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Novembro 2020
Tempo Comum - Anos Pares
XXXIV Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Apocalipse 14, 1-3. 4b-5
1Eu, João, vi o Cordeiro de pé no Monte Sião e, com Ele, estavam cento e
quarenta e quatro mil pessoas que tinham o seu nome e o nome de seu Pai escrito
nas frontes. 2Ouvi também uma voz que vinha do céu que era como o fragor do mar
ou como estrondo de forte trovão. A voz que eu ouvira era ainda semelhante à
música de harpas tocadas por harpistas. 3E cantavam um cântico novo diante do
trono, diante dos quatro seres viventes e diante dos anciãos.Ninguém podia
aprender aquele cântico a não ser os cento e quarenta e quatro mil que tinham
sido resgatados da terra. Foram resgatados, como primícias da humanidade, para
Deus e para o Cordeiro. 5Na sua boca não se achou mentira: são irrepreensíveis.
João apresenta-nos os redimidos, o povo eleito que, reunido em assembleia,
aclama a Deus e ao Cordeiro imolado. A mensagem joânica é eclesial, e mesmo
universal, como se vê pelo número simbólico dos eleitos: 144 mil assinalados.
Este número resulta da multiplicação de 12 por 12 por 1.000. Cento e quarenta e
quatro mil é o produto de três números, cada um dos quais significa perfeição.
Trata-se, pois, de um número aberto que será perfeito quando todos os chamados
também forem eleitos.
«O monte Sião» (v. 1) também é um símbolo. Sobre ele se hão-de encontrar todos
os que tiverem na fronte o nome do Cordeiro e do seu Pai (v. 1). Ter o nome
indica uma relação especial com a pessoa: neste caso, indica que o povo dos
eleitos tem uma relação especial com Deus e com Jesus. É pela fé que se entra a
fazer parte desse povo, que é a comunidade daqueles que invocam o Nome e
reconhecem nele a fonte da salvação. É um povo que acredita e por isso canta:
«um cântico novo diante do trono... Ninguém podia aprender aquele cântico a não
ser os cento e quarenta e quatro mil que tinham sido resgatados da terra» (vv.
3-4). É o cântico do Aleluia pascal que se transforma em Aleluia eterno.
Evangelho: Lucas 21, 1-4
Naquele tempo, 1Levantando os olhos, Jesus viu os ricos deitarem no cofre do
tesouro as suas ofertas. 2Viu também uma viúva pobre deitar lá duas moedinhas
3e disse:«Em verdade vos digo que esta viúva pobre deitou mais do que todos os
outros; 4pois eles deitaram no tesouro do que lhes sobejava, enquanto ela, da
sua indigência, deitou tudo o que tinha para viver.»
Lucas, para nos inserir numa situação de vida que, hoje como ontem, nos
interpela pela sua dramaticidade, serve-se de elementos contrastantes: os
«ricos» e a «viúva», a «miséria» e o «supérfluo». O Evangelho não é um livro de
piedosas exortações. Ilumina a realidade em que vivemos para que a possamos ler
em profundidade. Jesus vê e elogia a pobre viúva; vê e não pode deixar de
estigmatizar o gesto daqueles ricos. O olhar de Jesus é como que um juízo sobre
a atitude daqueles que têm uma relação diferente com os bens, com o dinheiro.
Um juízo que é sempre difícil de aceitar, mas que ilumina o gesto e o coração
das pessoas.
Jesus elogia a viúva pobre por causa das «duas moedas» que ofereceu ao templo.
Também aqui há um forte contraste nas palavras de Jesus: duas moedas são duas
moedas; mas Jesus considera-as mais preciosas do que as ofertas dos ricos. O
gesto desta mulher lembra o da mulher anónima que, na véspera da paixão de
Jesus, perfumou os seus pés e a sua cabeça com perfume precioso. É um gesto
belo que agrada a Jesus mais do que qualquer outro. O pouco da pobre viúva é
tudo aos olhos de Deus, enquanto o muito dos ricos é simplesmente supérfluo.
Também aqui encontramos um juízo bastante claro: Deus aprecia mais o valor
qualitativo do que o valor quantitativo dos nossos gestos. Só Ele vê o nosso
coração e nos conhece profundamente.
Meditatio
Quem são os "virgens" de que fala o Apocalipse (14,1-5). Para alguns
autores estes virgens seriam os que vivem no estado da virgindade integral e
que seriam os perfeitos representantes do Povo de Deus peregrino, os cristãos
modelo. Mas outros autores julgam que se trata apenas de virgindade alegórica,
que denota fidelidade e adesão total a Deus, própria de qualquer cristão que
tenha vivido plenamente a sua vocação. De facto, na linguagem profética, a infidelidade
do povo a Deus é chamada prostituição. Não há pois convergência na
interpretação do texto. Mas parece que podemos aceitar a opinião de um autor
moderno: "o texto é um testemunho evidente da estima que a Igreja
primitiva tinha pela virgindade", uma vez que, para designar os cristãos
perfeitos não encontrou melhor termo que o de "virgens".
Ao comentar este texto, São Bernardo diz que o Cordeiro sobe muito alto e desce
muito baixo. Desce muito baixo porque se humilhou a si mesmo fazendo-se
obediente até à morte; sobe muito alto porque é o Cordeiro sem mancha. Os 144
mil que seguem o Cordeiro também não têm mancha, são "virgens". E S.
Bernardo continua a dizer: um pecador arrependido segue o Cordeiro; um que é
virgem, segue o Cordeiro; mas pode acontecer que, nem um nem outro, o sigam
para onde quer que vá: um porque não está sem mancha e outro porque se
ensoberbeceu por causa da sua virgindade. O melhor, conclui o Santo, é segui-lo
como pecador arrependido, porque o arrependimento purifica das culpas e torna
possível seguir o Cordeiro, enquanto a soberba mancha a virgindade e impede
segui-l´O. Por vezes, pode ser um bem tocar com a mão a própria miséria, porque
nos pode impedir de cairmos na soberba.
O texto evangélico leva-nos a reflectir sobre o valor do dom, do dom de si
mesmo. A viúva fez um gesto eloquente: deu com generosidade e confiança,
revelando o seu bom coração e o valor d´Aquele a Quem doava. Manifesta-se
aberta a Deus, cheia de confiança n´Ele e, ao mesmo tempo, mostra que, para
ela, Deus é o supremo bem. O seu gesto é um acto de fé, de abandono à Divina
Providência, um acto de adoração.
Os dons ligam as pessoas umas às outras, não tanto pelo valor que têm em si
mesmos, mas por causa dos sentimentos que revelam no coração de quem dá, e pelo
valor atribuído a quem se dá. É o coração que torna precioso o dom. Sob o ponto
de vista religioso, a fé altera radicalmente o valor do que se dá. O pouco da
viúva, dado com fé, é tudo; o muitos dos ricos, dado sem fé, é nada. O que
torna precioso um dom é a intenção que o acompanha. Se o termo do gesto
oblativo é Deus, o dom assume um valor extremamente grande. É Deus Quem o
acolhe, o aprecia e o agradece.
A vocação ao celibato consagrado por causa do Reino, sendo um dom de Deus, não
deixa de exigir muita generosidade. Mas a vocação cristã em geral, e
particularmente a nossa vocação oblativa reparadora, também exigem grande
generosidade. A participação no sacerdócio e no estado de vítima de Cristo,
todavia, não é para seres excepcionais e extraordinários, mas para todos os que
querem viver Cristo em profundidade, de maneira simples e humilde, mas com
total confiança e abandono. Para nós, Oblatos-SCJ é "um dom
particular" (Cst 13), "uma graça especial" (Cst 26) de
testemunho, para recordar a todos os nossos irmãos cristãos (leigos,
sacerdotes, religiosos) a sua vocação baptismal, participação no sacerdócio de
Cristo. A «vida de união à oblação de Cristo como o único necessário» (Cst 26)
ou, como se dizia no tempo do Pe. Dehon, a vida de vítima, pede generosidade e
abandono a todos os baptizados.
Oratio
Senhor, dá-me a graça de Te seguir, para onde quer que vás. Que eu Te siga, ao
menos, como pecador arrependido, recebendo da tua generosidade sem limites as
graças de que preciso, especialmente a da humildade e a da fidelidade.
Faz-me também generoso e confiante como a viúva pobre que observaste no templo,
para que me entregue sem reservas em completa oblação à tua glória e em total
disponibilidade para os irmãos. Que a minha natureza ferida e corrupta, a
pretexto de nobres ideais, jamais me leve a dons mascarados pelo egoísmo e pela
vaidade. Que os meus dons sejam sempre motivados, única e exclusivamente, pelo
amor puro. Amen.
Contemplatio
S. João aprende com os exemplos e as palavras de Jesus as virtudes que fazem as
vítimas do Sagrado Coração: Obediência, paciência, caridade, abandono,
reparação - S. João era o primogénito e o modelo das vítimas do Sagrado
Coração. O tempo entre a tomada do hábito e a sua profissão não foi longo. No
entanto, passou por um noviciado, por um tempo de prova, durante o qual
aprendeu mais, avançou mais em virtude e em perfeição, sofreu mais no seu
coração e no seu espírito do que a razão humana pode conceber. Lá aprendeu até
onde vai o verdadeiro, santo e puro amor de Deus e que a medida deste amor é
amar sem medida.
Na noite da Ceia viu como Nosso Senhor se deu inteiramente no mistério da
Eucaristia. No dia seguinte, foi testemunha da oferta dolorosa da vítima
sangrenta sobre a cruz. Pela sua presença, pela sua fidelidade e constância,
testemunhou abertamente que conhecia Nosso Senhor, que era e queria permanecer
seu discípulo. Nesta hora solene, fez no seu coração cheio de amor, de
reconhecimento, de compaixão e de zelo, as promessas mais santas para o futuro.
Tomou a resolução de nunca abandonar Jesus nem a sua doutrina. Depois recebeu
em partilha o Coração ferido de Jesus, o Coração sobre a cruz, envolvido com os
espinhos da humilhação, do ultraje, da dor, da ingratidão, da infidelidade e da
cobardia dos seus discípulos, daqueles de então e dos do futuro. Viu como Nosso
Senhor era ao mesmo tempo sacrificador e vítima, como deve ser todo o
verdadeiro sacerdote da nova lei (Leão Dehon, OSP 3, p. 520s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
«Estes seguem o Cordeiro para onde quer que vá» (Ap 14, 4).
| Fernando Fonseca, scj |
Eu, Jair Ferreira da Cidade de Cruz das Almas, na Bahia da Diocese Nossa Senhora do Bom Sucesso, leio e reflito sobre as leituras diária dessa equipe(José Salviano, Helena Serpa, Olívia Coutinho, Dehoniamos, Jorge Lorente, Vera Lúcia, Maria de Lourdes Cury Macedo, Adélio Francisco) colocando em prática no meu dia-dia, obrigado a todos que doaram um pouco do seu tempo para evangelizar, catequizar e edificar o reino de Deus, que o Senhor Jesus Cristo e Nossa Mãe Maria Santíssima continue iluminando a todos. Abraços fraternos.
ResponderExcluirObrigado Senhor, obrigado Dehonianos!!!
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