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sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Cristo, Rei do Universo - Claretianos


Domingo, 24 de Novembro de 2013
Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo
André Dung-Lac, presbítero, e Companheiros, mártires do Vietnan (Memória)
Outros Santos do Dia: Alberto de Lovaina (bispo), Alexandre de Corinto (mártir), Bieuzy da Bretanha (mártir), Colmano de Cloyne (bispo), Crescenciano de Roma (mártir), Crisógono de Aquiléia (mártir), Eanfleda de Whitby (viúva, monja), Felicíssimo de Perúgia (mártir), Firmina de Amelia (virgem, mártir), Flora e Maria (virgens e mártires), Inácio Delgado e Companheiros (mártires), Leopardino de Vivaris (abade, mártir), Marino de Maurienne (monge, mártir), Mateus Alonso de Lenciñana e José Fernández de Ventosa (presbíteros, mártires), Porciano de Miranda (abade), Protásio de Milão (bispo), Romano de Le Mans (bispo).
Primeira leitura: 2 Samuel 5, 1-3.
Eles ungiram Davi como rei de Israel. 
Salmo responsorial: 121,1-5.
Quanta alegria e felicidade: vamos à casa do Senhor! 
Segunda leitura: Colossenses 1, 12-20 .
Recebeu-nos no reino de seu Filho amado. 
Evangelho: Lucas 23, 35-43 .
Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu reinado.
A solenidade de Cristo Rei foi estabelecida pela Igreja na época do ocaso das monarquias com o objetivo de apoiar as monarquias e aristocracias interessadas pela permanência do Antigo Regime e para opor-se aos nascentes regimes republicanos que representavam os interesses dos pobres, do liberalismo e da nascente democracia. Suas origens são muito discutíveis. Contudo, os textos da liturgia desta festa mostram a maneira peculiar do reinado de Cristo.
Convém lembrar em que consistiam as esperanças messiânicas do povo judaico no tempo de Jesus: uns esperavam um novo rei, ao estilo de Davi, tal como apresentado na primeira leitura de hoje. Outros, um caudilho militar que fosse capaz de derrotar o poderio Romano; outros, como um novo Sumo Sacerdote, que purificaria o Templo. Nos três casos, esperava-se um Messias triunfante, poderoso.
O Salmo que lemos hoje, também proclama o modelo davídico de “rei”.
Jerusalém, a “cidade santa”, é a cidade do poder. Isso explica por que, quando Jesus anuncia a Paixão a seus seguidores, não conseguem entender por que deve passar pela morte.
O Evangelho de hoje nos apresenta como Jesus Cristo reina: não a partir de um trono imperial, mas a partir da cruz dos rebeldes. A rebelião de Jesus é a mais radical de todas: pretende, não somente eliminar um tipo de poder (o Romano e o sacerdotal) para substituí-lo por outro, com um nome distinto, porém baseado na mesma lógica de dominação e violência (que era o que correspondia às expectativas judaicas).
Podemos dizer que Jesus é o anti-modelo de rei dos sistemas opressores: não quer dominar as demais pessoas, mas promover, convocar, suscitar, o poder de cada ser humano de modo que cada pessoas e cada um de nós assumamos responsavelmente o peso e a alegria de nossa liberdade.
Um dos grandes psicólogos do século XX, Erich From, propõe, em seu livro O medo e a liberdade, que ante a angústia que produz no ser humano a consciência de estar separados do resto da criação, adotamos duas atitudes igualmente patológicas: dominar os outros e buscar alguém para depender, entregando nossa liberdade. Em ambos os casos, as pessoas buscamos como, através destes mecanismos, dissolver essa barreira que nos separa das outras pessoas e do resto do universo.
O pecado fundamental do ser humano é, segundo isto, um pecado de poder mal administrado, mal assumido. E isto é a origem de todos os outros pecados: a avareza, que conduz a uma ordem econômica injusta; a soberba, que nos impede de ver com claridade nossos erros e pecados; a mentira, que nos leva a manipular ou a deixar-nos manipular; a luxuria, o sexo utilizado como instrumento de poder para “possuir”, oprimir; o medo, que nos impede de levantar-nos e caminhar com nossos próprios pés.
Enredados nessas tramas do poder a que nos conduz nosso “medo da liberdade”, quando um regime opressor de qualquer sinal que seja se torna insuportável, buscamos como derrubá-lo... para substituí-lo por outro que, contudo, funciona baseado na mesma lógica. Essa é a lógica que Jesus desarticula de maneira total e radical.
Quando em Getsêmani acodem os soldados e as turbas “da parte dos sumos sacerdotes e anciãos do povo” (MT 26,47) para prender Jesus, ele não recorre à violência de nenhum tipo. Jesus se nega a ser coroado rei ao estilo do “mundo” quando da multiplicação dos pães e dos peixes (Jo 6,15).
A tentação do poder, entendido ao estilo dos sistemas opressores, persegue Jesus desde o deserto até a cruz. E desde o desterro até a cruz, Jesus rejeita este modelo, denuncia com toda claridade que procede do diabo, do “príncipe deste mundo”, e não cai em suas armadilhas. O custo desta resistência não somente valente mas lúcida de Jesus é a morte.
Na cruz Jesus derrota total e radicalmente o demônio do poder, concebido como violência e opressão por uma parte e como dependência, submissão e alienação, por outra. Deste modo inaugura um novo tipo de relações entre as pessoas e o universo inteiro, baseadas, não na dominação/dependência, mas no respeito mútuo, na harmonia, na valentia para assumir o peso da própria liberdade responsável.
Na carta aos Colossenses, Paulo mostra como através de Jesus o Cristo (Promanosogênito de todas as criaturas, preexistente e co-criador do universo, cabeça da igreja, primicia da plenitude da Criação inteira), se produz a reconciliação de todos os seres com Deus. Esta e outras expressões paulinas deram luar a interpretações errôneas, que consideram a morte de Jesus na cruz era o preço que devia pagar para que o Pai, enfastiado e rancoroso, perdoasse a humanidade pecadora.
Contudo, os evangelhos nos mostram com claridade por que e como é que Jesus nos reconcilia com o Pai: não por que esse Deus, pai-mãe, seja um deus rancoroso, mas porque havíamos perdido o rumo da autêntica unidade com Deus e com o universo inteiro: essa que não se faz sucumbindo ao nosso medo existencial e escudando-nos em posições de poder (dominante e dependente) mas superando nossos medos, atrevendo-nos a apresentar-nos tal como somos diante de Deus, em total pobreza de espírito, sem escudos protetores que nos impedem de ver seu rosto.
Lamentavelmente, quantas vezes em nossa vida eclesial reproduzimos os modelos de “reinado” do mundo e não os de Deus em Jesus Cristo! Quantas vezes estabelecemos relações de poder autoritárias em vez de fraternas! Quantas vezes entramos em parceria com os poderes do sistema, seja por ação ou por omissão!
O modelo de “reinado” que nos apresenta o “Cordeiro imolado” nos interpela e chama à conversão. Não é necessário nem conveniente sublinhar a “realeza” de Jesus se isso leva consigo tergiversar de seu autêntico e efetivo projeto de vida. Causa dano, sobretudo aos mais oprimidos, apresentar essa imagem monárquica e principesca de um Jesus que, na verdade, dedicou toda sua vida e suas energias em desmascarar e a lutar contra esse tipo de estruturas.
Oração: Ó Deus, nosso Pai, que enviaste Jesus para que anunciasse a todos teu desejo de renovar totalmente o mundo, contaminado pelo pecado; nós te pedimos que ao proclamá-lo Rei não nos impeça ver que o verdadeiramente importante é construir – como ele e com ele, seguindo seus passos, teu reino. Pelo mesmo Jesus Nosso Senhor. Amém!


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