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Novembro 2020
Ano A
34º DOMINGO DO TEMPO COMUM
NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, REI DO UNIVERSO
Tema do 34º Domingo do Tempo Comum
No 34º Domingo do Tempo Comum, celebramos a
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. As leituras deste
domingo falam-nos do Reino de Deus (esse Reino de que Jesus é rei).
Apresentam-no como uma realidade que Jesus semeou, que os discípulos são
chamados a edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo
definitivo no mundo que há-de vir.
A primeira leitura utiliza a imagem do Bom Pastor para apresentar Deus e para
definir a sua relação com os homens. A imagem sublinha, por um lado, a
autoridade de Deus e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos da
história; e sublinha, por outro lado, a preocupação, o carinho, o cuidado, o
amor de Deus pelo seu Povo.
O Evangelho apresenta-nos, num quadro dramático, o "rei" Jesus a
interpelar os seus discípulo acerca do amor que partilharam com os irmãos,
sobretudo com os pobres, os débeis, os desprotegidos. A questão é esta: o
egoísmo, o fechamento em si próprio, a indiferença para com o irmão que sofre,
não têm lugar no Reino de Deus. Quem insistir em conduzir a sua vida por esses
critérios ficará à margem do Reino.
Na segunda leitura, Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do
crente é a participação nesse "Reino de Deus" de vida plena, para o
qual Cristo nos conduz. Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e
actuará como Senhor de todas as coisas (vers. 28).
LEITURA I - Ez 34,11-12.15-17
Leitura da Profecia de Ezequiel
Eis o que diz o Senhor Deus:
«Eu próprio irei em busca das minhas ovelhas
e hei-de encontrá-las.
Como o pastor vigia o seu rebanho,
Quando estiver no meio das ovelhas que andavam tresmalhadas,
para as tirar de todos os sítios em que se desgarraram
num dia de nevoeiro e de trevas.
Eu apascentarei as minhas ovelhas,
Eu as levarei a repousar, diz o Senhor.
Hei-de procurar a que anda tresmalhada.
Tratarei a que estiver ferida,
darei vigor à que andar enfraquecida
E velarei pela gorda e vigorosa.
Hei-de apascentá-las com justiça.
Quanto a vós, meu rebanho,
assim fala o Senhor Deus:
Hei-de fazer justiça entre ovelhas e ovelhas,
entre carneiros e cabritos».
AMBIENTE
Ezequiel é conhecido como "o profeta da
esperança". Desterrado na Babilónia desde 597 a.C. (no reinado de Joaquin,
quando Nabucodonosor conquista Jerusalém pela primeira vez e deporta para a
Babilónia a classe dirigente do país), Ezequiel exerce aí a sua missão
profética entre os exilados judeus.
A primeira fase do ministério de Ezequiel decorre entre 593 a.C. (data do seu
chamamento) e 586 a.C. (data em que Jerusalém é arrasada pelas tropas de
Nabucodonosor e uma segunda leva de exilados é encaminhada para a Babilónia).
Nesta fase, Ezequiel procura destruir falsas esperanças e anuncia que, ao
contrário do que pensam os exilados, o cativeiro está para durar... Eles não só
não vão regressar a Jerusalém, mas os que ficaram em Jerusalém (e que continuam
a multiplicar os pecados e as infidelidades) vão fazer companhia aos que já
estão desterrados na Babilónia.
A segunda fase do ministério de Ezequiel desenrola-se a partir de 586 a.C. e
prolonga-se até cerca de 570 a.C. Instalados numa terra estrangeira, privados
de Templo, de sacerdócio e de culto, os exilados estão desesperados e duvidam
da bondade e do amor de Deus. Nessa fase, Ezequiel procura alimentar a
esperança dos exilados e transmitir ao Povo a certeza de que o Deus salvador e
libertador - esse Deus que Israel descobriu na sua história - não os abandonou
nem esqueceu.
O texto que nos é hoje proposto pertence, provavelmente, à segunda fase do
ministério de Ezequiel. Depois de denunciar os "maus pastores" que
exploraram e abusaram do Povo e o conduziram por caminhos de morte e de
desgraça, até à catástrofe final de Jerusalém e ao Exílio (cf. Ez 34,1-9), o
profeta anuncia a chegada de um tempo novo em que o próprio Deus vai conduzir o
seu Povo e apascentar as suas ovelhas. É um oráculo de esperança, que abre uma
nova história e propõe um novo futuro ao Povo de Deus.
MENSAGEM
No Antigo Médio Oriente, o título de
"pastor" é atribuído, frequentemente, aos deuses e aos reis. É um
título bastante expressivo em civilizações que viviam da agricultura e do
pastoreio. A metáfora expressa admiravelmente dois aspectos, aparentemente
contrários e com frequência separados, da autoridade exercida sobre os homens:
o pastor é, ao mesmo tempo, um chefe que dirige o seu rebanho e um companheiro
que acompanha as ovelhas na sua caminhada para as pastagens onde há vida.
Além disso, o pastor é um homem forte, capaz de defender o seu rebanho contra
os animais selvagens; e é também delicado para as suas ovelhas. Conhece o
estado e as necessidades de cada uma, leva nos braços as mais frágeis e débeis,
ama-as e trata-as com carinho. A sua autoridade não se discute: está fundada na
entrega e no amor.
É sobre este fundo que Ezequiel vai colocar as relações que unem Deus e Israel.
A este Povo a quem os pastores humanos (os reis, os sacerdotes, a classe
dirigente) trataram tão mal, o profeta anuncia a chegada desse tempo novo em
que Jahwéh vai assumir a sua função de pastor do seu Povo. Como é que Deus
desempenhará essa função?
Deus vai cuidar das suas ovelhas e interessar-se por elas. Neste momento, as
ovelhas estão dispersas numa terra estrangeira, depois dos acontecimentos
dramáticos que trouxeram ao rebanho morte e desolação; mas Deus, o Bom Pastor,
vai reuni-las, reconduzi-las à sua própria terra e apascentá-las em pastagens
férteis e tranquilas (vers. 11-12).
Mais: Deus, o Bom Pastor, irá procurar cada ovelha perdida e tresmalhada,
cuidar da que está ferida e doente, vigiar a que está gorda e forte (vers. 16);
além disso, julgará pessoalmente os conflitos entre as mais poderosas e as mais
débeis, a fim de que o direito das fracas não seja pisado (vers. 17).
ACTUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes desenvolvimentos:
• A imagem bíblica do Bom Pastor é uma imagem
privilegiada para apresentar Deus e para definir a sua relação com os homens.
Sublinha a sua autoridade e o seu papel na condução do seu Povo pelos caminhos
da história; mas, sobretudo, sublinha a preocupação, o carinho, o cuidado, o
amor de Deus pelo seu Povo. Na nossa cultura urbana, já nem todos entendem a
figura do "pastor"; mas todos são convidados a entregar-se nas mãos
de Deus, a confiar totalmente n'Ele, a deixar-se conduzir por Ele, a fazer a
experiência do seu amor e da sua bondade. É uma experiência tranquilizante e
libertadora, que nos traz serenidade e paz.
• Também aqui, a questão não é se Deus é ou
não "pastor" (Ele é sempre "pastor"!); mas é se estamos ou não
dispostos a segui-l'O, a deixar-nos conduzir por Ele, a confiar n'Ele para
atravessar vales sombrios, a deixar-nos levar ao colo por Ele para que os
nossos pés não se firam nas pedras do caminho. Uma certa cultura contemporânea
assegura-nos que só nos realizaremos se nos libertarmos de Deus e formos os
guias de nós próprios. O que escolhemos para nos conduzir à felicidade e à vida
plena: Deus ou o nosso orgulho e auto-suficiência?
• Às vezes, fugindo de Deus, agarramo-nos a
outros "pastores" e fazemos deles a nossa referência, o nosso líder,
o nosso ídolo. O que é que nos conduz e condiciona as nossas opções: a riqueza
e o poder? Os valores ditados por aqueles que têm a pretensão de saber tudo? O
política e socialmente correcto? A opinião pública? O presidente do partido? O
comodismo e a instalação? A preservação dos nossos esquemas egoístas e dos
nossos privilégios? O êxito e o triunfo a qualquer custo? O herói mais giro da
telenovela? O programa de maior audiência da estação televisiva de maior audiência?
SALMO RESPONSORIAL - Salmo 22 (23)
Refrão: O Senhor é meu pastor: nada me
faltará.
O Senhor é meu pastor: nada me falta.
Leva-me a descansar em verdes prados,
conduz-me às águas refrescantes
e reconforta a minha alma.
Ele me guia por sendas direitas,
por amor do seu nome.
Ainda que tenha de andar por vales tenebrosos
não temerei nenhum mal, porque Vós estais comigo.
Para mim preparais a mesa
à vista dos meus adversários;
com óleo me perfumais a cabeça
e o meu cálice transborda.
A bondade e a graça hão-de acompanhar-me
todos os dias da minha vida,
e habitarei na casa do Senhor
para todo o sempre.
LEITURA II - 1 Cor 15,20-26.28
Leitura da Primeira Epístola do apóstolo São
Paulo aos Coríntios
Irmãos:
Cristo ressuscitou dos mortos,
como primícias dos que morreram.
Uma vez que a morte veio por um homem,
também por um homem veio a ressurreição dos mortos;
porque, do mesmo modo que em Adão todos morreram,
assim também em Cristo serão todos restituídos à vida.
Cada qual, porém, na sua ordem:
primeiro, Cristo, como primícias;
a seguir, os que pertencem a Cristo, por ocasião da sua vinda.
Depois será o fim,
quando Cristo entregar o reino a Deus seu Pai.
É necessário que Ele reine,
até que tenha posto todos os inimigos debaixo dos seus pés.
E o último inimigo a ser aniquilado é a morte,
porque Deus «tudo submeteu debaixo dos seus pés».
Quando todas as coisas Lhe forem submetidas,
então também o próprio Filho Se há-de submeter
àquele que Lhe submeteu todas as coisas,
para que Deus seja tudo em todos.
AMBIENTE
No decurso da sua segunda viagem missionária,
Paulo chegou a Corinto, vindo de Atenas, e ficou por lá cerca 18 meses (anos
50-52). De acordo com Act 18,2-4, Paulo começou a trabalhar em casa de Priscila
e Áquila, um casal de judeo-cristãos. No sábado, usava da palavra na sinagoga.
Com a chegada a Corinto de Silvano e Timóteo (2 Cor 1,19; Act 18,5), Paulo
consagrou-se inteiramente ao anúncio do Evangelho. Mas não tardou a entrar em
conflito com os judeus e foi expulso da sinagoga.
Como resultado da pregação de Paulo nasceu, contudo, a comunidade cristã de
Corinto. A maior parte dos membros da comunidade eram de origem grega, embora,
em geral, de condição humilde (cf. 1 Cor 11,26-29; 8,7; 10,14.20; 12,2); mas
também havia elementos de origem hebraica (cf. Act 18,8; 1 Cor 1,22-24; 10,32;
12,13).
De uma forma geral, a comunidade era viva e fervorosa; no entanto, estava
exposta aos perigos do ambiente corrupto que se respirava na cidade e não podia
deixar de ser influenciada por esse ambiente. É neste contexto que podemos entender
alguns dos problemas sentidos na comunidade e apontados na Primeira Carta aos
Coríntios: moral dissoluta (cf. 1 Cor 6,12-20; 5,1-2), querelas, disputas,
lutas (cf. 1 Cor 1,11-12), sedução da sabedoria filosófica de origem pagã que
se introduzia na Igreja revestida de um superficial verniz cristão (cf. 1 Cor
1,19-2,10)... Na comunidade de Corinto, vemos as dificuldades da fé cristã em
inserir-se num ambiente hostil, marcado por uma cultura pagã e por um conjunto
de valores que estão em contradição com a pureza da mensagem evangélica.
Um dos pontos onde havia uma notória dificuldade em conciliar os dados da fé
cristã com os valores do mundo grego era na questão da ressurreição. Enquanto
que a ressurreição dos mortos era relativamente bem aceite no judaísmo
(habituado a ver o homem na sua unidade), constituía um problema muito sério
para a mentalidade grega. A cultura grega estava fortemente influenciada por
filosofias dualistas, que viam no corpo uma realidade negativa e na alma uma
realidade nobre e ideal. Aceitar que a alma viveria sempre não era difícil para
a mentalidade grega... O problema era aceitar a ressurreição do homem total:
sendo o homem (de acordo com a mentalidade grega) constituído por alma e corpo,
como podemos falar da ressurreição do homem?
MENSAGEM
Frente às objecções e dúvidas dos coríntios,
Paulo parte da ressurreição de Cristo (cf. 1 Cor 15,1-11), para concluir que
todos aqueles que se identificarem com Cristo ressuscitarão também (cf. 1 Cor
15,12-34).
O nosso texto começa precisamente com a afirmação de que "Cristo
ressuscitou dos mortos, como primícias dos que morreram" (vers. 20). A sua
ressurreição não foi um caso único e excepcional, mas o primeiro caso.
"Primeiro" deve ser entendido aqui, não apenas em sentido
cronológico, mas sobretudo no sentido do princípio activo da ressurreição de
todos os outros homens e mulheres. Cristo foi constituído por Deus princípio de
uma nova humanidade; a sua ressurreição arrasta atrás de si toda a sua
"descendência" - isto é, todos aqueles que se identificam com Ele,
que acolheram a sua proposta de vida e o seguiram - ao encontro da vida plena e
eterna (vers. 21-23).
O destino dessa nova humanidade é o Reino de Deus. O Reino de Deus será uma
realidade onde o egoísmo, a injustiça, a miséria, o sofrimento, o medo, o
pecado, e até a morte (isto é, todos os inimigos da vida e do homem) estarão
definitivamente ausentes, pois terão sido vencidos por Cristo (vers. 24-26).
Nesse Reino definitivo, Deus manifestar-Se-á em tudo e actuará como Senhor de
todas as coisas (vers. 28).
A reflexão de Paulo lembra aos cristãos que o fim último da caminhada do crente
é a participação nesse "Reino de Deus" de vida plena e definitiva,
para o qual Cristo nos conduz.
ACTUALIZAÇÃO
A reflexão pode fazer-se a partir dos seguintes
dados:
• O nosso texto garante-nos que a meta final
da nossa caminhada é o Reino de Deus - isto é, uma realidade de vida plena e
definitiva, de onde a doença, a tristeza, o sofrimento, a injustiça, a
prepotência, a morte estarão ausentes. Convém ter sempre presente esta
realidade, ao longo da nossa peregrinação pela terra... A nossa vida presente
não é um drama absurdo, sem sentido e sem finalidade; é uma caminhada
tranquila, confiante - ainda quando feita no sofrimento e na dor - em direcção
a esse desabrochar pleno, a essa vida total que Deus nos reserva.
• Como é que aí chegamos? Paulo responde:
identificando-nos com Cristo. A ressurreição de Cristo é o "selo de
garantia" de Deus para uma vida oferecida ao projecto do Reino...
Demonstra que uma vida vivida na escuta atenta dos projectos do Pai e no amor e
no serviço aos homens conduz à vida plena; demonstra que uma vida gasta na luta
contra o egoísmo, a opressão e o pecado conduz à vida definitiva; demonstra que
uma vida gasta ao serviço da construção do Reino conduz à vida verdadeira... Se
a nossa vida for gasta do mesmo jeito, seguiremos Cristo na ressurreição,
atingiremos a vida nova do Homem Novo e estaremos para sempre com Ele nesse
Reino livre do sofrimento, do pecado e da morte que Deus reserva para os seus
filhos.
• Descobrir que o Reino da vida definitiva é a
nossa meta final significa eliminar definitivamente o medo que nos impede de
actuar e de assumir um papel de protagonismo na construção de um mundo novo.
Quem tem no horizonte final da sua vida o Reino de Deus, pode comprometer-se na
luta pela justiça e pela paz, com a certeza de que a injustiça, a opressão, a
oposição dos poderosos, a morte não podem pôr fim à vida que o anima. Ter como
meta final o Reino significa libertarmo-nos do medo que nos paralisa e
encontrarmos razões para um compromisso mais consequente com Deus, com o mundo
e com os homens.
ALELUIA - Mc 11,9.10
Aleluia. Aleluia.
Bendito O que vem em nome do Senhor!
Bendito o reino do nosso pai David!
EVANGELHO - Mt 25,31-46
Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo
São Mateus
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos:
«Quando o Filho do homem vier na sua glória
com todos os seus Anjos,
sentar-Se-á no seu trono glorioso.
Todas as nações se reunirão na sua presença
e Ele separará uns dos outros,
como o pastor separa as ovelhas dos cabritos;
e colocará as ovelhas à sua direita e os cabritos à sua esquerda.
Então o Rei dirá aos que estiverem à sua direita:
'Vinde, bem ditos de meu Pai;
recebei como herança o reino
que vos está preparado desde a criação do mundo.
Porque tive fome e destes-Me de comer;
tive sede e destes-me de beber;
era peregrino e Me recolhestes;
não tinha roupa e Me vestistes;
estive doente e viestes visitar-Me;
estava na prisão e fostes ver-Me'.
Então os justos Lhe dirão:
'Senhor, quando é que Te vimos com fome
e Te demos de comer,
ou com sede e Te demos de beber?
Quando é que Te vimos peregrino e te recolhemos,
ou sem roupa e Te vestimos?
Quando é que Te vimos doente ou na prisão e Te fomos ver?'
E o Rei lhes responderá:
'Em verdade vos digo: Quantas vezes o fizestes
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
a Mim o fizestes'.
Dirá então aos que estiverem à sua esquerda:
'Afastai-vos de Mim, malditos, para o fogo eterno,
preparado para o demónio e os seus anjos.
Porque tive fome e não Me destes de comer;
tive sede e não Me destes de beber;
era peregrino e não Me recolhestes;
estava sem roupa e não Me vestistes;
estive doente e na prisão e não Me fostes visitar'.
Então também eles Lhe hão-de perguntar:
'Senhor, quando é que Te vimos com fome ou com sede,
peregrino ou sem roupa, doente ou na prisão,
e não Te prestámos assistência?'
E Ele lhes responderá:
'Em verdade vos digo: Quantas vezes o deixastes de fazer
a um dos meus irmãos mais pequeninos,
também a Mim o deixastes de fazer'.
Estes irão para o suplício eterno
e os justos para a vida eterna».
AMBIENTE
Esta impressionante descrição do juízo final é
a conclusão das três parábolas precedentes (a "parábola do mordomo fiel e
do mordomo infiel" - cf. Mt 24,45-51; a "parábola das jovens
previdentes e das jovens descuidadas" - cf. Mt 25,1-13; a "parábola
dos talentos" - cf. Mt 25,14-30). Tanto no texto que nos é proposto como
nessas três parábolas aparecem dois grupos de pessoas que tiveram comportamentos
diversos enquanto esperavam a vinda do Senhor Jesus. O autor do texto mostra
agora qual será o "fim" daqueles que se mantiveram e daqueles que não
se mantiveram vigilantes e preparados para a vinda do Senhor.
Mais uma vez, para percebermos a catequese que Mateus aqui desenvolve, temos de
recordar o contexto da comunidade cristã a quem ela se destina. Estamos nos
últimos decénios do séc. I (década de 80). Já passou o entusiasmo inicial pela
vinda iminente de Jesus para instaurar o Reino definitivo. Os cristãos que constituem
a comunidade de Mateus estão desinteressados, instalados, acomodados; vivem a
fé de forma rotineira, morna, pouco exigente e pouco comprometida; alguns,
diante das dificuldades, deixam a comunidade e renunciam ao Evangelho...
Mateus, preocupado com a situação, procura revitalizar a fé, reacender o
entusiasmo, entusiasmar ao compromisso. Vai fazê-lo através de uma catequese
que convida à vigilância, enquanto se espera o encontro final com Cristo.
No texto que nos é proposto, Mateus mostra aos crentes da sua comunidade - com
a linguagem veemente dos pregadores da época - o que espera, no final da
caminhada, quer aqueles que se mantiveram vigilantes e viveram de acordo com os
ensinamentos de Jesus, quer aqueles que se esqueceram dos valores do Evangelho
e que conduziram a vida de acordo com outros interesses e preocupações.
MENSAGEM
A parábola do juízo final começa com uma
introdução (vers. 31-33) que apresenta o quadro: o "Filho do Homem"
sentado no seu trono, a separar as pessoas umas das outras "como o pastor
separa as ovelhas dos cabritos".
Vêm, depois, dois diálogos. Um, entre "o rei" e "as
ovelhas" que estão à sua direita (vers. 34-40); outro, entre "o
rei" e os "cabritos" que estão à sua esquerda (vers. 41-46). No
primeiro diálogo, o "rei" acolhe as "ovelhas" e convida-as
a tomar posse da herança do "Reino"; no segundo diálogo, o
"rei" afasta os "cabritos" e impede-os de tomar posse da
herança do Reino. Porquê? Qual é o critério que "o rei" utiliza para
acolher uns e rejeitar outros?
A questão decisiva parece ser, na perspectiva de Mateus, a atitude de amor ou
de indiferença para com os irmãos mais pequenos de Jesus, que se encontram em
situações dramáticas de necessidade - os que têm fome, os que têm sede, os
peregrinos, os que não têm que vestir, os que estão doentes, os que estão na
prisão... Jesus identifica-Se com os pequenos, os pobres, os débeis, os
marginalizados; manifestar amor e solidariedade para com o pobre é fazê-lo ao
próprio Jesus e manifestar egoísmo e indiferença para com o pobre é fazê-lo ao
próprio Jesus.
A cena pode interpretar-se de duas maneiras, dependendo de como entendemos a
palavra "irmão". Entendida em sentido genérico, a palavra
"irmão" designaria qualquer homem; neste caso, a exortação de Jesus
convida os que querem entrar no Reino a ir ao encontro de qualquer homem que
tenha fome, que tenha sede, que seja peregrino, que esteja nu, esteja doente ou
que esteja na prisão, para lhe manifestar amor e solidariedade. Entendida num
sentido mais restrito, a palavra "irmão" designaria os membros da
comunidade cristã... De qualquer forma, os dois sentidos não se excluem; e é
possível que Mateus se refira às duas realidades.
A exortação que Mateus lança à sua comunidade cristã (e às comunidades cristãs
de todos os tempos e lugares) nas parábolas precedentes ganha, assim, uma força
impressionante à luz desta cena final. Com os dados que este Evangelho nos
apresenta, fica perfeitamente evidente que "estar vigilantes e
preparados" (que é o grande tema do "discurso escatológico" dos
capítulos 24 e 25) consiste, principalmente, em viver o amor e a solidariedade
para com os pobres, os pequenos, os desprotegidos, os marginalizados. Em última
análise, é esse o critério que decide a entrada ou a não entrada no Reino de
Deus.
Esta exortação dirige-se a uma comunidade que negligencia o amor aos irmãos,
que vive na indiferença ao sofrimento dos mais débeis, que é insensível ao
drama dos pobres e que não cuida dos pequenos e dos desprotegidos. Como essas
são atitudes que não se coadunam com a lógica do Reino, quem vive desse jeito
não poderá fazer parte do Reino.
A cena do juízo final será uma descrição exacta e fotográfica do que vai
acontecer no final dos tempos?
É claro que não. Mateus não é um repórter, mas um catequista a instruir a sua
comunidade sobre os critérios e as lógicas de Deus. O objectivo do catequista
Mateus é deixar bem claro que Deus não aprova uma vida conduzida por critérios
de egoísmo, onde não há lugar para o amor a todos os irmãos, particularmente
aos mais pobres e débeis. Um dos pormenores mais sugestivos é a identificação
de Cristo com os famintos, os abandonados, os pequenos, os desprotegidos: todos
eles são membros de Cristo e não os amar é não amar Cristo. Dizer que se ama
Cristo e não viver do jeito de Cristo, no amor a todos os homens, é uma mentira
e uma incoerência.
Deus condena os maus ("os cabritos") ao inferno? Não. Deus não
condena ninguém. Quem se condena ou não é o homem, na medida em que não aceita
ou aceita a vida que Deus lhe oferece. E haverá alguém que, tendo consciência
plena do que está em jogo, rejeite o amor e escolha, em definitivo, o egoísmo,
o orgulho, a auto-suficiência - isto é, o afastamento definitivo de Deus e do
Reino? Haverá alguém que, percebendo o sem sentido dessas opções, se obstine
nelas por toda a eternidade?
Então, porque é que Mateus põe Deus a dizer aos "cabritos":
"afastai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo
e para os seus anjos"? Porque Mateus é um pregador veemente, que usa a
técnica dos pregadores da época e gosta de recorrer a imagens fortes que toquem
o auditório e que o levem a sentir-se interpelado. Para além dos exageros de
linguagem, a mensagem é esta: o egoísmo e a indiferença para com o irmão não
têm lugar no Reino de Deus.
ACTUALIZAÇÃO
Considerar os seguintes pontos:
• Quem é que a nossa sociedade considera uma
"pessoa de sucesso"? Qual o perfil do homem "importante"?
Quais são os padrões usados pela nossa cultura para aferir a realização ou a
não realização de alguém? No geral, o "homem de sucesso", que todos
reconhecem como importante e realizado, é aquele que tem dinheiro suficiente
para concretizar todos os sonhos e fantasias, que tem poder suficiente para ser
temido, que tem êxito suficiente para juntar à sua volta multidões de
aduladores, que tem fama suficiente para ser invejado, que tem talento
suficiente para ser admirado, que tem a pouca vergonha suficiente para dizer ou
fazer o que lhe apetece, que tem a vaidade suficiente para se apresentar aos
outros como modelo de vida... No entanto, de acordo com a parábola que o
Evangelho propõe, o critério fundamental usado por Jesus para definir quem é
uma "pessoa de sucesso" é a capacidade de amar o irmão, sobretudo o
mais pobre e desprotegido. Para mim, o que é que faz mais sentido: o critério
do mundo ou o critério de Deus? Na minha perspectiva, qual é mais útil e
necessário: o "homem de sucesso" do mundo ou o "homem de
sucesso" de Deus?
• O amor ao irmão é, portanto, uma condição
essencial para fazer parte do Reino. Nós cristãos, cidadãos do Reino, temos
consciência disso e sentimo-nos responsáveis por todos os irmãos que sofrem? Os
que não têm trabalho, nem pão, nem casa, podem contar com a nossa solidariedade
activa? Os imigrantes, perdidos numa realidade cultural e social estranha,
vítimas de injustiças e violências, condenados a um trabalho escravo e que,
tantas vezes, não respeita a sua dignidade, podem contar com a nossa
solidariedade activa? Os pobres, vítimas de injustiças, que nem sequer têm a
possibilidade de recorrer aos tribunais para que lhes seja feita justiça, podem
contar com a nossa solidariedade activa? Os que sobrevivem com pensões de
miséria, sem possibilidades de comprar os medicamentos necessários para aliviar
os seus padecimentos, podem contar com a nossa solidariedade activa? Os que
estão sozinhos, abandonados por todos, sem amor nem amizade, podem contar com a
nossa solidariedade activa? Os que estão presos a um leito de hospital ou a uma
cela de prisão, marginalizados e condenados em vida, podem contar com a nossa
solidariedade activa?
• O Reino de Deus - isto é, esse mundo novo
onde reinam os critérios de Deus e que se constrói de acordo com os valores de
Deus - é uma semente que Jesus semeou, que os discípulos são chamados a
edificar na história (através do amor) e que terá o seu tempo definitivo no
mundo que há-de vir. Não esqueçamos, no entanto, este facto essencial: o Reino
de Deus está no meio de nós; a nossa missão é fazer com que ele seja uma
realidade bem viva e bem presente no nosso mundo. Depende de nós fazer com que
o Reino deixe de ser uma miragem, para passar a ser uma realidade a crescer e a
transformar o mundo e a vida dos homens.
• Alguém acusou a religião cristã de ser o
"ópio do povo", por pôr as pessoas a sonhar com o mundo que há-de
vir, em lugar de as levar a um compromisso efectivo com a transformação do
mundo, aqui e agora. Na verdade, nós os cristãos caminhamos ao encontro do
mundo que há-de vir, mas de pés bem assentes na terra, atentos à realidade que
nos rodeia e preocupados em construir, desde já, um mundo de justiça, de
fraternidade, de liberdade e de paz. A experiência religiosa não pode, nunca,
servir-nos de pretexto para a evasão, para a fuga às responsabilidades, para a
demissão das nossas obrigações para com o mundo e para com os irmãos.
ALGUMAS SUGESTÕES PRÁTICAS PARA O 34º DOMINGO
DO TEMPO COMUM
(adaptadas de "Signes d'aujourd'hui")
1. A PALAVRA MEDITADA AO LONGO DA SEMANA.
Ao longo dos dias da semana anterior ao 34º Domingo do Tempo Comum, procurar
meditar a Palavra de Deus deste domingo. Meditá-la pessoalmente, uma leitura em
cada dia, por exemplo... Escolher um dia da semana para a meditação comunitária
da Palavra: num grupo da paróquia, num grupo de padres, num grupo de movimentos
eclesiais, numa comunidade religiosa... Aproveitar, sobretudo, a semana para
viver em pleno a Palavra de Deus.
2. DURANTE A CELEBRAÇÃO.
Porque se trata da "Parusia", da vinda de Cristo na glória, no fim
dos tempos, procurar-se-á visualizar, se possível com um poster, um símbolo que
signifique a glória de Cristo que vem sobre o mundo. Além disso, procure-se, ao
longo da celebração, pôr em realce as diversas aclamações a Cristo,
particularmente festejado hoje.
3. PALAVRA DE VIDA.
A sua coroa será feita de espinhos... O seu trono será uma cruz... O seu poder
diferente do poder do mundo... O seu mandamento será o do Amor... O seu
exército será composto por homens desarmados... A sua Lei são as
bem-aventuranças... O seu Reino será um mundo de paz... Decididamente, este rei
não é como os outros, porque o seu Reino não é deste mundo. Contudo, nós somos
os seus sujeitos convidados a segui-l'O, e mesmo a fazer com que se realize
este Reino. Fazemo-lo sempre que somos artífices da paz e nos amamos como Ele
nos ama. Nada mais... mas nada menos!
4. UM PONTO DE ATENÇÃO.
Valorizar as aclamações... Pôr em realce, hoje, as aclamações habituais. Um
belo ícone de Cristo em majestade pode ser colocado em destaque, no princípio
da celebração, durante o cântico de entrada. Depois das palavras de introdução,
canta-se o Glória a Deus, cuja maior parte é um hino a Cristo. O Aleluia será a
ocasião de uma aclamação solene, mais desenvolvida hoje, enquanto o
Evangeliário é apresentado à assembleia. No final da celebração, alguém pega no
ícone e apresenta-o à assembleia, que canta um cântico de glória a Cristo. O
cântico que serve de anamnese na Eucaristia pode ser retomado aqui em forma de
aclamação.
5. PARA A SEMANA QUE SE SEGUE...
Dar ternura e reconforto aos "pequenos"... Pessoalmente e em
comunidade cristã, empenhemo-nos nesta semana em dar, em nome do Senhor,
ternura e reconforto aos "pequenos" até aqui ignorados e tão próximos
(no nosso prédio, bairro, cidade... e, quem sabe, até na nossa casa, comunidade
cristã, comunidade religiosa...).
UNIDOS PELA PALAVRA DE DEUS
PROPOSTA PARA
ESCUTAR, PARTILHAR, VIVER E ANUNCIAR A PALAVRA NAS COMUNIDADES DEHONIANAS
Grupo Dinamizador:
P. Joaquim Garrido, P. Manuel Barbosa, P. José Ornelas Carvalho
Província Portuguesa dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos)
Rua Cidade de Tete, 10 - 1800-129 LISBOA - Portugal
Tel. 218540900 - Fax: 218540909
portugal@dehonianos.org - www.dehonianos.pt
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