15 - de Junho -Segunda - Evangelho - Mt 5,38-42
Estamos diante da lei do Talião: “Ouvistes o que
foi dito: Olho por olho, dente por dente”, embora à primeira vista pareça estar
alimentando um sentimento de vingança, ela justamente deseja frear um ímpeto de
vingança individual. Vivemos em época caracterizada por ilegalidade. Que tem invadido
nossa sociedade a um grau imprevisto e sem precedente. Os que fazem da lei a
sua profissão, estão sendo convocados para repensar o propósito da lei na
sociedade. Em nossos dias o indivíduo exige seus próprios direitos e o direito
de agir como lhe apraz. Pouca consideração se dispensa ao efeito que isto possa
ter sobre a vida de outrem.
Encontramos este princípio por todo o Novo Testamento. Vejamos o
que Paulo diz. “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao
bem. Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em
honra uns aos outros” (Romanos 12:9-10). O justo manifesta amor. O amor é
atencioso e altruísta. Como se revela esse amor?
Paulo disse: “Abençoai aos que vos perseguem, abençoai, e não
amaldiçoeis. Alegrai-vos com os que se alegram, e chorai com os que choram”.
“Não vos vingueis a vós mesmos, amados [não vos apegueis a vossos direitos, não
demandeis pelo que vos é devido], mas dai lugar à ira; porque está escrito: A
mim me pertence a vingança; eu retribuirei, diz o Senhor”. Se for cometido
algum erro, o entregue ao Senhor. Não se vingue, não busque seus próprios
direitos. “Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de
beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te
deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”. Paulo mostrou-nos o que nosso
Senhor disse no capítulo 5 de Mateus: A pessoa tem direitos. Seus direitos
foram violados. A pessoa pode exigir indenização. Mas o justo deixa esse
problema com Deus, e demonstra amor e perdão até mesmo aos seus inimigos. Isso
é justiça em ação.
Paulo menciona de novo este mesmo princípio em 1 Coríntios 6. Aqui
ele luta com o problema de um crente recorrer ao tribunal contra outro crente
para cobrar o que de direito lhe pertence. Certo homem insistia em seus
próprios direitos, e o apóstolo criticou o descrédito que esse testemunho
trazia ao mundo incrédulo: “Por que não sofreis antes a injustiça? Por que não
sofreis antes o dano?” Paulo disse que o sinal do homem piedoso é abrir mão de
seus direitos para que possa manifestar o amor altruísta de Cristo.” O amor não
pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor”,
diz o apóstolo Paulo em Romanos 13:10. A lei nos dá direitos, mas também nos dá
a liberdade de renunciar a eles, e assim manifestar a justiça de Cristo. Temos
nossos direitos, e a Palavra de Deus os protege. Temos, também, a liberdade de
renunciar a eles para demonstrar o amor de Cristo. Não é a demanda por seus
direitos que caracteriza o justo, mas o desistir deles é que destaca o homem
que agrada a Deus.
Jesus no Evangelho de hoje, com as palavras, vai progressivamente
nos conduzindo a ir além desta lei. Fazendo-nos reconhecer o não revide:
oferecer a outra face; deixar também o manto; caminhar com ele dois mil passos.
Jesus apresenta uma referência baseada, não na lei da justiça judaica, isto é,
o que é devido a cada um, mas na lei da graça e do amor. Ouvistes o que foi
dito: ‘Olho por olho e dente por dente!’ Eu, porém, vos digo: Não enfrenteis
quem é malvado! Pelo contrário, se alguém te dá uma tapa na face direita,
oferece-lhe também à esquerda! Se alguém quiser abrir um processo para tomar a
tua túnica, dá-lhe também o manto! Se alguém te forçar a andar um quilômetro,
caminha dois com ele! Dá a quem te pedir e não vires às costas a quem te pede
emprestado.
Desta maneira, Ele nos leva ao mandamento da caridade, não só para
melhor compreendê-lo, mas também como concretamente vivê-lo. O Senhor nos
ordena a dar a todos, tudo o que eles nos pedem: que todos sejam cumulados, por
nossa generosidade, de tudo o que lhes falta.
Façamos de modo que eles não sofram nem de sede, nem de fome, nem
da falta de vestes. E então, seremos encontrados dignos dos bens que faltam a
nós mesmos e que pedimos a Deus, pois o costume de dar nos merecerá obtê-los.
Ademais, há mais alegria em dar do que em receber.
É urgente que aos nossos ouvidos soem as palavras de Jesus: vencer
o mal com o bem, e tornar concreto em nosso agir o mandamento do amor fraterno.
Peçamos ao Senhor que encha nossos corações com as graças do Seu
Espírito Santo; com amor, alegria, paz, paciência, bondade e humildade. E nos
ensine a amar os que nos odeiam; a rezar pelos que nos perseguem. E com o Seu
auxílio, renunciar aos prazeres deste mundo e a desejar uma nova terra e novos
céus.
Pai, não permita que a violência tome conta do meu coração; antes,
torna-me capaz de responder, com gestos de amor, a quem me faz o mal.
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