XVII DOMINGO DO TEMPO COMUM 27/07/2014
1ª Leitura 1 Reis 3, 5.7-12
Salmo 118(119),97ª “Ah, quanto amo, Senhor, a vossa Lei”
2ª Leitura Romanos 8, 28-30
Evangelho Mateus 13, 44-52
"O TESOURO DO REINO"
Certa ocasião, eu quase caí
no “conto do vigário”: era final de ano e uma mulher com aparência humilde me
abordou em uma rua próxima à rodoviária de Sorocaba, oferecendo-me duas barras
de ouro, enroladas em uma toalha e guardadas em uma caixa de sapatos. “Olha
moço, o senhor vai passar um natal muito abençoado, vai poder comprar o que
quiser, faço um precinho bom, só para eu matar a fome das minhas netinhas, que
hoje ainda não se alimentaram”. Apresentou-me Nota Fiscal e ainda o certificado
de garantia, emitido por uma mineradora do Pará, de onde acabara de chegar.
Um pouco levado pela
chantagem emocional, das crianças que choramingavam de fome, pedindo para
comer, mas também e principalmente, pela possibilidade de eu ficar rico em
questão de minutos, a imaginação começou a trabalhar, admitindo o que eu
poderia fazer com aquele ouro, caso as barras fossem mesmo verdadeiras, coisa que
eu já estava começando a acreditar.
Se fosse mesmo verdade o
negócio seria excelente, ali estava naquele caixa de papelão, a minha sonhada
casa própria, o carro novo, as dívidas todas quitadas, um natal e primeiro de
ano de muita fartura, e ainda uma boa “gordura” para aplicar no mercado, pois o
preço do ouro, naquele tempo estava alto. Mas o problema era o valor pedido
pela compra, que eu não tinha, e vendo que ainda vacilava um pouco, a
“generosa” mulher disse de modo muito humilde “Deus está me revelando que o
senhor será abençoado, vamos fazer uma coisa, quanto o senhor tiver eu aceito,
nem que seja metade da metade desse valor..., barras de ouro depois meus filhos
que são garimpeiros, me arranjam mais, mas a fome dessas crianças, não pode
esperar...”
Para minha sorte estava com
cheque, e tinha acabado de sair do banco onde peguei o saldo, composto do
salário do mês, mais o abono completo e metade do valor das férias, com um
pouco de dor na consciência, falei para ela que o valor que eu tinha era irrisório,
mas ela aceitou e deu um sorriso; “fazê o que, né moço, pode ser...”. Mas neste
momento uma viatura parou perto de nós e a pobrezinha da mulher saiu em
disparada, levando para sempre minhas sonhadas barras de ouro...
Uma pessoa ingênua, mas
também ambiciosa de um lucro fácil acaba caindo facilmente nesse conto do
vigário, aplicados por malandros muito bem treinados, a gente fica até
indignado quando vê isso acontecer, e perguntamo-nos como é que pode uma pessoa
cair em um conto desses... Acontece, porém, que o golpista só aborda as pessoas
certas, isso é, aquelas que sonham em ficar ricas da noite para o dia,
apossando-se de grande fortuna. Em se tratando da nossa vida de fé, como
discípulos de Jesus,corremos esse mesmo risco, e muita gente convertida cai em
cada golpe, pior do que o conto do vigário. Quando se trata de bens materiais,
buscamos aquilo que vale mais, nem que isso signifique dar em troca tudo o que
temos, no meu caso, toda minha economia de final de ano, achava que era pouco,
perto do que aquelas barras de ouro iriam me oferecer, caso fossem mesmo
verdadeiras...
A pessoa que não tem o
discernimento do espírito, dado pela sabedoria que vem do alto, facilmente
deixa de lado os valores do Reino de Deus, para correr atrás de quinquilharias
que nada valem, e o que é pior, muitos passam a vida inteira iludidos, em
função de algo que parece ser um tesouro, mas que um dia descobrem como eu
descobri a tempo, graças a Deus, que se trata de um ouro falso e sem nenhum
valor.
Os dois personagens da
parábola do evangelho, quando descobrem a preciosidade do tesouro escondido, e
a beleza de uma pérola rara, escondida no meio das outras, não pensam duas
vezes para colocar aquilo que realmente é valioso, como a única prioridade em
sua vida. O que mais vale nesta vida não é a riqueza, prestígio, fama, sucesso,
poder, luxo e conforto, mas sim o amor de Deus, que na salvação oferecida em
Jesus, nos dá a alegria da sua graça. Mas para entender isso, é necessário ter
o discernimento do espírito, e a sabedoria que vem do alto, Salomão compreendeu
que o mais importante é ser sábio diante de Deus, para saber fazer as escolhas
certas, e fazer nesta vida, a opção certa, a favor do Reino de Deus.
É esse discernimento que nos
permite separar na rede da vida, aquilo que realmente é bom e tem valor,
entendendo que o resto é peixe estragado, que não serve para nada. Tudo parece
diante de nós um único tesouro, é preciso tirar apenas aquilo que é novo, esse
novo é Jesus Cristo, Salvador e Redentor nosso, o único e verdadeiro tesouro,
pelo qual vale a pena dar tudo o que temos e somos, para que em nossas relações
com o próximo, sejamos cada vez mais imagem e semelhança daquele que nos
predestinou.
José da Cruz é Diácono da
Paróquia Nossa Senhora Consolata – Votorantim – SP
E-mailcruzsm@uol.com.br
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