3 de Agosto
O trecho do
Evangelho de hoje vem logo após a história da morte de João Batista, ligada à
festa de aniversário do Tetrarca Herodes Antipas. Ou seja, Mateus contrasta o
“Banquete da Morte” promovido por Herodes, com “O Banquete da Vida”, protagonizado
por Jesus!
Na realidade, os Evangelhos transmitem-nos muitas vezes os sentimentos
de Jesus para com as pessoas, especialmente doentes e pecadores. Ele exprime,
através dum sentimento profundamente humano, a intenção salvífica de Deus que
deseja que todo o homem alcance a verdadeira vida. Cada celebração eucarística
atualiza sacramentalmente a doação que Jesus fez da sua própria vida na cruz
por nós e pelo mundo inteiro. Ao mesmo tempo, na Eucaristia, Jesus faz de nós
testemunhas da compaixão de Deus por cada irmão e irmã; nasce assim, à volta do
mistério eucarístico, o serviço da caridade para com o próximo, que “consiste
precisamente no fato de eu amar, em Deus e com Deus, a pessoa que não me agrada
ou que nem conheço sequer.
Isto só é possível realizar-se a partir do encontro íntimo com Deus, um
encontro que se tornou comunhão de vontade, chegando mesmo a tocar o
sentimento. Então aprendo a ver aquela pessoa já não somente com os meus olhos
e sentimentos, mas segundo a perspectiva de Jesus Cristo”. Desta forma, nas
pessoas que contacto, reconheço irmãs e irmãos, pelos quais o Senhor deu a sua
vida amando-os “até ao fim” (Jo 13, 1).
Por conseguinte, as nossas comunidades, quando celebram a Eucaristia,
devem consciencializar-se cada vez mais de que o sacrifício de Jesus é por
todos; e, assim, a Eucaristia impele todo o que acredita n’Ele a fazer-se “pão
repartido” para os outros e, consequentemente, a empenhar-se por um mundo mais
justo e fraterno. Como sucedeu na multiplicação dos pães e dos peixes, temos de
reconhecer que Cristo continua, ainda hoje, exortando os seus discípulos a
empenharem-se pessoalmente: “Dai-lhes vós de comer” (Mt 14, 16). Na verdade, a
vocação de cada um de nós consiste em ser, unido a Jesus, pão repartido para a
vida do mundo.
Neste Evangelho Jesus nos dá uma grande lição de solidariedade humana,
quando rejeitou a idéia dos Seus discípulos para que “despedisse as multidões”.
Quantas vezes nós queremos nos ver livres dos problemas e também “despedimos”
as pessoas porque elas são empecilhos à nossa missão, à nossa caminhada. As
pessoas vêm famintas, precisando da nossa ajuda e nós fazemos vista grossa às
suas dificuldades, achando que não somos capazes de ajudá-las porque temos
muito pouco tempo ou mesmo porque nos achamos pequenos e limitados. Jesus diz
hoje à nós também: “Eles não precisam ir embora. Dai-lhes vós mesmos de comer!
” O Senhor nos manda sentar para que possamos parar e refletir sobre a nossa
vida, partilhando e dividindo com as outras pessoas os nossos planos e sonhos.
Tudo isso, dentro da perspectiva de Deus e à luz da Sua Palavra e dos Seus
ensinamentos. Hoje também, como ontem, há muita relva, isto é, espaço, ocasião,
oportunidade para que, reunidos, nós possamos descobrir os nossos dons,
talentos, aptidões, riquezas e bens espirituais, que são os nossos cinco pães e
dois peixes. Ao tomar os pães e os peixes nas mãos e dar graças ao Pai, Jesus
nos deu o exemplo de como poderemos fazer aumentar os nossos talentos. Trazemos
primeiramente, a vida para agradecer a Deus e a Ele oferecer em favor do irmão.
Além disso, temos a doar saúde, paz, alegria, juventude e a nossa capacidade de
olhar, de sorrir, de cantar, de amar, de sonhar e de desejar.
Mateus nos lembra que a participação eucarística exige compromisso com
uma visão social baseada na partilha dos bens necessários para a vida, e não na
acumulação da parte de alguns junto com a falta do básico para muitos. É claro
que diante do enorme sofrimento da maioria da população do mundo, a gente pode
sentir-se tão impotente como se sentiram os discípulos no Evangelho de hoje.
Mas o texto nos ensina que não devemos cair na cilada de aceitar as saídas
falsas propostas pela sociedade vigente e hegemônica – de “lavar as mãos” ou de
cair somente num simples assistencialismo. O cristão, sustentado pela
eucaristia, a Mesa da Palavra e a Mesa do Pão, deve se comprometer com uma
visão cristã da sociedade, que exige que a gente faça o que é possível para a
construção de um mundo de justiça e fraternidade.
Há dois mil anos, Jesus olhou a multidão, teve compaixão dela e agiu.
Com certeza ele olha hoje a situação de tantos irmãos e irmãs e pede que os
seus seguidores façam algo para mudar a situação. Paira sobre nós cristãos do
fim do milênio o desafio do texto de hoje: “Dai-lhes vós mesmos de comer!” O
que significa isso na prática para mim, para você, na nossa situação concreta
de vida? Meu irmão, minha irmã, o cristão não pode compactuar-se com uma
sociedade organizada conforme os princípios de Herodes, mas deve lutar para a
construção de uma sociedade em favor da vida, seguindo as pegadas do Jesus de
Nazaré. Jesus imperando nos está ordenando: Dai-lhe vós de comer! É você, sou
eu, que temos de dar de comer às cinco mil pessoas que vivem a nossa volta.
Você tem sentado com as pessoas para partilhar a sua vida? Você tem colocado
nas mãos do Senhor os seus talentos e os seus dons? Saiba. O que tens é pouco.
Mas colocado nas mãos de Jesus chega para matar a fome e a sede de milhares de
milhares de pessoas.
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