Tempo Comum -
Anos Ímpares - IX Semana - Segunda-feira
Lectio
Primeira leitura: Tobite 1, 3; 2, 1b-9
Eu, Tobite, andei sempre pelos caminhos da verdade e da justiça,
durante todos os dias da minha vida, dando muitas esmolas aos meus irmãos, os
da minha nação que comigo tinham sido levados cativos para a terra dos
assírios, em Nínive. Pela festa do Pentecostes, que é a nossa festa das
Semanas, mandei preparar um bom almoço e reclinei-me para comer. 2Mas, ao ver a
mesa coberta com tantas comidas finas, disse a Tobias: «Filho, vai procurar,
entre os nossos irmãos cativos em Nínive, um pobre que seja de coração fiel, e
trá-lo para que participe da nossa refeição. Eu espero por ti, meu filho.»
3Tobias saiu à procura de um pobre entre os nossos irmãos. Ao regressar disse:
«Pai.» Eu respondi: «Eis-me aqui, meu filho.» Tobias continuou: «Pai, alguém da
nossa linhagem está morto na praça pública, onde o estrangularam.»
4Levantei-me, então, sem nada ter comido e levei o cadáver da praça para um
casebre, esperando o pôr do sol para o poder sepultar. 5A seguir, voltei,
lavei-me e almocei com tristeza, 6recordando-me das palavras do profeta Amós,
ditas sobre Betel: «As vossas festas converter-se-ão em luto e os vossos
cantos, em lamentações.» E eu chorei. 7Quando mais tarde o sol se pôs, saí,
cavei uma cova e sepultei-o. 8Os meus vizinhos, porém, zombavam de mim, dizendo:
«Ainda agora não tem medo. Já o procuraram para o matar por causa disso e teve
de fugir; contudo, ei-lo de novo a sepultar os mortos.»
O livro de Tobite não é histórico, mas de carácter didáctico e para
edificação dos fiéis. Trata-se de uma história fictícia e parabólica, onde
abundam passagens maravilhosas e exortações morais. Tobite é apresentado como
modelo do israelita piedoso que, apesar do cisma, ocorre pontualmente ao templo
de Jerusalém, paga os dízimos, vive uma vida matrimonial exemplar, pratica a
caridade e observa a pureza legal. O livro de Tobite é uma pregação viva dos
chamados três pilares do judaísmo: oração, esmola e jejum.
O nome de Tobite significa literalmente “a minha bondade”. Mas pode tratar-se da abreviatura de uma frase em que o sujeito é Deus. Nesse caso, poderá significar: “o Senhor é bom”, ou “o Senhor é o meu bem”. De qualquer modo, mais do que de Tobite, o livro fala de Deus, que não abandona os seus fiéis e que, se os põe à prova, é para lhes dar o prémio. Tobite é um desses fiéis que, durante o exílio em Nínive, no tempo de Salmanansar, não abandona “os caminhos da verdade e da justiça” (v. 1), mantém firme a sua identidade moral e religiosa, e continua a respeitar as tradições dos pais.
O texto que hoje escutamos, refere um belo episódio, que ilustra a piedade de Tobite. Quando, durante uma das solenidades de Israel, já se encontrava à mesa, onde sempre havia lugar para alguns pobres, vêm dizer-lhe que um hebreu fora estrangulado e que o seu cadáver jazia na praça da cidade. Tobite ergue-se imediatamente, vai recolher o cadáver e dar-lhe condigna sepultura. Trata-se de um gesto corajoso, pois já fora ameaçado de morte por causa de gestos semelhantes. Os familiares criticam-no. Mas Tobite prefere obedecer a Deus que ao rei. Cumprir a Lei de Deus é mais importante do que a própria vida.
O nome de Tobite significa literalmente “a minha bondade”. Mas pode tratar-se da abreviatura de uma frase em que o sujeito é Deus. Nesse caso, poderá significar: “o Senhor é bom”, ou “o Senhor é o meu bem”. De qualquer modo, mais do que de Tobite, o livro fala de Deus, que não abandona os seus fiéis e que, se os põe à prova, é para lhes dar o prémio. Tobite é um desses fiéis que, durante o exílio em Nínive, no tempo de Salmanansar, não abandona “os caminhos da verdade e da justiça” (v. 1), mantém firme a sua identidade moral e religiosa, e continua a respeitar as tradições dos pais.
O texto que hoje escutamos, refere um belo episódio, que ilustra a piedade de Tobite. Quando, durante uma das solenidades de Israel, já se encontrava à mesa, onde sempre havia lugar para alguns pobres, vêm dizer-lhe que um hebreu fora estrangulado e que o seu cadáver jazia na praça da cidade. Tobite ergue-se imediatamente, vai recolher o cadáver e dar-lhe condigna sepultura. Trata-se de um gesto corajoso, pois já fora ameaçado de morte por causa de gestos semelhantes. Os familiares criticam-no. Mas Tobite prefere obedecer a Deus que ao rei. Cumprir a Lei de Deus é mais importante do que a própria vida.
Segunda leitura: Marcos 12, 1-12
Naquele tempo, 1Jesus começou a falar-lhes em parábolas: «Um homem
plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou nela um lagar e construiu uma
torre. Depois, arrendou-a a uns vinhateiros e partiu para longe. 2A seu tempo
enviou aos vinhateiros um servo, para receber deles parte do fruto da vinha.
3Eles, porém, prenderam-no, bateram-lhe e mandaram-no embora de mãos vazias.
4Enviou-lhes, novamente, outro servo. Também a este partiram a cabeça e
cobriram de vexames. 5Enviou outro, e a este mataram-no; mandou ainda muitos
outros, e bateram nuns e mataram outros. 6Já só lhe restava um filho muito
amado. Enviou-o por último, pensando: ‘Hão-de respeitar o meu filho’. 7Mas
aqueles vinhateiros disseram uns aos outros: ‘Este é o herdeiro. Vamos matá-lo
e a herança será nossa’. 8Apoderaram-se dele, mataram-no e lançaram-no fora da
vinha. 9Que fará o dono da vinha? Regressará e exterminará os vinhateiros e
entregará a vinha a outros. 10Não lestes esta passagem da Escritura:A pedra que
os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. 1Tudo isto é obra do Senhor
e é admirável aos nossos olhos?» 12Eles procuravam prendê-lo, mas temiam a
multidão; tinham percebido bem que a parábola era para eles. E deixando-o,
retiraram-se.
A alegoria usada por Jesus só se percebe se tivermos em conta o
«cântico da vinha», que lemos em Is. 5, e o seu contexto histórico, isto é, a
recusa da salvação pelos chefes de Israel, os «agricultores», que matam os
profetas. Deus é o dono da vinha e o construtor do edifício, que é Israel.
Surpreendentemente, aparece como «estrangeiro» no meio do povo de Israel. Deus
não está vinculado às vicissitudes de um povo. Confiou uma tarefa aos
responsáveis pela vinha israelita e foi-se embora, porque está noutro lado… Os
servos são os numerosos profetas e homens de Deus enviados ao longo da história
do povo escolhido. O filho recusado e morto, mas depois tornado pedra angular,
é Jesus. A alegoria faz tocar os extremos: o amor de Deus Pai, que envia o seu
Filho, e a recusa do chefes de Israel, que O matam.
À volta de Jesus, e do mistério da sua morte e ressurreição, hoje, como no passado, decide-se, para cada um de nós, o acolhimento ou a recusa da salvação. Não há direitos de progenitura, ou de eleição preferencial, que nos valham. O pretenso monopólio dos israelitas sobre a salvação está votado ao fracasso: «O dono regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros» (v. 9). O importante é que, no confronto com Jesus e com o seu mistério pascal, nos abramos a Ele, livre e responsavelmente, para sermos salvos. E Deus premiará a nossa coragem.
À volta de Jesus, e do mistério da sua morte e ressurreição, hoje, como no passado, decide-se, para cada um de nós, o acolhimento ou a recusa da salvação. Não há direitos de progenitura, ou de eleição preferencial, que nos valham. O pretenso monopólio dos israelitas sobre a salvação está votado ao fracasso: «O dono regressará e exterminará os vinhateiros e entregará a vinha a outros» (v. 9). O importante é que, no confronto com Jesus e com o seu mistério pascal, nos abramos a Ele, livre e responsavelmente, para sermos salvos. E Deus premiará a nossa coragem.
Meditatio
As leituras, que hoje escutamos, apresentam-nos dois ícones de
atitudes e comportamentos com que, também nós, naturalmente nos confrontamos
sempre que temos de tomar certas decisões: Tobias, homem generoso e serviçal,
que não teme expor-se aos maiores perigos para ser fiel à Lei de Deus e às
tradições do seu povo; os vinhateiros, homens egoístas, que tudo querem para
si, não olhando a meios para alcançar o que pretendem, incluindo o homicídio.
Também nós, muitas vezes, somos chamados a fazer opções. Podemos deixar-nos guiar por critérios idênticos aos dos vinhateiros, querendo apoderar-nos de tudo para satisfazermos o nosso egoísmo. Mas convém deixar-nos orientar pelos critérios de Tobite, homem de coração grande, sempre orientado para o bem. Ele não faz caso do juízo dos homens, e age com liberdade e rectidão. Não se sente feliz sozinho, e faz seu o drama do povo. Não hesita perante os riscos que corre, e está disposto a pagar pessoalmente pela sua fidelidade. Pratica com assiduidade o acolhimento, a misericórdia e a benevolência pela dignidade dos seus irmãos. Escolhendo a generosidade de Tobite, estamos na linha de Cristo, que veio para servir. A parábola evangélica que escutamos evoca efectivamente a paixão de Jesus e a sua ressurreição. Reflectindo sobre ela, descobrimos a atitude do Pai, que nos ajuda a amar e a honrar o Filho: «O Pai ama o Filho», diz Jesus (Jo 3, 35; 5, 20). Na parábola, o amor do Pai é revelado por um adjectivo: «Já só lhe restava um filho muito amado» (v. 6). Se amamos a Jesus, estamos na linha do Pai, e correspondemos ao seu desejo manifestado nesta parábola: «Hão-de respeitar o meu filho» (v. 6). Estas palavras revelam o amor do Pai e a intenção que tinha ao enviar ao mundo o Filho muito amado: «Hão-de respeitar o meu filho». Meditemos estas palavras. Rezemo-las. O Pai, nesta parábola, manifesta-se como o primeiro reparador, se entendermos a reparação como amor a Jesus, como correspondência ao seu amor. A Palavra de Deus faz-nos entrever o mistério de Cristo como manifestação de uma reparação iniciada pelo próprio Pai. À extrema humilhação de Jesus infligida pelos homens, o Pai responde com a glorificação da Pedra que os construtores regeitaram: «A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor» (Mt 21, 42). A primeira reparação é «obra do Senhor», de Deus Pai.
Depois da morte e da ressurreição de Jesus, o desejo do Pai - «Hão-de respeitar o meu filho» - há-de ser levado muito a sério por cada um de nós, cristãos, porque Jesus deu a vida por nós, tornando-se fundamento da nossa fé e do nosso amor. Deixemo-nos, pois, guiar até Jesus pelo amor do Pai.
Uma das dimensões da reparação indicadas pelas nossas Constituições, na linha da tradição espiritual que vem de S. Margarida Maria, é a correspondência ao amor de Cristo: «Entendemos a reparação como resposta ao amor de Cristo por nós» (Cst 23).
Também nós, muitas vezes, somos chamados a fazer opções. Podemos deixar-nos guiar por critérios idênticos aos dos vinhateiros, querendo apoderar-nos de tudo para satisfazermos o nosso egoísmo. Mas convém deixar-nos orientar pelos critérios de Tobite, homem de coração grande, sempre orientado para o bem. Ele não faz caso do juízo dos homens, e age com liberdade e rectidão. Não se sente feliz sozinho, e faz seu o drama do povo. Não hesita perante os riscos que corre, e está disposto a pagar pessoalmente pela sua fidelidade. Pratica com assiduidade o acolhimento, a misericórdia e a benevolência pela dignidade dos seus irmãos. Escolhendo a generosidade de Tobite, estamos na linha de Cristo, que veio para servir. A parábola evangélica que escutamos evoca efectivamente a paixão de Jesus e a sua ressurreição. Reflectindo sobre ela, descobrimos a atitude do Pai, que nos ajuda a amar e a honrar o Filho: «O Pai ama o Filho», diz Jesus (Jo 3, 35; 5, 20). Na parábola, o amor do Pai é revelado por um adjectivo: «Já só lhe restava um filho muito amado» (v. 6). Se amamos a Jesus, estamos na linha do Pai, e correspondemos ao seu desejo manifestado nesta parábola: «Hão-de respeitar o meu filho» (v. 6). Estas palavras revelam o amor do Pai e a intenção que tinha ao enviar ao mundo o Filho muito amado: «Hão-de respeitar o meu filho». Meditemos estas palavras. Rezemo-las. O Pai, nesta parábola, manifesta-se como o primeiro reparador, se entendermos a reparação como amor a Jesus, como correspondência ao seu amor. A Palavra de Deus faz-nos entrever o mistério de Cristo como manifestação de uma reparação iniciada pelo próprio Pai. À extrema humilhação de Jesus infligida pelos homens, o Pai responde com a glorificação da Pedra que os construtores regeitaram: «A pedra que os construtores rejeitaram transformou-se em pedra angular? Isto é obra do Senhor» (Mt 21, 42). A primeira reparação é «obra do Senhor», de Deus Pai.
Depois da morte e da ressurreição de Jesus, o desejo do Pai - «Hão-de respeitar o meu filho» - há-de ser levado muito a sério por cada um de nós, cristãos, porque Jesus deu a vida por nós, tornando-se fundamento da nossa fé e do nosso amor. Deixemo-nos, pois, guiar até Jesus pelo amor do Pai.
Uma das dimensões da reparação indicadas pelas nossas Constituições, na linha da tradição espiritual que vem de S. Margarida Maria, é a correspondência ao amor de Cristo: «Entendemos a reparação como resposta ao amor de Cristo por nós» (Cst 23).
Oratio
Senhor Jesus Cristo, ao morreres na Cruz por nosso amor, e ao seres
ressuscitado pelo Pai, derramaste sobre a Humanidade o Espírito Santo que
renova todas as coisas e regenera o coração dos homens, reparando neles os
efeitos do pecado, e reunindo-os na comunidade de amor que é a Igreja.
Dispõe-nos a acolher o mesmo Espírito, e a deixar-nos conduzir por Ele, para correspondermos ao teu amor, e darmos Glória e Alegria ao Pai que Te enviou ao mundo para nos salvar. Amen.
Dispõe-nos a acolher o mesmo Espírito, e a deixar-nos conduzir por Ele, para correspondermos ao teu amor, e darmos Glória e Alegria ao Pai que Te enviou ao mundo para nos salvar. Amen.
Contemplatio
O amor não pode desenvolver-se nos corações egoístas e frios. A
generosidade é a condição do amor verdadeiro. Recordemo-nos das palavras de
Nosso Senhor a Margarida Maria. Dizia-lhe: «Participa nas amarguras do meu
Coração, derrama lágrimas sobre a insensibilidade destes corações que tinha
escolhido para os consagrar ao meu amor. Venho ao coração que te dei, para que
pelo seu ardor tu repares as injúrias que recebi destes corações tíbios e
lassos que me desonram. Esta alma que te dei, oferecê-la-ás a Deus meu Pai,
para desviar as penas que estas almas infiéis mereceram... Farás isso pelo meu
povo escolhido». Consideremos como dito a nós mesmos o que Nosso Senhor dizia
ainda a Margarida Maria acerca do apostolado do seu amor: «Quero que me sirvas
de instrumento para atrair todos os corações ao meu amor». Eis o ideal da nossa
vida: reparar muito, muito, para que isso baste pela nossa alma e por outras
almas que Nosso Senhor quer salvar por nosso meio; amar muito também para que o
nosso amor nos dê influência sobre o Coração de Jesus e para que inspire o
nosso zelo no apostolado que temos para fazer. (Pe. Dehon, OSP 3, p. 245s.).
Actio
Repete muitas vezes e vive hoje a palavra:
«Hão-de respeitar o meu filho» (Mc 12, 6)
«Hão-de respeitar o meu filho» (Mc 12, 6)
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