28/10/2015
S. Simão e S.
Judas, Apóstolos
Os
apóstolos, que hoje celebramos, ocupam uma posição bastante discreta nos
evangelhos. Simão é cognominado “zelote” por Lucas, talvez porque pertencia ao
grupo antirromano dos zelotes. Mateus e Marcos qualificam-no como “cananeu”
(10, 3; 3, 18). O apóstolo Judas, cognominado “Tadeu” por Mateus e Marcos (10,
3; 3, 18), é qualificado por Lucas como “
filho
de Tiago” (6, 16) e, portanto, primo do Senhor. É este Judas que, na última
ceia, diz a Jesus: “Porque te hás-de manifestar a nós e não te manifestarás ao
mundo?»” (Jo 14, 22). Uma das Cartas Católicas, na qual se previne os cristãos
contra os falsos doutores que se haviam infiltrado nas comunidades, é-lhe
atribuída. De acordo com uma tradição oriental, os dois apóstolos terão levado
o Evangelho até ao Cáucaso, onde teriam sido martirizados. A sua festa,
celebrada no Oriente desde o século VI, passou a ser celebrada em Roma no
século IX.
Lectio
Primeira
leitura: Efésios 2, 19-22
Irmãos: Já não sois
estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa
de Deus, 20edificados
sobre o alicerce dos Apóstolos e dos Profetas, tendo por pedra angular o
próprio Cristo Jesus. 21É
nele que toda a construção, bem ajustada, cresce para formar um templo santo,
no Senhor. 22É
nele que também vós sois integrados na construção, para formardes uma habitação
de Deus, pelo Espírito.
Na perspetiva de
Paulo, o ministério de Cristo e o da Igreja estão intimamente ligados entre si.
A unidade e a paz que há entre os cristãos, de origem pagã, ou deorigem
hebraica, é dom de Deus Pai, por meio de Cristo Senhor, no Espírito Santo. A
Igreja é como que um grande edifício, um templo santo, morada de Deus entre os
homens. Os apóstolos, nossos pais na fé, com os profetas, são o fundamento
desse edifício, onde nos sentimos “concidadãos dos santos e membros da casa de
Deus” (v. 19). A “pedra angular” é Cristo (v. 20). Nesta perspetiva
cristológica, a eclesiologia de Paulo torna-se particularmente clara. A
presença, a função e o ministério dos apóstolos assume toda a sua importância.
A Igreja é, pois, una, santa, católica e apostólica.
Evangelho:
Lucas 6, 12-19
Naqueles dias, Jesus
foi para o monte fazer oração e passou a noite a orar a Deus. 13Quando nasceu o dia,
convocou os discípulos e escolheu doze dentre eles, aos quais deu o nome de
Apóstolos: 14Simão,
a quem chamou Pedro, e André, seu irmão; Tiago, João, Filipe e Bartolomeu;15Mateus e Tomé; Tiago, filho de
Alfeu, e Simão, chamado o Zelote; 16Judas,
filho de Tiago, e Judas Iscariotes, que veio a ser o traidor.17Descendo com eles, deteve-se
num sítio plano, juntamente com numerosos discípulos e uma grande multidão de
toda a Judeia, de Jerusalém e do litoral de Tiro e de Sídon, 18que acorrera para o
ouvir e ser curada dos seus males. Os que eram atormentados por espíritos
malignos ficavam curados; 19e
toda a multidão procurava tocar-lhe, pois emanava dele uma força que a todos
curava.
Jesus dá particular
atenção ao grupo dos Doze: escolhe-os (Lc 6, 12-19), institui-os como colégio
(Mc 3, 13-19) e envia-os em missão (Mt 10, 1-15). Lucas anota que Jesus prepara
a escolha dos Doze com uma noite de oração (6, 12). Antes de os escolher, Jesus
chama os seus discípulos: o chamamento, a vocação, está sempre na origem de
toda a instituição e ministério eclesial. Depois de os chamar, Jesus impõe-lhes
o nome de apóstolos. A nota de Lucas pretende certamente exprimir a importância
do colégio dos Doze na Igreja que Jesus está para fundar.
Meditatio
A festa dos santos
apóstolos Simão e Judas oferecem-nos ensejo para refletirmos e tornarmos mais
clara consciência da Igreja, que é simultaneamente corpo de Cristo e templo do
Espírito Santo. São duas dimensões imprescindíveis. Não se pode receber o
Espírito Santo sem pertencer ao corpo de Cristo. A razão é clara: o Espírito
Santo é o Espírito de Cristo, que se recebe no corpo de Cristo. A Igreja,
todavia, tem um aspeto visível. Por isso, Cristo escolheu os Doze e continua a
escolher os seus sucessores, para formar a estrutura visível do seu corpo,
quase em continuação da Incarnação. Pertencendo ao corpo de Cristo, podemos
receber o seu Espírito e ser intimamente unidos a Ele num só corpo e num só
Espírito.
Um outro aspeto que
esta festa nos permite colher é a relação entre a oração e a missão. Jesus
demora-se em oração antes de decidir a escolha dos Doze. É preciso rezar para
discernir o projeto de Deus. É preciso rezar em ordem às grandes decisões da
vida pessoal e comunitária. Nesta perspetiva, a oração não é um momento
separado do resto da vida, mas uma atitude prévia à nossa experiência de vida
pessoal e eclesial. Rezar antes de iniciar a missão pessoal e/ou comunitária
significa confiá-la Àquele que é o seu primeiro responsável, o dono da vinha, o
pastor do rebanho, o Senhor do povo.
“Reconhecemos que da
oração assídua depende… a fecundidade do nosso apostolado.” (Cst 76).
Oratio
Senhor Jesus, na festa
de S. Simão e S. Judas, quero pedir-te a graça de, como os santos apóstolos, me
tornar teu familiar e amigo. Então virás, com o Pai e com o Espírito Santo
estabelecer em mim a tua morada. Que eu seja todo para ti, para o teu amor, para
o apostolado, cooperação na tua obra redentora no coração do mundo. Ámen.
Contemplatio
Os dois apóstolos, que
deviam ter-se conhecido na sua juventude em Caná, terminaram juntos o seu
apostolado na Pérsia. Lá quiseram obrigá-los a oferecer sacrifícios ao Sol;
preferiram dar a sua vida por Jesus Cristo. A sua morte foi ainda para ambos um
ato de caridade, no seu objeto e nas suas circunstâncias. S. Simão estava num
templo onde queriam obrigá-lo a sacrificar aos ídolos. Um anjo disse-lhe:
«Far-te-ei sair do templo e farei ruir sobre eles todo o edifício». - «Não,
respondeu Simão, deixai-os viver. Pode ser que alguns deles venham a
converter-se». Enfim, um anjo disse a ambos: «Que escolheis? Ou a morte para
vós ou o extermínio deste povo ímpio?» Os dois apóstolos exclamaram:
«Misericórdia para este povo! Que o martírio seja a nossa herança». A sua morte
foi uma semente de conversões. Unidos na sua vida, foram-no na morte, e são-no
também no culto que lhes é prestado. A Igreja honra-os no mesmo dia. Os seus
corpos reuniram-se a S. Pedro em Roma. Devo imitá-los no seu amor por Jesus, na
sua fidelidade e no seu zelo pela salvação do próximo. (L. Dehon, OSP 4,
p. 402s.).
Actio
Repete muitas vezes e
vive hoje a palavra:
“Sois concidadãos
dos santos
e membros da
casa de Deus” (Ef 2, 19).
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S. Simão e S. Judas,
Apóstolos (28 Outubro)
Ótimo comentário obrigado.
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