SÁBADO - 21 de Dezembro de 2013 -
Evangelho - Lc 1,39-45
Como posso merecer que a mãe do meu
Senhor me venha visitar?
Este Evangelho, que relata a visita de
Maria a Isabel e a saudação da prima, destaca a figura de Maria, a mãe do
Messias. Cristo é sempre o centro da liturgia da Igreja. Mas este
cristocentrismo vai adquirindo matizes diferentes ao longo do ano.
Maria fez uma viagem de 150 km,
portanto, longa e penosa, pois teve de subir e descer montanhas. Mas o impulso
da caridade é mais forte, e ela foi às pressas. A caridade é um precioso dom
que Deus colocou em nossos corações no dia do batismo.
“Como posso merecer que a mãe do meu
Senhor me venha visitar?” “Mãe do meu Senhor” é o mesmo que dizer “Mãe de
Deus”. Foi devido a esse Deus, que Maria já carregava em seu ventre, que João
Batista pulou de alegria, ainda no ventre da mãe. É a força da salvação que
Cristo veio realizar, e começou mesmo antes de nascer. Esta visita de Maria
foi, na verdade, a primeira procissão de Corpus Chisti.
Fascinada por Deus, Maria de Nazaré
encarnou a esperança multissecular do seu povo. Ela se alegrou e se abriu de
corpo e alma ao plano de Deus Pai: “Eis aqui a escrava do Senhor. Faça-se em
mim segundo a tua palavra”.
A aceitação de Maria é um eco da
aceitação do próprio Jesus Cristo: “Eis me aqui, ó Deus, para fazer a vossa
vontade” (1ª Leitura e Sl 39,8).
Ter fé é abrir-se à ação divina. É
seguir um caminho novo, traçado não por nós, mas por Deus para nós. E Maria
seguiu esse caminho com grande solicitude. Porque ela amava muito a Deus, e
quem ama se entrega à pessoa amada.
A solidariedade em servir a Deus leva à
solidariedade em servir o próximo. Quanto mais uma pessoa ama a Deus, mais ama
o próximo, por amor a Deus. E o nosso amor ao próximo por amor a Deus é
universal, como Deus que manda o sol e a chuva sobre todos, maus e bons (Mt
5,45). E é um amor preferencial a quem mais precisa de uma ajuda. Em Maria,
esse amor extensivo aconteceu nesta visita, no Calvário, junto à Igreja
nascente, e continua pelos séculos. E, como nós, Maria fez isso na
claridade-escuridão da fé. A fé ultrapassa a clareza e a evidência.
A exemplo de Cristo e de Maria, quantos
cristãos e cristãs, de ontem e de hoje, colaboram na redenção! Conviver com
esses irmãos é uma grande alegria que temos, em meio às cruzes da vida.
Há quem idealiza tanto Maria que acaba
por pensar que ela sabia tudo em relação ao plano de Deus. E se esquece que ela
é uma pessoa humana como nós. Segundo os Evangelhos, ela não teve, logo de
início, uma luz plena da revelação pascal e do mistério de Cristo. Nem uma
visão direta de Deus. Sua fé ia crescendo e amadurecendo progressivamente, na
medida em que ela respondia “sim”, como acontece conosco. Sabemos que o
contrário também é certo: quando respondemos “não” a Deus, a nossa fé vai
diminuindo, e pode chegar até a abandonar a fé legítima, na Igreja una, santa,
católica e apostólica.
O advento de Cristo ainda não aconteceu
plenamente. Por isso a nossa missão antes do Natal é agilizar a sua vinda hoje,
através da dedicação ao Reino de Deus. Assim estaremos preparados para celebrar
o seu nascimento histórico, isto é, o seu aniversário natalício. “Arrancastes
do Egito esta videira, e expulsastes as nações para plantá-la... Vinde logo,
Senhor, vinde depressa pra salvá-la!”
Antífona do Ó: “Ó Chave de Davi, Cetro
da casa de Israel, que abris e ninguém fecha, que fechais e ninguém abre: vinde
logo e libertai o homem prisioneiro, que, nas trevas e na sombra da morte, está
sentado”.
Certa vez, um homem estava, com sua
espingarda, dando tiros para cima. Veio um guarda e lhe perguntou: “O que você
está fazendo aí, dando tiros para cima?” Ele respondeu: “Estou espantando
elefantes”. O guarda olhou em volta e disse: “Mas eu não estou vendo nenhum
elefante!”. “É sinal que eu já espantei todos”, disse o homem.
“Eu corro, não como às tontas. Eu luto,
não como quem golpeia o ar” (1Cor 9,26). Cada vez que chega alguém que carrego
Cristo, acontece uma explosão de alegria, como teve Isabel. Mas não podemos
perder tempo, golpeando o ar ou dando tiros para espantar o que não existe na
realidade. Precisamos ir para a ponta da linha, lá onde o problema está, e
vencê-lo com a graça de Deus.
Que Maria Santíssima e Santa Isabel nos
ajudem na abertura ao plano de Deus, que ainda hoje que usar de nós para que
seu Filho possa nascer em plenitude no mundo.
Como posso merecer que a mãe do meu
Senhor me venha visitar?
Padre Queiroz
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