SEGUNDO
DOMINGO DO ADVENTO
Ano C
Evangelho Lc 3,1-6
-SEGUNDO DOMINGO DO
ADVENTO-José Salviano
A
esta altura do no, o comércio se prepara a todo vapor para as grandes vendas do
fim de ano. E a riqueza dessas vendas é graça ao décimo terceiro salário, que
alivia um pouco as contas do povo, dando-lhe condições de fazer algumas
compras, para presentear os seus entes queridos. E é exatamente isso, esse
salário extra, que aquece o comércio. Sem ele, o clima de fim de ano seria
frio, melancólico e muito tristonho!
Enquanto
o comércio se prepara a mil por hora para as grandes vendas deste Natal,
cujo objetivo é ganhar muito dinheiro, a liturgia deste domingo nos
convida a despir esses valores efêmeros e egoístas a que, uma grande parcela da
sociedade dá uma importância excessiva, e a fazer uma revisão da nossa escala
de valores, no sentido de nos examinar, para ver se não estamos também pendendo
demais para o lado materialista da vida. Para observar se nos esquecemos que os
valores fundamentais que marcam a nossa vida são valores do “Reino dos
Céus”.
Na
primeira leitura, o profeta Isaías apresenta um enviado de Jahwéh, da
descendência de David, sobre quem repousa a plenitude do Espírito de Deus; a
sua missão será construir um reino de justiça e de paz sem fim, de onde estarão
definitivamente banidas as divisões, as desarmonias, os conflitos. Que
bom se isso viesse a acontecer no meio de nós!
Na
segunda leitura, Paulo exorta os cristãos a vencer qualquer tipo de egoísmo e
de auto suficiência e a dar as mãos aos mais fracos e necessitados, seguindo o
exemplo de Cristo. Não é pecado comprar o que precisamos nos dias que
antecedem o Natal. O que é pecado é ignorarmos aqueles que nada têm!
O
Evangelho de hoje nos mostra a figura ímpar de João Batista que
anuncia a realização do “Reino de Deus” a qual ele afirma estar muito
próxima. E para que o “Reino” se torne realidade viva no mundo,
João Batista convida a todos a mudar as suas escalas de valores, a organizar as
suas rotinas a fim de que em suas vidas haja lugar para Deus!
É
o que está faltando no mundo de hoje. Muitos correm desesperadamente em busca
dos prazeres passageiros, em busca de bens materiais, empenhando esforços
24 horas por dia de modo que não lhes sobram um minuto para falar com Deus! E
Deus paciente e amoroso, espera, convidando-os diariamente à conversão. Porém,
infelizmente, o que acontece na sociedade, são os efeitos de tudo disso, o que
acontece no nosso dia a dia é o resultado dessa vida longe do Pai que
inevitavelmente acarreta sérias consequências, que são as tragédias e os crimes
bárbaros os quais vemos nos noticiários no final do dia.
João
Batista é aquele que prega nos deserto. E você deve estar perguntando: Ele
pregava para quem? Para as pedras e para a areia?
É
claro, que não! João pregava para as pessoas que iam até ele, para ouvi-lo,
para se converterem e serem batizados. João prepara o povo para
acolher Jesus. João Batista vivia no deserto de Judá, nas margens do rio
Jordão. A sua mensagem estava centrada na urgência da conversão e dizia que
o “juízo de Deus” estava chegando.
Então,
João é um homem exótico que não se vestia como os demais, e questiona o
modo de viver voltado para os bens materiais. Ele convida a uma
conversão, a uma mudança de valores, convida a esquecer o supérfluo, para dar
atenção ao essencial dessa vida, visando a Vida Eterna.
Muita gente
acorria de Jerusalém, de toda a Judéia e de toda a região do Jordão e era
batizada por ele no rio Jordão, confessando os seus pecados.
João atendia a todos
com boa vontade, porém seu humor mudou de repente quando os fariseus e
saduceus, se aproximaram dizendo que também queriam ser batizados. João
enfurecido e com palavras duríssimas, disse: “Raça de víboras, quem vos
ensinou a fugir da ira que está para vir? Praticai ações que se conformem ao
arrependimento que manifestais. Não penseis que basta dizer: «Abraão é nosso
pai»…”
João avisa que
não há salvação assegurada obrigatoriamente a quem tem o nome inscrito nos
registros do Povo eleito: É preciso viver em contínua conversão e fazer as
obras de Deus: “toda a árvore que não dá fruto, será cortada e lançada ao
fogo”.
João explica:
aquele que vem depois de mim, irá batizá-los no Espírito Santo e no fogo. De
fato, o batismo de Jesus vai muito além do batismo de João: Pois dá a
quem o recebe a vida de Deus, pelo Espírito Santo, e o torna “filho de Deus”, e
ainda o ingressa na vida da Igreja. O batismo de Jesus significa um modo de
vida completamente novo, uma relação de filiação com Deus e de fraternidade com
Jesus e com todos os outros batizados.
Prezados irmãos.
Na verdade, a mensagem central do Evangelho de hoje é a conversão.
Sabemos muito bem que não é possível acolher Jesus cujo aniversário se
aproxima, se a nossa mente estiver cheia de rancores, ódios, competição
desleal, fofoca, egoísmo, orgulho, de auto suficiência, e de preocupação com os
bens materiais…
Para nos
converter, precisamos mudar o nosso modo de pensar, de querer, de escolher, de
nos relacionar com os nossos irmãos, etc. Precisamos deixar de lado tudo aquilo
que nos tira o espaço de Deus em nossa mente, em nossa vida diária. Precisamos
urgentemente organizar a nossa rotina diária de jeito que venha sobrar um
espaço para Jesus, um espaço para a oração, para a leitura do Evangelho, para
a prática da caridade...
Se João
Batista aparecesse por aqui hoje, ele iria criticar as nossas escolhas, as
nossas prioridades e nos mostrar os verdadeiros valores fundamentais da
existência humana. Ele não se apresentaria de terno e gravata, pois a sua
prioridade não seria brilhar em algum evento da High Society, nem se
apresentaria com um sorriso diante das câmeras, pois seu objetivo não seria
aparecer na COLUNA SOCIAL, ele não viria de carro importado pois a sua
prioridade não seria impressionar os líderes empresariais, nem teria a intenção
de mostrar que é um homem de sucesso das altas rodas sociais; nem petiscaria
pratos delicados com molhos esquisitos de nomes franceses, pois a sua
prioridade não era a satisfação de apetites físicos ou do paladar, nem do
bem-estar, nem de exibir riqueza aos seus admiradores, pois o seu objetivo
primeiro não seria receber aplausos nem de aparecer na mídia. Muito menos de
buscar impressionar a comunidade cristã ou religiosa, pois a sua preferência
não seria o sucesso, as honras, nem o poder…
O João
Batista de hoje é o catequista de todo tipo. É alguém para quem a tarefa
mais importante é o anúncio do “Reino dos céus”, o anúncio do Evangelho com
dedicação plena de preferência. O João dos dias de hoje, são todos nós também
que procuramos anunciar os ensinamentos de Jesus não só com palavras mas com
palavras e com atitudes, com todo despojamento, simplicidade, amor total e
partilha. Pois esses são os valores que ele procura anunciar, os valores
que acompanham os catequistas por onde andam a semear a semente da
palavra de Deus.
O João Batista de
hoje seria um cristão atuante, vestido como qualquer outro, que não se
alimentaria de gafanhotos e mel, mas comeria o que todos comem no seu meio
social, e que visitaria a periferia para mostrar lá os valores do “Reino”
em prioridade aos valores efêmeros e fúteis a que a sociedade prefere, e que
são anunciados na catequese da mídia, principalmente das novelas e dos filmes.
Esses valores geralmente produzem frutos de sangue! Frutos de morte, de choro e
prisão, de desespero, em fim de muito sofrimento!
Lá na periferia,
ou nas favelas, encontramos nossos irmãos e irmãs que vieram de outras regiões
para se aventurar em uma vida melhor, e são aqueles que moram em casas
inacabadas, ou seja, sem reboco. Nesse meio social podemos notar que os valores
eternos, os valores do Evangelho estão longe das mentes das pessoas, cujas
vidas de privações do necessário, acarreta um situação de promiscuidade
existencial que elas não merecem! Pois são todos filhos de Deus e têm direito a
uma vida digna!
E
nesses ambientes sociais, os "Joãos Batistas" atuais não comparecem
para semear a palavra de Deus! Isso é um fato muito lamentável! Por que onde
falta a presença da palavra viva de Deus, o diabo se aproxima e sopra aos
ouvidos dos maridos, das esposas, o vento da traição, o cochicho da mal querência,
da desavença e do desamor. E assim, ocorrem as separações, nas quais cada
um dos cônjuges se ajunta a outras pessoas, que não respeitam os filhos da
outra união, e desse modo vem a pedofilia, o estupro, as brigas, os
crimes...
A
causa mais comum dos maus tratos e assassinatos das mulheres atualmente,
é o fato dos companheiros estragarem a sua saúde na bebida, e em outros tipos
de embriagues, e quando não se garantem mais diante da mulher como um
homem, ficam com ciúmes doentio, dizendo a famosa frase: Se você não for minha,
não será mais de ninguém! Essa frase, que resulta da própria culpa pela
mulher terminar a relação e procurar outro, tem gerado muitos crimes!
Então
vamos formar um grupo de "Joãos Batistas" para visitar
aquelas periferias, e mostrar que a união entre o homem e a mulher precisa ser
abençoada por Deus, na pessoa do sacerdote, senão termina mal. Para mostrar que
viver sem Deus é algo muito arriscado! Para mostrar que o essencial para
se viver bem não é o que a mídia anuncia, os bens materiais, mas sim, a
fraternidade, a compreensão, o perdão, a renúncia, a doação de si, em fim, o
amor a Deus e ao próximo.
Bom
domingo, José Salviano.
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