Comentários Prof.Fernando* 30º domingo do TEMPO COMUM
– 25 de
outubro de 2015
Alegria de voltar para casa
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O primeiro texto e o Salmo (125)126 são gritos de alegria. A redação de
Marcos conta o episódio de Bartimeu, o cego curado pelo Mestre de Nazaré cura -
protótipo de quem crê na passagem de Deus por nossas vidas. É mais fácil
entender a alegria se compreendemos a noite de tristeza antes da mudança.
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A alegria do profeta é devida ao retorno à pátria, possível com o fim do
exílio que o povo de Israel viveu durante 50 anos em Babilônia. Foi tempo de
grande sofrimento coletivo, pois no passado conheceram a liberdade (Moisés,
Êxodo, posse da terra prometida). Expulsos de casa (como milhões, refugiados e
migrantes de hoje, nas fronteiras da Europa) perderam as suas referências (no
caso dos judeus do século 6ºaC: sua terra, seu Templo, sua autonomia política e
governo próprio). Sua terra, principalmente, era o sinal da grande Aliança,
realizada entre o Criador e seres humanos – novidade teológica da história de Israel
que outros povos seus contemporâneos não iriam admitir: Deus, lado a lado com o
povo, num “acordo” entre o eterno e os mortais...
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Os expatriados são residentes, mas estrangeiros. Certamente – de modo
semelhante ao sírios, iraquianos, iazides e dezenas de outras etnias e minorias
em fuga do Oriente e da África – eles viviam sob preconceito, xenofobia,
perseguição e desprezo dos nativos. Como poderiam assim manter suas crenças,
praticar suas leis, preservar suas tradições e sua religião, sem Templo e sem
as demais referências históricas, políticas e sociais?
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Foi na fragilidade total que
Israel pôde aprofundar o significado da Aliança: depender inteiramente da
benevolência divina. Na dor do exílio o povo não via Esperança a não ser a de
um novo Milagre, como o do antigo Êxodo. A única alternativa foi meditar na
antiga Palavra, transmitida há muitas gerações. Um grupo de líderes montou a
grande revisão das tradições para a compilação dos textos que deram origem aos
livros atuais da Toráh. Exemplo deste trabalho é o grande hino da Criação no
cap.1 do Gênesis onde se reafirma a fé no Criador por contraposição a uma
cultura adoradora da astrologia celeste e de outros deuses sobre a terra.
O Milagre, a Fé e o milagre da fé
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O conceito mais comum
de Milagre julga que é uma intervenção extraordinária de Deus longe das ações
humanas. Ele, no entanto, de alguma forma misteriosa para nós, está sempre
“intervindo” no íntimo dos corações humanos. Isso acontece de modo a que tudo
“coopere para o bem” final. Na mente divina só existe um desejo em relação a
suas criaturas: que elas encontrem eu rumo no caminho até sua plenitude em
Deus. Assim, por exemplo, Ciro ao derrotar Egito e Babilônia, torna-se
libertador dos povos e culturas que passam a ser administradas pelo seu império
persa a ponto de ser chamado por alguns profetas com o título de “Messias”,
“Ungido” como eram os reis em Israel para conduzir a salvação do seu povo. A
nova política persa livrou os expatriados da grande escuridão do exílio,
permitindo o retorno à terra natal e a liberdade de culto e organização. O
salmo 125(126) exprime esta alegria assim: a gente parecia estar sonhando!! “Tinham partido chorando e na consolação eu
os trago de volta”. Algumas expressões também frisam esta imagem da
divindade: a de um pai amoroso que vive ao lado de seus filhos. A experiência
do sofrimento, por sua vez, é comparada à preparação da terra na lavoura: semearam com lágrimas, mas agora colhem na
alegria (versos 5-6). Não é só a alegria da volta para casa, mas a percepção
da Fé que também é convicção de que seu Senhor continuou (embora escondido)
procurando uma saída humana da longa noite do exílio. Quando tudo parecia
perdido seu Deus preparava a terra como o lavrador para que o povo pudesse
colher o fruto maduro.
Alegria do cego Bartimeu
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O mesmo roteiro é
seguido por quem crê, como o cego Bartimeu, que vivia na noite sem fim da
exclusão social, pois sua limitação o deixava “à beira do caminho”. Bartolomeu
dependia dos que passavam por ele na rua. Paradoxo: era dependente dos que o
rejeitavam. Mas, se a sociedade à volta jogava moedinhas como migalhas de
superioridade e desprezo, também Jesus passou por ali. E Jesus o chama depois
de escutar seu grito (sua oração e súplica). O Mestre conduz o cego numa nova
direção: deve começar usando seus próprios recursos porque afinal ainda tinha
ouvidos e voz (“Ouviu dizer que Jesus
estava passando” e gritou. E quando lhe pediam para se calar, gritava ainda
mais. E levantou-se de um salto só. E respondeu ao Mestre: “que eu veja”. Até
ali dependia dos outros, agora, porém não se deixava mais levar pelo comando
dos outros.
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O Mestre não apenas
cura, mas ensina: dizendo ao curado que sua confiança (fé) foi fundamental para
reconhecer a presença de Deus mesmo no escuro, sem ver e iluminando o coração
dos que participam do Milagre: os que antes pretendiam livrar-se dos gritos do
cego agora o ajudam no acesso ao Mestre: “Ânimo!
Levanta! o Mestre te chama”. E Bartimeu jogou fora o manto que o abrigava
do frio da noite e dos olhares humanos, isto é, de suas carapaças ou ocultação
de sua realidade deficiente. Agora passou a “seguir Jesus pelo caminho”, isto
é, tornou-se discípulo na Escola da solidariedade. “Vai” disse o Mestre. O
discípulo segue o Mestre: ele vai levar alegria aos que ainda não têm a
liberdade de encontrar seus próprios recursos.
OBS:Leituras hoje: Jr 31,7-9 - Hb
5,1-6 (7,23-28 no LCR, Próprio 25) - Mc 10,46-52. Comentário baseado em homilia
de Irmão Domingos, (monge da “Família
S.José” cf. fsj.fr)
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