Não é ele o filho do carpinteiro? Então, de onde lhe vem tudo isso?
Este Evangelho narra que Jesus não foi bem recebido na sua terra,
Nazaré. E isso por um motivo totalmente inválido: ele era de lá, pertencia a
uma família simples (pai carpinteiro) e não cursou faculdade.
Mas o motivo verdadeiro é porque ele pisava no calo; falava coisas que
as pessoas não queriam ouvir, porque tocava na ferida delas, isto é, chegava ao
seu pecado, que elas não queriam abandonar.
O profeta fala a palavra certa, na hora certa, do jeito certo e para a
pessoa certa, sem estar preocupado em agradar os ouvintes. Isso é difícil de
engolir, a não ser que a pessoa queira realmente se converter.
E o nosso pecado nos leva a transferir para os outros, problemas que são
nossos. Em vez de aceitar seu erro, criticavam a Jesus. Quando nos simpatizamos
com uma pessoa, aprovamos tudo o que ela fala ou faz. Mas uma pessoa que nos é
antipática fala ou faz a mesma coisa, nós reprovamos. Como que os nossos
julgamentos são subjetivos!
Tudo é motivo para condenar um profeta, até este: eu conheço a sua
família e sei que ele não estudou. E a perseguição ao profeta é, às vezes,
covarde. Criticamos porque ele ou ela tem o cabelo comprido ou curto, porque
usa essa ou aquela roupa, porque reza ou porque não reza, porque é alegre ou
porque é sério etc.
“E Jesus não fez ali muitos milagres, porque eles não tinham fé.” A fé é
condição necessária para se receber uma graça de Deus. E o motivo principal da
recusa a um profeta é a nossa falta de fé.
Os profetas, isto é, os líderes cristãos que são nossos vizinhos, e
cujas famílias nós conhecemos, por si são melhores do que os desconhecidos,
porque eles ou elas nos conhecem e podem dar o remédio certo, pois conhecem as
nossas falhas. Também porque, sendo da nossa cidade ou bairro, fica mais fácil
a continuidade do trabalho evangelizador.
Os fariseus colocavam sua segurança na Lei. Os saduceus colocavam sua
segurança no dinheiro; eram todos latifundiários. E os sacerdotes colocavam a
sua segurança no culto. Assim, nenhum deles precisava de Deus! Eram pessoas
cheias de si mesmo e que se julgavam donas do próprio destino. O certo é nos
esvaziarmos de tudo. “Esse povo me procura só de palavra, honra-me apenas com a
boca, enquanto o coração está longe de mim. Seu temor para comigo é feito de
obrigações tradicionais e rotineiras” (Is 29,13). “Este povo me honra com os
lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15,8). “Na sua boca, tu
(Senhor) estás presente, mas longe do coração” (Jr 12,2).
Deus nos fala de muitas maneiras: pelos profetas, pela Sagrada
Escritura, por outros livros ou programas bons... Que estejamos abertos.
Hoje nós celebramos a festa de Santo Inácio de Loyola, o fundador da
Ordem dos Jesuítas. Ele era espanhol e viveu no Séc. XVI. Toda a vida de Inácio
foi maravilhosa. Mas nos chamam a atenção dois fatos:
Como jovem ele levava uma vida devassa, envolvido com bebidas, mulheres,
jogo, boemia... Como era soldado, um dia foi gravemente ferido. Na hora da
cirurgia, para mostrar a sua bravura, dispensou a anestesia. Após a cirurgia,
teve de ficar muitos dias internado. Ele pedia romances de cavalaria para ler.
Mas, ao invés disso, as Irmãs do hospital lhe davam vidas de santos. Inácio lia
aqueles gestos heróicos dos santos e pensava: se eles puderam, por que não eu?
As Irmãs deram para ele ler um livro intitulado: A lenda dourada, que narrava a
vida de Jesus Cristo. Foi esse livro que mudou a vida de Inácio. Ao lê-lo, ele
começou a comparar a sua vida fútil e vazia, com o grande ideal de Cristo, a
serviço de Reino de Deus. Assim, aos poucos, ele foi redescobrindo aquele Jesus
que conhecera quando criança, no catecismo da primeira comunhão. Tomou a firme
resolução de trocar de carreira: em vez de defender reinos humanos, tornar-se
soldado de Cristo, lutando pelo Reino de Deus. Logo que recebeu alta, foi ao
santuário de Nossa Senhora do Monte Serrat e depositou sua espada aos pés da
Virgem Maria. Depois, retirou-se para o meio do mato, num lugar solitário, e
ali se entregou totalmente à oração, à leitura da Bíblia e à prática de
penitências.
Outro fato que nos chama a atenção aconteceu quando ele estava no meio
do mato, fazendo penitências. Um dia, enquanto caminhava, encontrou-se com um
mendigo. Propôs ao mendigo uma troca das roupas. O pobre aceitou, claro. Na
hora, os dois trocaram as roupas. E lá se foi Inácio vestido com as roupas do
mendigo, e o mendigo com as de Inácio. Isso mostra bem o temperamento de
Inácio. Ele era prático, não suportava ter boas idéias apenas na cabeça, mas
queria executá-las logo. Que bom se nós ouvíssemos os profetas com esse tipo de
postura!
Maria Santíssima é a Rainha dos profetas. Ela testemunhou corajosamente
a verdade, com atitudes e com palavras, por exemplo, no hino Magnificat. E o
principal: ela nos deu o maior profeta de todos os tempos: Jesus Cristo. Rainha
dos profetas, e Santo Inácio, rogai por nós.
Não é ele o filho do carpinteiro? Então, de onde lhe vem tudo isso?
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