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quarta-feira, 30 de julho de 2014

A LOUCURA DA CRUZ--Diac. José da Cruz


31 de agosto
Domingo a tarde, um sol de lascar! Clima propício para uma praia ou piscina, ou deitar-se em uma rede na varanda e ficar de “papo pro ar” até o anoitecer. Tenho uma amiga que pode fazer isso e eu até a invejo, entretanto, em algumas tardes de domingo, ela se reúne com uma galera da faculdade, para visitar asilos e orfanatos, levam alimentos que arrecadam junto a comunidade, formaram um conjunto musical, ela mesma toca sanfona e dá até gosto quando vão ao asilo e fazem os velhinhos e velhinhas rodopiarem pelo salão no baile que vai até a tardezinha.
É um grupo que não pertence a nenhuma igreja em particular, e o irmão comenta que a irmã é maluca, pois após uma semana de exaustivo estudo e trabalho, nada mais justo do que relaxar no domingo, usufruindo das propriedades que tem: uma bela chácara e ainda uma casa na praia. Minha amiga talvez não sabe, mas ela está no caminho certo do discipulado. Carregar a cruz e renunciar-se a si mesmo – é ser capaz de ir além, em um amor sem medidas.
Qualquer cristão que trabalhe e estude a semana inteira, no domingo vai à missa, a tarde, com todo direito e razão, conforme a lógica humana, irá descansar, em alguma atividade de lazer ou esporte.
A renúncia proposta por Jesus vai nesse sentido: ultrapassar os limites da normalidade renunciando algo que é de direito. Nos evangelhos há muitas exortações de Jesus, que vão nesse sentido, “Se alguém lhe roubar a túnica, dá-lhe também a capa”, “Se alguém lhe obrigar a andar cinquenta passos, anda com ele outros cem” e o mais difícil de todos “Amai os vossos inimigos, rezai por eles e abençoai-os e não os amaldiçoeis”.
Poderíamos dizer que ser cristão, é estar acima da média na relação com o próximo, pois quem permanece na mediocridade do estritamente necessário não pode dizer que é discípulo. Talvez outro exemplo que poderá nos ajudar a compreender melhor o altruísmo da cruz, seja um atleta olímpico, que tem sempre como meta quebrar até o próprio recorde: qual atleta que vai deixar seu país, indo para as Olimpíadas pretendendo uma classificação bem modesta? Atleta que pensa dessa maneira, dificilmente irá algum dia ao pódio. Cristão que não se doa não se entrega, e que não é capaz de carregar as pequenas cruzes do dia a dia, não pode atribuir-se o título de discípulo.
O amor humano é limitado e finito, pode até se acabar um dia, mas o amor Cristão não tem limites e nem medidas, vai sempre além, São Francisco de Assis poderia até ser Santo, sem precisar fazer o que fez, despojar-se de tudo que tinha e era seu por direito, até mesmo a roupa do corpo. O próprio Deus, para salvar a humanidade não poupou nem o seu Filho querido, e diante disso, a mesquinhez humana questiona: será que precisava tanto?
A parábola do Bom Samaritano não deixa nenhuma dúvida a esse respeito, , o Samaritano não apenas parou, para ver o que estava acontecendo com o homem caído à beira da estrada, mas foi muito além, cuidando das suas feridas, colocou-o no próprio animal, transportou para a Hospedaria mais próxima e não contente, pediu ao Hospedeiro que cuidasse dele, que na volta pagaria todas as despesas.

Nesse sentido, o discípulo é como um atleta olímpico, que ao cumprir a lei do amor, quebra todos os recordes. Claro que a modernidade se opõe a esse modo de pensar, até se ensina em algumas culturas para que a pessoa pratique o bem, mas há um limite. Poderíamos dizer que aí está a grande diferença entre o pensamento dos homens, que coloca um limite para o amor, e o pensamento de Deus, que rompe todos os limites, vivendo o amor ágape.
O apóstolo Pedro se opõe a esse modo de pensar e agir de Jesus, para ele, a ação messiânica de Jesus não precisa passar por tão grande sacrifício, pois não é essa a vontade de Deus. É por causa dessa última afirmação que Pedro é chamado de Satanás por Jesus, que significa aquele que é contra o projeto de Deus, que criou o homem e o chamou para viver a vocação do amor em toda sua plenitude, Deus não é um masoquista que gosta de ficar vendo o homem sofrer, o sofrimento é consequência da rejeição, que no tempo de Jesus, e na modernidade, o homem manifesta, recusando-se a viver aquilo que é essencial para quem quiser ser discípulo e merecer o nome de Cristão.
A recusa e rejeição ocorrem porque uma vida assim, de entrega total pela causa do reino, implica em uma grande perda, exatamente como pensa o irmão da minha amiga, que aos olhos do mundo PERDE seu precioso tempo de lazer e descanso, nas tardes de domingo, só para ver um sorriso no rosto de tantos velhinhos e velhinhas, que a amam de paixão, e até reclamam que ela deveria ir ao asilo mais vezes.

“Quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la, e quem perder a sua vida, por causa de mim, vai ganhá-la”

José da Cruz é Diácono Permanente
Da Paróquia Nossa S. Consolata-Votorantim
e-mail cruzsm@uol.com.br


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