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Novembro 2020
Tempo Comum – Anos Pares
XXXIV Semana – Quarta-feira
Lectio
Primeira leitura: Apocalipse 15, 1-4
1Eu, João, vi no céu um sinal maravilhoso e surpreendente: sete anjos eram
portadores dos sete últimos flagelos porque neles se cumpria a ira de Deus. 2Vi
ainda uma espécie de mar de vidro misturado com fogo. Os que tinham vencido a
Besta, a estátua da Besta e o número correspondente ao nome da Besta estavam
junto do mar de vidro com as harpas que Deus lhes tinha dado. 3E cantavam o
Cântico de Moisés, servo do Senhor, e o cântico do Cordeiro, aclamando:«Grandes
e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus todo-poderoso! Justos e verdadeiros
são os teus caminhos, ó Rei das nações! 4Senhor, quem não reverenciará o teu
nome? Quem não lhe dará glória? Porque só Tu és santo! Todas as nações virão
prostrar-se diante de Ti, pois as tuas justas sentenças foram promulgadas!»
João, ao escrever esta página, tem claramente
em fundo o quadro do Êxodo. Há uma ligação entre o fim que o Apóstolo profetiza
e o início da história da salvação, quando Deus fez maravilhas em favor do seu
povo. Jesus, o Cordeiro imolado, é o novo Moisés que introduz o novo povo de
Deus no reino do Pai, fazendo-o passar através do mar, símbolo do mundo
mergulhado no pecado. A segunda vinda de Cristo realizará a páscoa definitiva,
libertando o homem de tudo quanto se opõe à sua salvação. Fá-lo sair do Egipto,
terra de escravidão, e fá-lo entrar na Terra prometida, «onde corre leite e
mel» (Ex 3, 8). Liberta-o do pecado e introdu-lo na comunhão de vida com Ele.
O povo de Deus, definitivamente libertado, entoa «o Cântico de Moisés, servo do
Senhor, e o cântico do Cordeiro» (v. 3). Há uma clara referência a Ex 15, 1ss.
O dom da salvação tem dimensão universal, testemunhada pela passagem do Antigo
ao Novo Testamento: «Todas as nações virão prostrar-se diante de Ti» (v. 4b). O
dom de Deus passa por Israel, mas é para toda a humanidade. Assim, a mensagem
do Apocalipse atinge a sua meta.
Evangelho: Lucas 21, 12-19
Naquele tempo, disse Jesus aos seus
discípulos: 12«Vão deitar-vos as mãos e perseguir-vos, entregando-vos às
sinagogas e metendo-vos nas prisões; hão-de conduzir-vos perante reis e
governadores, por causa do meu nome. 13Assim, tereis ocasião de dar testemunho.
14Gravai, pois, no vosso coração, que não vos deveis preocupar com a vossa
defesa, 15porque Eu próprio vos darei palavras de sabedoria, a que não poderão
resistir ou contradizer os vossos adversários. 16Sereis entregues até pelos
pais, irmãos, parentes e amigos. Hão-de causar a morte a alguns de vós 17e
sereis odiados por todos, por causa do meu nome. 18Mas não se perderá um só
cabelo da vossa cabeça. 19Pela vossa constância é que sereis salvos.»
Continuamos a escutar o segundo “Discurso
escatológico” em que é delineado o futuro dos crentes e das comunidades cristãs
de todos os tempos. Entrevemos já os acontecimentos narrados pelo mesmo Lucas
nos primeiros capítulos dos Actos dos Apóstolos. A perseguição é sinal da
autenticidade da fé em Jesus, porque os crentes participam do seu destino
pascal. É também um sinal de que está perto o reino de Deus e de que é preciso
estar atento e preparado para o acolher. Sabemos como a espiritualidade
martirial marcou a vida das primeiras comunidades, até ao édito de Milão, em
313. E sabemos como tantos crentes ainda hoje vêem o martírio como uma forte
possibilidade. Por isso, derramar o sangue por Cristo foi e continua a ser para
muitos cristãos uma oportunidade para «dar testemunho» (v. 13) do Senhor e do
seu Evangelho. O dom da fé implica a missão. Jesus indica o método e o estilo
dessa missão. O testemunho dos discípulos, para ser eficaz, deve ser ao estilo
pascal do testemunho de Jesus. Não é preciso preparar a própria defesa (v. 14),
nem imaginar métodos de defesa meramente humanos, ou fazer apelo a estratégias
terrenas. O que é preciso é viver de pura fé, abandonar-se ao poder de Deus,
confiar na sua Providência. Cristo não deixará faltar a eloquência e a coragem
aos seus fiéis (v. 15). A perseverança é o distintivo dos mártires.
Meditatio
As leituras das últimas semanas do ano
litúrgico, aparentemente deprimentes porque falam das perseguições e das
tribulações dos cristãos na luta contra a Besta, são, na realidade, uma
mensagem de esperança, e querem criar em nós uma mentalidade de vencedores. Isso
nota-se, sobretudo, no Apocalipse. S. João apresenta os cristãos como «os que
tinham vencido a Besta» (v. 2), enquanto os redimidos atribuem a vitória a Deus
e ao Cordeiro. De facto, nas suas tribulações, experimentaram vivamente o apoio
de Deus. No evangelho, Jesus, depois de anunciar aos discípulos perseguições e
sofrimentos, diz-lhes que a sua única preocupação há-de ser permanecer fiéis,
porque Deus lhes dará a vitória. De facto, não lutam em nome de si mesmos, mas
de Jesus: «por causa do meu nome» (vv. 12 e 17). Os cristãos perseguidos lutam
em nome de Jesus. Por isso, não devem preocupar-se com a sua defesa: «Eu
próprio vos darei palavras de sabedoria», diz o Senhor. A única preocupação do
cristão há-de ser centrar-se no nome de Jesus, isto é, na sua pessoa.
Assim entrevemos o valor específico do testemunho cristão: não vale tanto pelo
que as pessoas saibam ou possam dizer, quanto pelo dom divino que, pela sua
palavra, se manifesta. A testemunha torna-se, então, sinal de uma presença
superior. As suas palavras veiculam uma mensagem divina. O seu martírio é
prolongamento do martírio de Jesus. Jesus está presente nos seus mártires para
ser a sua força no combate e no testemunho. A presença de Jesus torna-nos
invulneráveis, apesar das aparências: «não se perderá um só cabelo da vossa
cabeça» (v. 18).
O livro dos Actos dos Apóstolos e as páginas do martirológio cristão mostram a
verdade das palavras de Jesus.
O sacrifício de Cristo é um apelo ao nosso martírio. S. Paulo intuiu essa
verdade quando escreveu aos Romanos: "Exorto-vos, irmãos, pela
misericórdia de Deus, a que ofereçais os vossos corpos (isto é, vós mesmos)
como sacrifício, vivo, santo e agradável a Deus; é este o vosso culto
espiritual" (Rm 12, 1). Cristo, consagrado e imolado, para ser fiel e
obediente ao Pai, é um apelo a todos os cristãos, particularmente aos
consagrados para que sejam fiéis e obedientes, até à imolação. Pela obediência,
comenta Orígenes, ofereço «um holocausto no altar de Deus. Assim, sou sacerdote
do meu sacrifício». Assim, também nós, nos tornamos, com Cristo, construtores
do Reino de
Deus entre os homens, reparadores com Cristo reparador. Estamos assim abertos
para o «acolhimento do Espírito», damos «uma resposta ao amor de Cristo por
nós», estamos em «comunhão no Seu amor pelo Pai» e cooperamos "na sua obra
redentora no coração do mundo" (Cst 23).
Oratio
Senhor, faz-nos compreender que, da fidelidade
à nossa vocação e à nossa missão, brota a disponibilidade para o sofrimento,
para o martírio. Dá-nos a graça de sofrermos para sermos fiéis à nossa vocação
ou, melhor, para sermos fiéis a Ti, que nos chamaste pelo nome; de sofrermos
para actualizar o teu desígnio de salvação em favor dos irmãos e para tua
glória; de sofrermos para ser fiéis aos valores que nos propões, enfrentado a
revolta das nossas paixões e a incompreensão de quem não pensa como nós; de sofrermos
convencidos de que se deve substituir o sofrimento inútil por um sofrimento
consciente e paciente.
Assim poderemos gozar daquela paz que o mar de cristal simboliza e oferece a
quem, depois de ter passado pelo fogo da provação, sai dele purificado e renovado.
Torna-nos perseverantes no teu amor e no teu santo serviço, mesmo que venha a
ser preciso sofrer e morrer. Tu és um Deus fiel. Dá-nos a graça da fidelidade.
Amen.
Contemplatio
«O meu Pai e eu, diz o Senhor, somos assim
glorificados». É, de facto, o amor divino pelos homens que é imitado e
continuado. A nossa união fraterna faz a alegria de Deus nosso Pai. Ela faz
também a nossa força e a nossa consolação. As obras da caridade fraterna são
também um poderoso meio de apostolado e o instrumento da conversão dos povos. O
mundo vê que nos amamos e fica emocionado.
Esta caridade tem tido os seus inumeráveis mártires, que têm fecundado a Igreja
e enchido o céu. Todos aqueles que sacrificaram a sua vida nos trabalhos e nos
perigos do apostolado sob todas as suas formas são mártires da caridade.
Enfrentaram as fadigas, as doenças, as dificuldades do clima, a hostilidade dos
infiéis para irem em socorro dos que sofrem ou que estão nas trevas da
idolatria. Era o espírito da caridade que os conduzia.
Dando-nos o seu preceito novo, Nosso Senhor dá-nos, no Espírito Santo, a graça
de o cumprirmos.
Se correspondermos a este espírito de caridade, havemos de praticar entre nós a
doçura, a paciência, a benevolência. As obras de misericórdia ser-nos-ão caras
e fáceis. Teremos gosto em tomar conta dos pequenos, dos pobres, dos
ignorantes, daqueles que sofrem. Havemos de nos recordar da palavra do bom
Mestre: «O que fazeis aos pequenos e aos deserdados, tenho como feito por mim».
Se tivermos uma caridade ardente e abundante, levá-la-emos até ao sacrifício.
Despojar-nos-emos, afadigar-nos-emos para socorrer o nosso próximo, e, se for
preciso, daremos a nossa vida por ele como Nosso Senhor a deu por nós. (Leão
Dehon, OSP 3, p. 419s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Pela vossa constância é que sereis salvos» (Lc 21, 19).
| Fernando Fonseca, scj |
Obrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
ResponderExcluirDEUS te abençoe e te ilumine. Obrigado pela reflexão.
ResponderExcluirSanta Maria, Rio Grande do Sul.