TRANSFIGURAÇÃO DO SENHOR 06/08/2014
1ª Leitura Daniel 7,9-10. 13-14
Salmo 96(97), 1 a 9 a “OSenhor Reina! Vós, Senhor, sois o soberano
de toda a terra”
2ª Leitura2 Pedro 1, 16-19
Evangelho Mateus17, 1-9
Salmo 96(97), 1 a 9 a “
"O AMOR QUE TRANSFIGURA"
Para quem não conhece o Monte Tabor onde teria ocorrido a
transfiguração de Jesus, é uma alta colina localizada no Leste do Vale de
Jizreel, 17 km a oeste do Mar da Galiléia e o seu topo está a 575 metros acima
do nível do mar. Entretanto, não se pode afirmar com absoluta certeza, que essa
referência geográfica no episódio da Transfiguração do Senhor, é verdadeira,
principalmente quando se sabe, que o evangelista São Mateus escreveu para os
Judeus e sempre há em seus relatos, uma forte relação entre Jesus Cristo e
Moisés. De qualquer forma o texto nos revela que os discípulos Pedro, Tiago e
João, fizeram essa profunda experiência, onde Jesus lhe revelou a sua
Divindade. Não é por acaso que na narrativa de Mateus, aparecem ao lado de
Jesus o Libertador Moisés e Elias, uma das maiores referências como profeta do
Antigo Testamento, é uma catequese que tem como pano de fundo o Judaísmo,
comprovando que Jesus é de fato io Messias, aquele que havia sido prometido na
Escritura Antiga, e até prefigurado em alguns personagens da História de
Israel. A partir de agora, a humanidade não irá mais precisar da Lei e dos
Profetas, Jesus não trouxe uma nova Lei ou Aliança, Ele próprio é a Nova
Aliança, aquele que de modo único e excelente nos revela o Pai.
Mas o que esse fato refletido no evangelho pelas comunidades de
Mateus, tem a ver com a realidade das nossas comunidades cristãs? Sabemos que
Jesus é Nosso Deus e Senhor, mas quais as consequências que esta Fé traz em
nossa vida? A cada domingo, Dia do Senhor, Jesus convida todos os cristãos a
“subirem a montanha”, isso é, a fazerem essa “ascese” nas nossas celebrações.
Embora humana, com uma Liturgia que comporta elementos culturais, cada
celebração é envolvida pelo Mistério de Deus, como a nuvem que desceu sobre a
montanha.
No ambiente celebrativo de nossas igrejas cristãs, de muitos modos
Jesus manifesta a glória da sua Divindade, mas de modo excelente na Eucaristia
e na Palavra, onde mediante a Fé, podemos sim contemplar a sua glória, sentir a
sua presença a conduzir, animar e alimentar os seus, em comunhão com Ele em
torno de uma mesa que é a Mesa da Palavra ou da Eucaristia. Moisés e Elias são
uma referência importante para todos nós, não como meros personagens históricos,
mas como homens que fizeram a experiência de Deus, enquanto anunciadores de uma
Libertação que em Jesus atinge a sua plenitude e transcende o meramente
histórico, libertando-nos do mal do pecado. O profetismo de Elias anuncia a
Palavra Libertadora, o homem nasceu para ser livre, mas a sua liberdade está em
Deus, que não permanece impassível diante do sistema opressor que não considera
o dom da Liberdade, por isso, a Palavra libertadora se faz ação em Moisés deus
vê, ouve, desce e liberta o seu povo. Jesus eleva essa liberdade á sua
plenitude, concretizando as promessas de Deus nesse sentido.
O entusiasmo de pertencer a uma comunidade cristã, o privilégio de
poder fazer essa experiência com os irmãos e irmãs nas celebrações dominicais,
pode nos levar a cometer o mesmo erro de Pedro: o de querermos permanecer
apenas na dimensão celebrativa- contemplativa, acomodar-se na Mística e fazer
da experiência com Cristo algo muito particular, é esse o significado de querer
fazer tendas, e de fato muitos fazem, isolando-se na comunidade ou no seu grupo
ou pastoral, achando que a vivência cristã se resume apenas nessa experiência
religiosa.
Quando contemplamos a Divindade de Jesus e ficamos só nisso,
sentimos medo, porque é impossível compreender um Deus revestido de glória,
encarnado em nossa miséria humana. O Sagrado sempre e Sagrado sempre exerceu
essa ambiguidade sobre o homem, o encanta, o atrai e fascina, mas também causa
medo, quando se está diante do Mistério. Mas Jesus, que tocou nos discípulos,
toca também em cada membro da comunidade: “Levantai-vos, não tenhais medo”. E
ao descer da montanha, só veem Jesus caminhando com eles pela encosta da
montanha. Eis aqui o grande desafio, vermos Jesus no irmão ou irmã da
comunidade, que caminha com a gente, perceber esse Deus extremamente humano,
percorrendo nossos mesmos caminhos,, sem nunca deixar de ser o “Outro”, o
Transcendente.
E assim, pela sua encarnação recebemos a Graça Divina, e podemos
nos abrir para que o Espírito Santo nos renove nos transforme e nos transfigure
no dinâmico processo da conversão, e diferente dos apóstolos Pedro, Tiago e
João, ao término da celebração, quandodescemos da “montanha”, somos enviados
para proclamar bem alto as maravilhas de Deus, a darmos testemunho do
evangelho, mostrando que somente na Ressurreição do Senhor encontramos o
sentido para a nossa vida terrena.
Derrubemos, portanto, as tendas do nosso comodismo, de uma Fé
desvinculada da Vida, nesse segundo domingo da quaresma, e como o Patriarca
Abraão, coloquemo-nos á caminho dessa Terra das Promessas, onde cada homem e
cada mulher, vivendo em Deus, atingirá a felicidade em seu sentido mais pleno,
irradiando em si, a mesma luz fulgurante do Cristo, Homem Deus e Deus Homem, o
novo Moisés que nos conduz com segurança a esta terra, cuja estrada passa
exatamente na experiência humana, estrada que nosso Deus feito homem também
percorreu, e que nos conduz á glória de uma Vida em comunhão definitiva com
Ele, que em Cristo nos aceitou também como “Filhos e Filhas, em quem Ele põe
todo o seu agrado”.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mailcruzsm@uol.com.br
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