30º DOMINGO
DO TC 25/10/2012
1ª Leitura
Jeremias 31, 7-9
Salmo 125
(126) , 3 “Sim, o Senhor fez por nós grandes coisas; ficamos exultantes de
alegria”
2ª Leitura
Hebreus 5, 1-6
Evangelho
Marcos 10, 46-52
Sentado
a beira do Caminho...
Há uma
canção de Roberto e Erasmo Carlos, que eu vivia cantarolando nos meus tempos de
jovem, quando tomado por alguma tristeza ou decepção, o poeta compositor da
letra, fala de alguém, que por conta de uma decepção amorosa, desistiu de viver
e ficou sentado á beira do caminho, onde até a poeira é triste. A dinâmica da
vida nos impele a caminhar, quem não se deixa contagiar por esse dinamismo,
acaba ficando fora do processo, a letra da canção mostra bem esse sentimento de
que não existimos, quando a pessoa a quem amamos permanece indiferente “Preciso
lembrar que eu existo....”. Quem é esse cego Bartimeu, mendigando amor á beira
de um caminho, senão o próprio homem, que não conhecendo a Deus revelado em
Jesus, lhe permanece indiferente? A pós modernidade oferece ao homem Muitas
“luzes” na ciência, na tecnologia, no avanço das pesquisas, acontece que o ser
humano, apropriando-se desses bens, que são dons de Deus, julga ver tudo,
compreender tudo, e sentindo-se Senhor absoluto da situação, pensa e faz o que
quer, usa sua liberdade da pior maneira possível e fazendo coro ao racionalismo
dos intelectuais, decreta a morte de Deus. Entretanto, um belo dia este homem
prepotente e arrogante, irá descobrir-se como este cego de Jericó. Tem tudo mas
não tem a graça de Deus, que Jesus trouxe com a Salvação. Nesse sentido não se
conhece, porque não conhece a Jesus, é cego, porque não viu em sua vida a luz
da verdade, está a margem da verdadeira vida, é um milionário mendigando um
pouco de amor áquele que é amor.
Em um
coração e uma alma, ferida pela descrença, agonizante de vida e esperança, é
que sai esse grito de Bartimeu, ao saber que Jesus de Nazaré passava por ali,
bem ao lado de onde ele expunha aos que passavam, a sua miséria vergonhosa.
“Jesus, Filho de Davi, tem compaixão de mim!”. Foi assim que Jesus, o Verbo
Encarnado de Deus, encontrou o homem, morto pelo pecado, andarilho e mendigo á
beira da estrada da Vida, sem forças para caminhar, em sua cegueira tenebrosa.
No canto da Verônica, no caminho do calvário, inverte-se esse quadro e Jesus
ocupa o lugar que é do homem “Oh Vós todos que passais, vinde ver se há uma dor
igual a minha...”
Na
verdade é a humanidade toda que estava á beira do caminho, sucumbida em sua
miséria, quem passa é Jesus, que não fica indiferente as nossas chagas e
feridas, como o Sacerdote e o Levita, na parábola do Bom Samaritano, que ouviu
por certo os gemidos daquele homem caído á beira do caminho, Jesus também ouviu
nossos lamentos e queixumes, o grito desesperado de quem perdeu quase toda a esperança,
“Senhor, Tende compaixão”.
Sempre
haverá vozes contrárias, tentando abafar esse grito de quem já não encontra
mais razão para viver, há aqueles que como esse grupo numeroso que segue a
Jesus, querem dele se apossar, fecham o anúncio e a graça em suas “Igrejinhas
particulares”, idealizam um Jesus exclusivo que só atende a eles, os santos,
justos e perfeitos, é o grito dos casais em segunda união, talvez, é o grito de
tantas jovens mães solteiras, de drogados e prostituídos, de pessoas rotuladas
como irrecuperáveis, banidos de nossas relações, explorados pelo sistema
pecaminoso, e oprimidos muitas vezes pelo próprio poder religioso, de tantas
igrejas que se intitulam de “Cristãs”.
O grito
de desespero não passa despercebido por Jesus, quando o seu povo gemia sob o
chicote dos Faraós do Egito, Deus ouviu, viu e desceu para libertá-los. A
Igreja de Cristo não pode tapar os ouvidos diante de tantos que gritam, as
vezes dentro da própria comunidade, a Igreja de Cristo não pode abafar o clamor
dos pequenos que perderam a esperança e a ela recorrer, deve ser aquela que
chama o cego, o acolhe em seu meio, coloca as pastorais a disposição para lhe
curar as feridas, e mais ainda, o encoraja a fazer esse encontro pessoal com
aquele que é a Vida, a Verdade, o caminho . Coragem! Levanta-te, Ele te chama!
Jesus chama esse homem cego, morto, como um dia chamou a Lázaro, inerte no
fundo de uma sepultura. O chamado de Jesus é para a Vida, para desencostarmos
do barranco do comodismo, e de olhos bem abertos, na visão da Fé, abraçar o
discipulado com coragem e desprendimento.
Impressionante
a reação do cego, ao saber que Jesus o chamava, sentiu-se importante, deu um
salto e foi ter com ele, jogando a capa de lado. Era a única coisa que possuía,
mas despojou-se dela ao conhecer Jesus, ao descobrir-se amado e querido por
Deus, ao sentir que todo esse amor está presente em Jesus, redobra a força e a
coragem, descobre a nova razão de viver, por isso consegue “pular” do seu
canto, Jesus é o seu protetor, o seu amor o envolverá totalmente, não precisa
mais de nenhuma outra capa.
O seu
desejo de VER, manifestado com simplicidade diante de Jesus, foi atendido,
“Vai, a tua fé te salvou” – lhe dirá o Senhor. Ir para onde? Para o caminho do
discipulado. Salvos pela fé, todos os que fizeram e fazem, essa experiência de
ter uma nova visão, no encontro pessoal com Jesus, tornam-se seus discípulos,
ontem e hoje, e todos juntos, enquanto Igreja, deixam-se conduzir pelo
dinamismo desta vida nova, percorrendo as estradas do mundo, para encorajar os
que estão á margem, e chamá-los para se encontrarem também eles com Jesus, a
Luz Verdadeira, diante da qual as trevas não resistem.... (XXX Domingo do Tempo
Comum Mc 10, 46-52)
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