31- Sábado - Evangelho - Lc 14,1.7-11
Este Evangelho nos ajuda a corrigir um preconceito sumamente difundido. «Num sábado, Jesus entrou para comer na casa de um dos principais fariseus. Eles o observavam atentamente». Ao ler o Evangelho a partir de um certo ponto de vista, acabou-se fazendo dos fariseus o modelo de todos os vícios: hipocrisia, falsidade; os inimigos por antonomásia de Jesus. Com estes significados negativos, o termo «fariseu» passou a fazer parte do dicionário de nossa língua e de outras muitas.
Semelhante
idéia dos fariseus não é correta. Entre eles havia certamente muitos elementos
que respondiam a esta imagem e Cristo os enfrenta. Mas nem todos eram assim.
Nicodemos, que vai ver Jesus de noite e que depois o defende ante o Sinédrio,
era um fariseu (cf. João 3, 1; 7, 50ss). Também Saulo era fariseu antes da
conversão, e era certamente uma pessoa sincera e zelosa, ainda que não
estivesse bem iluminado. Outro fariseu era Gamaliel, que defendeu os apóstolos
ante o Sinédrio (cf. Atos 5, 34 e seguintes).
As
relações de Jesus com os fariseus não foram só de conflito. Compartilhavam
muitas vezes as mesmas convicções, como a fé na ressurreição dos mortos, no
amor de Deus e no compromisso como primeiro e mais importante mandamento da
lei. Alguns, como neste caso, inclusive o convidam para uma refeição em sua
casa. Hoje se considera que mais que os fariseus, quem queria a condenação de
Jesus eram os saduceus, a quem pertencia a casta sacerdotal de Jerusalém.
Por
todos estes motivos, seria sumamente desejável deixar de utilizar o termo
«fariseu» em sentido depreciativo. Ajudaria ao diálogo com os judeus, que
recordam com grande honra o papel desempenhado pela corrente dos fariseus em
sua história, especialmente após a destruição de Jerusalém.
Durante
a refeição, naquele sábado, Jesus ofereceu dois ensinamentos importantes: um
dirigido aos «convidados» e outro para o «anfitrião». Ao dono da casa, Jesus
disse (talvez diante dele ou só em presença de seus discípulos): «Quando deres
um almoço ou um jantar, não convides seus amigos, nem seus irmãos, nem seus
parentes, nem os vizinhos ricos…». É o que o próprio Jesus fez, quando convidou
ao grande banquete do Reino os pobres, os alitos, os humildes, os famintos, os
perseguidos.
Mas
nesta ocasião quero deter-me a meditar no que Jesus diz aos «convidados». «Se
te convidam a um banquete de bodas, não te coloques no primeiro lugar…». Jesus
não quer dar conselhos de boa educação. Nem sequer pretende alentar o sutil
cálculo de quem se põe em uma fila, com a escondida esperança de que o dono lhe
peça que se aproxime. A parábola nisso pode dar pé ao equívoco, se não se levar
em consideração o banquete e o dono dos quais Jesus está falando. O banquete é
o universal do Reino e o dono é Deus.
Na
vida, quer dizer Jesus, escolhe o último lugar, procura contentar os demais
mais que a ti mesmo; sê modesto na hora de avaliar seus méritos, deixa que
sejam os demais quem os reconheçam e não tu («ninguém é bom juiz em causa
própria»), e já desde esta vida Deus te exaltará. Ele te exaltará com sua
graça, te fará subir na hierarquia de seus amigos e dos verdadeiros discípulos
de seu Filho, que é o que realmente importa.
Ele
te exaltará também na estima dos demais. É um fato surpreendente, mas verdadeiro.
Não só Deus «se inclina ante o humilde e rejeita o soberbo» (cf. Salmo 107, 6);
também o homem faz o mesmo, independentemente do fato de ser crente ou não. A
modéstia, quando é sincera, não artificial, conquista, faz que a pessoa seja
amada, que sua companhia seja desejada, que sua opinião seja desejada.
Vivemos
em uma sociedade que tem suma necessidade de voltar a escutar esta mensagem
evangélica sobre a humildade. Correr para ocupar os primeiros lugares, talvez
pisoteando, sem escrúpulos, a cabeça dos demais, são características
desprezadas por todos e, infelizmente, seguidas por todos. O Evangelho tem um
impacto social, inclusive quando fala de humildade e hospitalidade.
Pai,
faz-me humilde e discreto no trato humano. E que eu não aspire grandeza humana.
Basta-me ser reconhecido e exaltado por ti.
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