.
Contemplatio
Servir o seu Deus por amor é também a via mais doce. Ela agarra-vos pelo
coração e o vosso coração é feito para amar. Conduz docemente, mas muito
eficazmente a vossa vontade para o que Deus deseja. O amor coloca o coração
perfeitamente á vontade, o que nenhum outro sentimento poderia fazer. O medo
constrange; a esperança não está totalmente isenta de um certo regresso à
inquietude; o amor não conhece nem os tormentos do medo, nem os alarmes da
esperança reduzida a si mesma.
O amor inspira a alegria, que é o segundo fruto do Espírito Santo, porque a
caridade é o primeiro (Gl 5, 22). E que alegria! Uma alegria pura, uma alegria
íntima, inalterável, uma alegria que é o antegozo da dos Bem-aventurados. O
amor mantém a alma na paz, que é, depois da alegria, um fruto do Espírito
Santo. O amor nunca causa perturbação. A perturbação da alma tem três fontes:
ou a má consciência, ou o amor-próprio, ou o demónio. O amor mantém a
consciência no melhor estado; trabalha sem cessar para destruir o amor-próprio;
despreza as negras sugestões do demónio; resiste-lhe, triunfa sobre ele. Deus é
a paz e, como não O possuímos aqui em baixo senão pelo amor, o amor é também o
único meio de gozar a paz. (Leão Dehon, OSP 2, 18s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Quem procura o Senhor, encontra a alegria» (da Liturgia)
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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