23- Sexta - Evangelho - Lc 12,54-59
Interessante é podermos ler e meditar os textos bíblicos, também com os seus paralelos, como acontece com Lc 12,54-59 – semelhante a passagem presente em Mt 16,1-3 – para então percebermos melhor o contexto.
Jesus, pra variar, estava
sob o fogo dos fariseus e saduceus que reclamavam dele um sinal messiânico (cf.
Mt 16,1). Então Cristo, tão paciente quanto profético, recusou-se em dar um
“espetáculo” visto ser O Sinal, Sacramento do Pai das misericórdias enviado
para salvar o mundo, ou como bem expressou o teólogo São Paulo: «Ele é a imagem de Deus invisível, o primogênito de toda a
criação» (Cl 1,15).
Por isso, num transbordar de misericórdia, Jesus
Cristo não se calou e nem virou as costas para quem exigia um “peixe” Àquele
que já havia multiplicado milagrosamente e distribuído às multidões. Pedir com
fé e humildade é totalmente diferente do que a arrogância espiritual de
pretender colocar Deus “na parede”.
Ano da Fé: tempo propício para descobrirmos o
Deus que é maior do que a “parede” do desespero e orgulho espiritual. Deus
único e verdadeiro que nunca se deixa manipular por uma caricatura de fé que
acha ser possível curvar o Senhor do mundo ao mundo dos meus desejos egoístas e
decisões injustas.
Mas, retornando ao
Evangelho, encontramos Jesus que não se cansa do ser humano por amá-lo
extraordinariamente. Por isso, resolveu “dar a vara para pescar” no oceano da
Misericórdia Divina: «Sabeis avaliar o aspecto da
terra e do céu. Como é que não sabeis avaliar o tempo presente? Por que não
julgais por vós mesmos o que é justo?» (Lc 12,56). De fato, as
pessoas daquele tempo que se depararam com Jesus de Nazaré, tiveram – no
presente de suas vidas – a mesma oportunidade de conhecer e proclamar: «a insondável riqueza de Cristo» (Ef 3,8).
Bastava crer e querer. Ou querer crer, para
receber do Espírito Santo o auxílio necessário para se viver pela fé que se
manifesta por obras de amor (cf. Gl 5,6). Mas será que o tempo presente está
blindado para semelhantes experiências de fé? Claro que não! Há fé, existe
liberdade!
Neste Ano da Fé, meditemos as verdades presentes
no Catecismo da Igreja Católica que também aponta para a “vara de pesca”
necessária à barca de Pedro, a qual tem como mastro principal a Cruz do
Salvador do mundo e Reconciliador do Pai: «Antes de mais, a fé é uma adesão
pessoal do homem a Deus. Ao mesmo tempo, e inseparavelmente, é o assentimento
livre a toda a verdade revelada por Deus» (CIC, nº 150).
Eis uma verdade de fé
fundamental: «Jesus Cristo é o mesmo, ontem hoje e sempre» (Hb
13,8). Por isso, hoje e sempre – até a volta gloriosa do Senhor Jesus – será
preciso crer e decidir-se por esta Fé-Revelação, a qual precisa ser abraçada no
tempo presente de nossas vidas, até a Eternidade futura chegar. Uma vida de fé,
que não se deixa prender pelo individualismo espiritual, como alertou o Papa
Bento XVI: «O cristão não pode jamais pensar que o crer seja um fato privado»
(Porta Fidei, nº 10).
Então, como estranhar no
Evangelho de hoje um contexto de vigilância (cf. Lc 12) tão atento à nossa vida
relacional e à reconciliação? «Quando pois, estás indo com
teu adversário apresentar-te diante do magistrado, procura resolver o caso com
ele enquanto ainda a caminho. Senão ele te levará ao juiz, o juiz te entregará
ao oficial de justiça, e o oficial de justiça te jogará na prisão» (Lc
12,58). Reflitamos sobre isso e oremos:
Senhor, tende misericórdia de nós. Dai-nos no
tempo presente uma fé que faça a diferença pelo amor comunicado e por uma
esperança transformadora das nossas atitudes e do mundo inteiro. Virgem Maria,
ajudai-nos a crer com e como a Igreja! Amém.
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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