NATAL DO SENHOR
“O VERBO DIVINO SE FEZ HOMEM
E HABITOU ENTRE NÓS” Jo 1, 1-18
Leituras da 3ª Missa
Isaias 52, 7-10 - SALMO
Lucas2,11 - 2ª Leitura Hebreus 1, 1-6.
Mais do que um teólogo, acho que o evangelista João era um poeta
dos melhores, essa frase é a palavra chave do seu evangelho, proclamado na
Missa do dia de Natal, mais parece uma poesia, coisa de quem sentiu um
encantamento com o nascimento de Jesus. O evangelho da missa da vigília
mostra-nos como Deus vai se movendo em meio a situações desencontradas na vida
de duas pessoas: Maria e José. O noivado com José, a gravidez inesperada, a
reação de José, que abre mão do seu direito de denunciar Maria, para não lhe
causar nenhum mal e resolve abandoná-la. Um amor que quer o bem da esposa,
ainda que isso signifique viver longe dela, um amor que não quer dominar ser o
dono da verdade, ter toda a razão, mas um amor que quer preservar a vida de
quem ama, ainda que isso lhe traga dores, dúvidas e amarguras. Deus escolheu o
homem certo, José era justo, mesmo que não entendesse os fatos envolvendo sua
noiva, fez prevalecer o amor. O amor a Deus e aos irmãos não explica, mas
aceita e só quer o bem do outro.
E por trás de um amor puro e devotado, está à vontade de Deus, que
vai realizar tudo o que os profetas haviam falado – eis que a virgem conceberá
e dará a luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa
“Deus conosco”. José aceita, não porque compreende racionalmente os fatos, mas
porque sabe que Deus está agindo e isso lhe basta.
Costuma-se dizer sempre que “Deus escreve sempre certo, por linhas
tortas” e isso é mesmo a mais pura verdade, o grande rei Davi havia nascido em
Belém, e seria lá também que o messias haveria de nascer, José e Maria não são
pessoas especiais, diferentes das demais, mas vivem em meio a história, dentro
das estruturas do mundo, o cristão não pode alienar-se do mundo e fugir do seu
destino humano, José e Maria,
Sujeito às leis do império romano, sobem até Belém para serem
recenseados, e lá Jesus acaba nascendo em uma estrebaria, nas grandes cidades
nem sempre há um cantinho para o migrante que tem de se virar em qualquer
canto, no banco de uma praça ou em baixo de uma ponte, nos barracos e favelas e
assim, do mesmo modo que os moradores de rua partilham suas alegrias, quando as
tem, Deus quis partilhar com uma classe marginalizada a grande alegria do
nascimento do seu filho – e assim, os pastores são os primeiros a serem informados.
Logo eles, que tinham fama de serem brigões e mentirosos, homens sem palavra
que jamais seriam ouvido como testemunhas nos tribunais, foram os
privilegiados.
Para gente simples o sinal é também simples, encontrareis um menino
envolto em faixas e deitado nas palhas de uma estrebaria. Não é uma criança
sobrenatural, mas excluído e rejeitado igual eles, que eram proibidos de
entrarem no templo ou na sinagoga.
Deram glória a Deus porque sentiram a alegria de serem lembrados
por ele, chegou enfim a salvação, que não vem da corte ou dos palácios, que não
vem das pomposas cerimônias do templo, mas de uma criancinha deitada em uma
humilde estrebaria.
Infelizmente o natal do consumismo vai por um outro caminho, e só
leva boas notícias aos ricos e poderosos, que podem se banquetear na noite de
natal, e trocar ricos presentes, pois ainda temos entre nós tantos “pastores”
banidos da sociedade e das igrejas, gente desprezada e deixada de lado por um
sistema injusto e pecaminoso, gente que não conhece e nem faz idéia de que Deus
os ama apaixonadamente e que essa declaração de amor acontece e é renovada na
noite de natal. A igreja é por excelência portadora desse anúncio onde os
últimos da sociedade deverão ser os primeiros a receber esta boa nova.
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