04 de Agosto
Jesus manda os discípulos para o outro lado do mar, enquanto ele próprio
despediria as multidões. O destaque no evangelho de hoje vai para o barco
agitado pelas ondas e pelo vento. Numa primeira fase, o “barco” simboliza a
Igreja, já em processo de institucionalização na década de 80 do primeiro
século do Cristianismo, quando Mateus escreve seu evangelho. Em segundo lugar
simboliza a sua vida quando chega o momento das tentações e problemas de vários
tipos. Quando Jesus se aproxima, caminhando
sobre as águas, Mateus narra também a caminhada de Pedro, que a tradição passou
a cultuar como figura proeminente na Igreja. A vacilação de Pedro ao andar
sobre as águas, entre a fé e a dúvida, induz as comunidades a compreenderem a
importância de uma fé firme e decidida em Cristo como o tudo em todas as
circunstâncias. Quem nos faz saber isso é Mateus que termina com a proclamação
messiânica dos discípulos: “Verdadeiramente, tu és Filho de Deus”. A afirmação
do messianismo de Jesus é uma forte característica de Mateus.
As comunidades de discípulos, ao longo
da história, passam por tribulações sofrendo repressões. Pode-se chegar ao
desânimo, com o sentimento de abandono por parte de Deus. Se assim acontecer,
submerge-se no oceano do mundo dominado pelos poderes fundados sobre as
riquezas acumuladas, que desprezam a vida dos pobres e pequeninos.
Contudo Jesus está presente. Não há o
que temer, pois Jesus é a fonte da vida e a luz para o nosso caminho, e é a
força propulsora da nova criação, do mundo novo possível.
Desse modo, percebe-se, na primeira
leitura, que nem sempre Deus se manifesta da forma que tradicionalmente nos
acostumamos a buscá-lo; e, na segunda, pode-se ver o apóstolo Paulo preocupado
com a situação da comunidade. Preocupações dissipadas quando identificamos no
evangelho, que as dificuldades da vida não podem afogar uma comunidade
fundamentada na palavra de Deus e na fé no Cristo Ressuscitado.
Por que tanto medo? Jesus está conosco!
Enquanto Jesus reza no monte, a barca dos discípulos está velejando no lago de
Genesaré (Mt 14,22-23). Jesus os tinha obrigado a ir para o “outro lado”, isto
é, para a terra dos pagãos. Para quê? Certamente para ensinar aos outros povos
que a partilha é que constrói uma sociedade nova. Mas sair de casa para ir até
os outros não é coisa fácil. O mar agitado, cheio de ventos fortes e ondas. O
que significa isso? Significa a resistência dos discípulos, e a resistência de
todos nós em compreender que o projeto de Deus é para todos, e não apenas para
nós.
Jesus, em alta madrugada, vai até os
discípulos, andando sobre a água. Ora, isso era prerrogativa de Deus (veja o
livro de Jó 9,8). Os discípulos pensam que Jesus é um fantasma, e gritam de
medo. Jesus, porém, os tranqüiliza, dizendo: “Coragem! Sou eu. Não tenham
medo”. Este é o modo como Deus sempre tranqüiliza os homens. E o “sou eu”
lembra imediatamente o Deus do êxodo, que se revelou a Moisés como sendo o “Eu
Sou”. Tudo isso mostra que os discípulos ainda não cresceram na fé.
Pedro, o líder dos discípulos e futuro
chefe de todas as comunidades, faz um desafio: ir até Jesus, andando como ele
sobre as águas, isto é, participando da sua divindade. Perigo. Para isso é
preciso fé grande, entrega total. O que não acontece, pois Pedro teme, duvida,
e começa a afundar.
O que Jesus diz vale para todos nós:
“Homem fraco na fé, por que você duvidou?” Também nós duvidamos quando as
coisas ficam difíceis e os ventos se tornam contrários, prova de que ainda não
confiamos em Deus e no seu projeto. O vento cessa logo que Jesus entra na
barca. Por quê? Dizem que no olho do furacão reina completa paz. Com Jesus em
nosso meio estamos no olho do furacão: ao redor tudo gira e ameaça, mas nós
permanecemos calmos, certos de que o projeto de Deus, realizado por Jesus, é e
sempre será vitorioso. E, reconhecendo isso, vem a grande confissão dos
discípulos e da comunidade cristã: “De fato, tu és o Filho de Deus”. Uma
confissão de fé que nos faz acreditar em nós mesmos: em nossa vocação e nossa
capacidade de amar, servir e partilhar, pois também nós, pelo Batismo, fomos
feitos filhos de Deus. Não temamos. Também podemos andar pelas águas agitadas
do mundo, sem medo de afundar porque Jesus está por perto. Basta na hora mais
difícil gritarmos como Pedro: SOCORRO, SENHOR!
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