Comentários Prof.Fernando*
TODOS OS SANTOS – 1º NOVEMBRO DE 2015
A MULTIDÃO
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Imaginemos que
ao entrar no Céu sejamos acolhidos por 144 mil pessoas!! Imaginemos também que
à volta do trono de Jesus Cristo está uma multidão “que não se pode contar”. Pois
foi assim que o autor do Apocalipse imaginou como o “grand finale” de um
espetáculo nos Céus, uma festa na corte celeste, a grande liturgia ou
celebração da vitória no fim da história.
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Sabemos aqui
se usa o gênero literário chamado “apocalíptico” que é uma linguagem de
revelação ao mesmo tempo que esconde o sentido último para quem não participa
do grupo conhecedor dos códigos. Está presente no A.Testamento principalmente
nos cap.7-12 do livro de Daniel. São imagens fantásticas ou surrealistas, mas
carregadas de simbolismos, alguns mais difíceis para interpretação, outros mais
fáceis. Destes últimos são conhecidos os símbolos numéricos na antiguidades e,
especialmente, na Bíblia: 3, 7, 10, 12, 1000 são números “perfeitos”
expressando bonança e plenitude, ao passo que, por exemplo, 3 e meio, indica
deficiência. Assim o grupo seleto de 144 mil “marcados” para a salvação dentre
as 12 tribos de Israel destaca a posição privilegiada do “povo eleito”, como o
número dos 12 apóstolos. 12 vezes doze... 144... resultado ainda mais
maravilhoso multiplicado 1000 vezes. Uma linguagem figurada é igualmente usada
no evangelho quando Jesus pede que se perdoe ao outro “não apenas 7, mas
setenta vezes sete”.
SANTO, SANTO,
SANTO.
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O Criador é
único Santo, segundo a Bíblia (cf 1Pedro1,15e16; Levítico19,2. 20,7 e 11,44) É
perfeito, é três vezes Santo. No texto de Marcos 10,18 o Mestre responde a quem
lhe chama de “bom mestre”: Por que me
chamas bom? Ninguém é bom senão um: Deus. O tema da solenidade de hoje,
Todos os Santos, celebrada desde os primeiros séculos do cristianismo é o tema
da Salvação, oferecida aos seres humanos. Em geral quando se fala dos “santos”
ou dos apóstolos, dos mártires, etc., temos uma ideia de que eles são como os campeões
olímpicos: treinaram muito, muito se esforçaram merecendo subir ao pódio e
ganhar medalhas. No entanto, a “santidade” é irradiação (a teologia chama de
“graça”) da Bondade de Deus. Ela é participação na natureza divina que chega
até às criaturas mortais, que, no entanto, foram elevadas a “filhos de Deus”, isto
é, foram transformados de modo a poder abraçar o Criador, como se fossem
herdeiros por natureza, como Jesus de Nazaré.
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Este mistério
é lembrado na primeira carta de João 1,1-3: “pensem
bem no amor com o qual nos amou o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus,
(embora ainda não tenhamos a “manifestação” completa de tal “milagre”:) “ainda não se manifestou o que havemos de
ser: sabemos que quando isto se manifestar seremos semelhantes a Deus, porque o
veremos como ele é.
TODOS OS
SANTOS
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Como no
espaço-tempo da vida ainda não temos condição de ver a Deus “face a face”,
somos obrigados a utilizar símbolos (assim como o autor do Apocalipse) e
comparações para compreender o que é viver de acordo com o “Reino” que nos foi
anunciado como a “Boa Notícia” (tradução literal do termo ‘eu-evangélion’) que
nos é trazida por Jesus de Nazaré.
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A expressão “comunhão
dos santos” (cf. a Confissão de fé – o Credo) era usada no início do
cristianismo para indicar a grande família dos participam da mesma fé:
mergulhados (“batizados”) na graça da salvação, isto é na “divinização” do ser
humano gratuitamente oferecida por Deus por meio de Filho. Porque o Filho se
“humanizou” o Espírito, o Santo foi dado a todos para que se deixem conduzir pelo
Bem. O santos formam aquela multidão citada no Apocalipse, provenientes “de toda nação, tribo, povo e língua”
(Ap 7,9). Se hoje os lembramos neste 1ºde novembro, amanhã, dia 2, recordamos
outro grupo, que também faz parte da mesma “comunhão dos santos”: nossos familiares
e amigos falecidos. Por causa da saudade deles temos antiga tradição popular
que enfeita os túmulos com flores e velas acesas.
O SERMÃO DO
DIA 1ºDE NOVEMBRO
Vendo as multidões Jesus subiu à montanha. Sentou-se e lhes ensinava:
Bem-aventuradps os pobres de coração porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados
os que choram porque serão consolados! Os mansos porque possuirão a terra! Os
que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! Os misericordiosos
porque alcançarão misericórdia! Os puros de coração, porque verão Deus! Os
promotores de paz porque serão chamados filhos de Deus! Os perseguidos por
causa da justiça porque deles é o Reino dos céus! Bem-aventurados sereis quando
vos caluniarem, perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por
causa de mim. Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos
céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós".
“O Evangelho entende a santidade
como a capacidade de entregar-se totalmente nas mãos do Pai, de quem tudo se
espera e em nome de quem se age em favor do semelhante. Neste caso, santidade e
bem-aventurança identificam-se “. (J. Vitório).
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No “sermão da
montanha” o Mestre de Nazaré revela o rosto do Deus Santo. Não em sua forma grandiosa,
como no Apocalipse (este livro fala da conclusão futura da história), mas da
forma como é possível reconhecer a presença misteriosa do “totalmente Outro” no
espaço-tempo de nossa vida em comum com os outros. Nós podemos reconhecê-lo sob
os traços dos pobres e dos que têm tem fome e sede de justiça. Dos que mantêm
seus corações suaves e puros. Dos construtores de paz e no rosto tenso dos perseguidos
por causa da justiça.
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Nós o
encontramos no rosto dos imigrantes que hoje formam outra multidão – semelhante
àquela apontada no Apocalipse porque são milhões, expulsos pela guerra e pelo
ódio, da Síria, do Haiti, do Iraque e de outros povos, tribos e nações da África
e do Oriente. Milhares deixaram suas casas para morrer afogados no mar. Ou
adoecer sob o frio de acampamentos diante de dos muros ou cercas que para eles
foram erguidos nas fronteiras.
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Nós compreenderemos
um pouco mais sobre o Único que é Santo, se voltarmos o olhar para a multidão
dos desempregados (crescendo agora também no Brasil). Se visitarmos os enfermos
e dermos alguma atenção aos deficientes, às crianças e aos mais velhos. No
rosto dos que têm fome (de comida e de justiça) assim como no rosto dos
perseguidos e abandonados também descobrimos o verdadeiro rosto de Deus.
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Estranho, óbvio ou paradoxal é o fato de serem
os preferidos do Cordeiro (cf.Apocalipse) os mais carentes de ajuda e
solidariedade. E que sejam chamados “Bem-aventurados”. É certamente paradoxal
que a Santidade divina não se nos manifesta em glória e triunfo (como o
Apocalipse “descreve”, no final dos tempos). Mas o Eterno manifesta-se em nosso
Tempo e Espaço no rosto dos bem-aventurados (= Afortunados, Felizes). Talvez
porque serão os primeiros a “possuir o Reino”. Próximos a eles temos a chance
de sermos também santificados.
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