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Dezembro 2018
Tempo do Natal - 3º dia da Oitava do Natal
> Festa de S. João
Lectio
Primeira leitura: 1 João 1,1-4
Caríssimos: 1*0 que existia desde o princípio,
o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas
mãos tocaram relativamente ao Verbo da Vida, 2* de facto, a Vida manifestou-se;
nós vimo-Ia, dela damos testemunho e anunciamo-vos a Vida eterna que estava junto
do Pai e que se manifestou a nós- 3*0 que nós vimos e ouvimos, isso vos
anunciamos, para que também vós estejais em comunhão connosco. E nós estamos em
comunhão com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo. 4*Escrevemo-vos isto para que
a nossa alegria seja completa.
No breve prólogo à sua Primeira Carta, S. João
expõe os critérios para entrarmos em comunhão com Deus. Oferece-nos também um
itinerário de fé, e indica as defesas a usar contra o pecado.
João fundamenta a fé cristã no «Verbo da
vida», de que dá testemunho, indicando, e descrevendo de modo sintético, as
suas etapas essenciais. Mas, ao contrário do Prólogo do seu evangelho, onde
acentua o «Verbo», aqui acentua a «vida», que Jesus possui e dá. Tudo começa
com a experiência pessoal do apóstolo, no contacto com Jesus: «o que ouvimos, o
que vimos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram relativamente ao Verbo
da Vida» (v. 1). Esta experiência torna-se testemunho e exemplo coerente (v.
2), anúncio corajoso, que gera comunhão entre aqueles que o escutam e abraçam a
fé, e comunhão com o próprio Pai e com o seu Filho Jesus (v. 3). Esta comunhão,
por sua vez, gera a alegria do coração (v. 4).
A palavra «nós» põe-nos diante da tradição da
escola joânica, que desenvolve o testemunho do discípulo amado, fundado na
«vida divina» tornada visível em Jesus.
Evangelho: João 20, 2-8
2*No primeiro dia da semana, Maria Madalena
foi ter com Simão Pedro e com o outro discípulo, o querido de Jesus, e
disse-lhes: «O Senhor foi levado do túmulo e não sabemos onde o puseram.»
3pedro saiu com o outro discípulo e foram ao túmulo. 4Corriam os dois juntos,
mas o outro discípulo correu mais do que Pedro e chegou primeiro ao túmulo.
5Inc/inou¬se para observar e reparou que os panos de linho estavam espalmados
no chão, mas não entrou. 6*Entretanto, chegou também Simão Pedro, que o
seguira. Entrou no túmulo e ficou admirado ao ver os panos de linho espalmados
no chão, 7* ao passo que o lenço que tivera em volta da cabeça não estava
espalmado no chão juntamente com os panos de linho, mas de outro modo, enrolado
noutra posição. 8Então, entrou também o outro discípulo, o que tinha chegado
primeiro ao túmulo. Viu e começou a crer.
João dá-nos neste texto uma síntese dos
acontecimentos verificados na manhã da Páscoa, em que são protagonistas Maria
Madalena, Pedro e ele próprio. A noite espiritual em que tinham mergulhado os
apóstolos está para dar lugar à experiência de fé, que começa junto ao túmulo
vazio, sinal da presença do Ressuscitado (v. 2). Ao receberem a notícia de que
fora retirada a pedra do sepulcro, e de que o corpo de Jesus lá não estava,
Pedro e João foram verificar o que sucedera. A sua corrida revela amor e
veneração, e faz pensar na Igreja que procura sinais visíveis do Senhor,
especialmente quando se encontra em dificuldade e não consegue vê-lo. João
chega primeiro do que Pedro ao sepulcro, devido à sua intuição amorosa de
discípulo amado, mas é Pedro quem entra por primeiro, devido à sua função
eclesial (vv. 5- 7). Depois de observar a ordem das várias coisas que se encontravam
no sepulcro, e a paz que nele reinava, o discípulo amado abre-se à visão da fé,
acreditando nos sinais visíveis do Senhor: «Viu e começou a crer» (v. 8). Ainda
não é a fé plena na Ressurreição. Isso só acontecerá quando o seu espírito se
abrir à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24, 45), quando vir a pessoa do
Senhor e receber o dom do Espírito Santo, isto é, quando tiver percorrido todo
o itinerário da fé.
Meditatio
S. João é uma figura de fundamental
importância na Igreja primitiva. De facto, é o discípulo amado que ensina a
contemplar em Jesus, o Filho de Deus feito homem, para nos revelar o rosto do
Pai e o caminho que leva à comunhão com Ele. Por esta razão, João é chamado
teólogo. Os seus escritos levam a acreditar em Jesus Messias e Filho de Deus
(cf. Jo 20, 31). O seu símbolo é a águia porque, como refere uma sentença
rabínica, a águia é a única ave que consegue fixar o sol sem cegar. Para João,
o sol é Cristo. A sua presença na comunidade descobre-se pela contemplação e
pela inteligência da Palavra de vida. A vida, na sua realidade mais profunda, é
«a Vida eterna que estava junto do Pai e que se manifestou a nós». Jamais
contemplaremos suficientemente este mistério de vida que se tornou perceptível
para nós em Jesus, Filho de Deus, a vida eterna que estava junto do PaiO
S. João faz-nos compreender quanta
profundidade se encontra na pessoa do Filho, na sua união com o Pai, na sua
comunhão com Eleffi Incarnação tem por objectivo tornar-nos participantes nessa
comunhão divina: estamos «em comunhão com o Pai e com o seu Filho, Jesus
Cristo». A Incarnação aconteceu em vista da comunhão. Isto é espantoso. A carne
é causa de divisão! Por causa dela, estamos num lugar e não noutro. Podemos
chegar até às pessoas queridas pelo pensamento. Mas a carne impede-nos estar em
comunhão com elas. E quantas discussões, litígios e divisões por causa dos bens
materiais! O Filho de Deus, ao assumir a nossa carne, tornou-a meio de
comunhão. Tudo o que assumiu se tornou instrumento de comunhão com Deus e entre
nós. Na Eucaristia, onde a carne de Cristo se põe ao serviço da comunhão,
fazemos a comunhão, isto é, recebemos a comunhão com o Pai e a comunhão entre
nós. Para isso, Cristo teve de sacrificar a sua carne, teve de entregá-Ia aos
inimigos, para fazer dela um sacrifício agradável, um sacrifício perfeito.
Então, a vida mostrou toda a sua força.
O evangelho de hoje leva-nos até à Páscoa,
mostra-nos a meta alcançada: a vida venceu a morte e manifestou-se. O que João
viu foi esta vitória da vida, manifestada no sepulcro pelas ligaduras, pelo
sudário. O corpo de Cristo já não está no sepulcro, porque a vida triunfou. Mas
Jesus incarnado está sempre connosco, porque a vitória sobre a morte foi
alcançada para nós.
Uma outra lição que podemos tirar do evangelho
de hoje é o respeito pelos carismas, que são muitos na Igreja, para bem da
mesma Igreja. João, que tem o carisma da profecia, é respeitado Pedro, que tem
o carisma da instituição. O respeito pelo
s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.
s carismas, e a partilha na busca comum dos dons do Espírito, permite-nos penetrar no mistério, reconhecer os sinais do Ressuscitado.
Com S. João, também nós somos chamados a
"conhecer", isto é, fazer experiência de vida e a "crer",
isto é, a aderir com todo o coração e com toda a nossa pessoa, "ao amor
que Deus nos tem"? (1 Jo 4, 16), amor manifestado no Verbo Incarnado. Esse
inefável "amor que Deus nos tem ... !", de que João é «doutor», no
dizer do Pe. Dehon, é o grande mistério para todo o cristão e, em particular,
para todo o oblato-SCJ.
É este mistério que queremos proclamar diante
da Eucaristia, diante do Crucificado de Lado aberto, diante da nossa vocação de
Oblatos-Sacerdotes do Coração de Jesus.
Oratio
Senhor Jesus Cristo, que revelaste a João, teu
discípulo amado, os misteriosos segredos da Palavra, dá-nos também a nós, hoje,
e a toda a Igreja, uma nova inteligência espiritual das Escrituras. Assim
poderemos iluminar, cada vez mais, a nossa vida espiritual, e aprender a tua
ciência sublime.
Concede à Igreja pastores sábios e santos,
capazes de colher o sentido espiritual e profundo das Escrituras e introduzir o
povo de Deus na tua intimidade. Assim todos poderemos conhecer o teu Coração, o
teu pensamento, a profundidade do teu Espírito e o modo como conduzes a
história da Igreja.
Por intercessão do teu discípulo amado,
faz-nos experimentar o amor do teu Coração, e torna-nos assíduos e delicados no
teu serviço. Sempre, e em toda a parte, queremos, como S. João, realizar a tua
vontade sobre nós. Ajuda-nos!
Contemplatio
S. João teve com Jesus os laços mais íntimos:
foi seu parente, seu discípulo, seu amigo, seu herdeiro. Tiago e João eram
filhos de Salomé, parente de Maria. Eram chamados irmãos de Jesus. Era costume
chamar irmãos os parentes próximos. João deve ter conhecido Jesus menino.
Ligou-se a Ele, primeiro como discípulo com
Santo André (Jo 1, 37). Tendo ouvido João Baptista chamar Jesus Cordeiro de
Deus, deleitou-se com esse nome, meditava-o sem cessar, e lembra-o muitas vezes
no Apocalipse.
S. João está sempre junto de Jesus. Quando
Jesus toma aparte alguns apóstolos, para os mais belos milagres, para a
transfiguração, para a agonia, S. João está sempre.
Senta-se junto de Jesus. S. Pedro sabe bem que
João é o amigo e que, por meio dele, pode conhecer os segredos que Jesus não
revela a todos.
S. João pode narrar em pormenor os discursos
de Jesus depois da Ceia porque os ouviu melhor que os outros.
S. João ama como é amado. Segue Jesus por todo
o lado (Petrus vidit iI/um sequentem). Segui-Io-á até ao Calvário. Assiste à
morte de Jesus, ao golpe misterioso da lança, à sepultura. Vê de perto o lado
de Jesus aberto. Abraça-o, sem dúvida, como um dia havia de fazer S. Francisco
(Haurietis aquas in gáudio).
S. João é o herdeiro de Jesus, que lhe legou a
sua mãe e necessariamente com ela as habitações de Nazaré e as lembranças.
Jesus disse a Pedro que João devia esperá-lo e
recebe-lo na terra. Hão rever-se em Patmos. João reencontrará lá o divino
Cordeiro de lado aberto: Agnum occisum ... quem pupugerunt.
Ó divina amizade, que merece contemplação e
admiração eterna! (Leão Dehon, OSP 4, p. 591s.).
Actio
Repete frequentemente e vive hoje a palavra:
« O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).
« O Verbo fez carne, e nós vimos a sua glória» (Jo 1, 14).
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