6 de Fevereiro de
2015
O Evangelho em Mc 6, 14-29 nos apresenta a surpreendente e, ao mesmo tempo, espantosa motivação da morte do Precursor do Messias, o qual comparou João Batista e indicou-lhe como marco do Reino combatido e como o cumprimento do retorno de Elias: «A partir dos dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e violentos procuram arrebatá-lo. Pois João foi o tempo das profecias – de todos os Profetas e da Lei. E, se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir. Quem tem ouvidos ouça» (Mt 11, 12).
Infelizmente
Herodes, Herodíades e sua filha “Herodoida” (para não ficar sem nome), não
quiseram acolher e seguir os sinais de Deus, ou seja, tendo ouvidos não
quiseram ouvir o Senhor por intermédio do profeta. Também o Evangelho, longe de
fazer da ignorância um “oitavo sacramento”, demonstra o quanto o
desconhecimento verdadeiro do rosto de Deus, em Cristo, é e será sempre um
grande prejuízo ao ser humano. Assim testemunha o Evangelho: «O rei Herodes ouviu falar de Jesus, pois o nome dele tinha-se
tornado muito conhecido. Alguns até diziam…» (Mc 6, 14).
O
nome de Jesus é poderoso e salva quando entendido como a Pessoa de Cristo sendo
reconhecida, e não reduzido a uma mera “informação” que entra pelos ouvidos e
para na memória. “Conhecer” e “reconhecer”, na Bíblia, traduz uma experiência e
uma relação que envolve pessoas. Para isto precisamos de fé e muito auxílio do
Espírito Santo de Deus, o qual nunca faltou para quem quer que seja, em todos
os tempos e lugares.
Mas
quem recusa o Deus que fala em nossa consciência, antes de tudo, vai
endurecendo o coração e o ouvido para a Palavra e os Seus servos, por isso a
família de Herodes – que necessitava urgentemente de salvação – foi se fechando
ao verdadeiro amor do Pai, disposto a restaurar a sociedade a partir de cada
pessoa e família.
João
Batista, docilmente, foi somente profeta para eles: «Pois João vivia dizendo a Herodes: ‘Não te é permitido ter a
mulher do teu irmão’. Por isso Herodíades lhe tinha ódio e queria matá-lo, mas
não conseguia, pois Herodes temia João, sabendo que era homem justo e santo, e
até lhe dava proteção. Ele gostava muito de ouvi-lo, mas ficava desconcertado» (Mc
6, 18-20). Donde nasceu tanta violência contra um profeta do Reino de Deus? Até
onde foi o gosto de Herodes pela escuta da vontade do Senhor, o seu temor
perante um mensageiro de Deus, também para a sua família?
Poderíamos
arriscar esta resposta: “Foi até onde começava a entrega às suas paixões
desorientadas, no adultério, orgulhosa incapacidade de voltar, apego à
própria imagem perante os convidados e a falta de sensibilidade à vida alheia”
(cf. Mc 6, 22.26).
É
verdade que paixões todos nós as temos, como a Igreja – perita em humanidade –
tão bem ensina e expressa no Catecismo: «O termo ‘paixão’ pertence ao
patrimônio cristão. Os sentimentos ou paixões são as emoções ou movimentos da
sensibilidade. As paixões são componentes naturais do psiquismo humano.
O
mais fundamental é o amor, provocado pela atração do bem. O amor causa o desejo
do bem ausente e a esperança de alcançá-lo. Este movimento tem o seu termo no
prazer. “Amar é querer bem a alguém”. Todos os outros afetos nascem, neste
movimento original, do coração do homem para o bem. Só o bem é amado. “As
paixões são más se o amor for mau, e boas se ele for bom”» (CIC nºs 1763-1766).
Assim,
também nós temos a potencialidade de agirmos como Herodes, Herodíades ou a
“Herodoida” se não consagrarmos constantemente as nossas paixões ao Espírito
Santo que quer derramar constantemente o verdadeiro amor nos nossos corações
(cf. Rm 5,5). Tomados pela Pessoa-Amor, as paixões pessoais e dos outros não
nos “endoidarão” ou nos instrumentalizarão, e a paixão fundamental – o amor –
conduzirá tudo para o bem.
Sabemos
da parte de Deus e de João, que ele acabou prefigurando também, com o seu
“injusto” julgamento e morte, o julgamento e morte de Jesus Cristo. No entanto,
da parte dos agentes daquele mal fica também o ensinamento para todos os
tempos, a começar para mim, que não basta ouvirmos o nome de Jesus nem
admirarmos os profetas de Deus, tampouco gostarmos de ouvi-los, É preciso
transcendermos os meios e ficarmos com o essencial anunciado: a Palavra de Deus
obedecida com a vida e a morte!
Padre Fernando Santamaria – Comunidade Canção Nova
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